CHEGA: a ludibriar a lei antes mesmo de existir

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Fotografia: João Relvas/Lusa@RTP

Depois de anos ao serviço de um dos dois partidos que manda nisto tudo, sem que se lhe conheça, até à saída estratégica, uma crítica que seja ao caciquismo, as danças de cadeiras entre o público e o privado, aos escândalos de corrupção, tráfico de influências, peculato ou gestão danosa, quando protagonizados pelos seus pares partidários, André Ventura arquitectou um projecto pessoal chamado Chega, com uma agenda que em (quase) tudo se confunde com a da extrema-direita.

Ideologicamente vazio, o Chega vive de moralismos, frases feitas e polémicas, construindo a sua agenda política em torno de casos mediáticos, alguns deles sem expressão no nosso país como a questão dos refugiados, aos quais jura fazer oposição cerrada caso eleja algum representante, algo que dificilmente acontecerá, pese embora os anos que o seu líder, André Ventura, se passeou pelos corredores do PSD, onde pactuou, com o seu silêncio, com tudo o que a política tem de pior.

Contudo, e porque projectos pessoais tendem a acabar assim, o Chega transformou-se na mais recente anedota política nacional, depois de Ventura, que temia ser prejudicado por uma eventual demora do Tribunal Constitucional, à porta do qual prometeu fazer vigília caso o seu partido não fosse viabilizado, ter sido apanhado em irregularidades múltiplas. Depois de semanas de moralismo de fachada, o Constitucional concluiu que parte significativa das assinaturas do Chega eram de menores ou de membros das forças policiais, que não são elegíveis para o efeito. Ou seja, ainda o partido não estava formado, e já estava a tentar ludibriar a lei e as mais elementares regras do jogo político. Se começaram assim, imaginem até onde estarão dispostos a ir.

*****

P.S.: Usar menores para fins políticos pode ser considerado um abuso. Que penas medievais terão os senhores do Chega em mente para aplicar a André Ventura e restantes responsáveis pela constituição do partido?

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Os Bolsonaros começam todos assim. Só falta mesmo para compor o ramalhete, pedir ajuda à IURD. Ainda que no caso presente, os “No Name Boys” possam fazer esse papel.

  2. ZE LOPES says:

    Ou seja: o TC detetou vários menores e (admitido por Ventura) “centenas” de polícias (não se sabendo, com rigor, se há sobreposições, ou seja, quantos menores serão também polícias). Deram então a Ventura dez dias para substituir as assinaturas fardadas.

    A sorte de Ventura é que o Tribunal Constitucional não tem capacidade para detetar quantos dos subscritores têm outras profissões (pixeleiros, cangalheiros, magarefes, etc.) mas são polícias nas horas livres. Esses escaparam, senão o caso complicava-se.

    Tanto quanto se sabe o “Acabemlácomessamerda” (como é conhecido entre os amigos lá das claques) está a postos para fazer campanha com outro partido, este promovido por uma liberaleira encartada, o “Democracia XIXI”. Consta que a coligação se irá chamar “Chega de Democracia XIXI”.

    • António Ferreira says:

      Picheleiro

      • ZE LOPES says:

        Não senhor, é mesmo assim. É uma nova profissão, os produtores de pixels! Nunca viu aí pela web afora a expressão “Este pixeleiro é fiche”? É porque anda desatento.

  3. whale project says:

    O que não falta em Portugal são grunhos que apoiam gente desta. Felizmente há as assinaturas, que obrigam os apoiantes a contar a vidinha quase desde pequeninos, pelo que ninguém quer surgir associado a um Bolsoninho cá do sítio. Se a coisa fosse uma rúbrica, sem identificação de espécie alguma, o homem não tinha tido de ir buscar polícias que sonham com impunidade à brasileira.
    Muita gente se espantou de haver centenas de polícias dispostos a apoiar um grupelho nazi. Não me espantei eu que cresci num bairro em que tinhamos medo de sair à noite, não pela possibiliadde de sermos assaltados mas pela possibilidade de apanhar um bófia “com os cornos virados”. Onde é que vivi? Não, não foi num bairro negro, foi mesmo na Cruz de Pau, onde tinhamos todas as cores, mas a maior parte até eram brancos e de uma brancura bastante aceitável. Não o era para aquelas bestas. Tenha uma boa noite, se conseguir.

    • ZE LOPES says:

      “Se a coisa fosse uma rúbrica, sem identificação de espécie alguma, o homem não tinha tido de ir buscar polícias que sonham com impunidade à brasileira”.

      Pois, mas olhe que não é assim. falo por experiência própria, porque, inclusivamente, em tempos ajudei a recolher assinaturas

      Segundo a lei dos partidos, cito, “O requerimento de inscrição de um partido político é feito por escrito, acompanhado do projeto de estatutos, da declaração de princípios ou programa político e da denominação, sigla e símbolo do partido e inclui, em relação a todos os signatários, o nome completo, o número do bilhete de identidade e o número do cartão de eleitor”.

      Sendo assim, não sei como o Tribunal Constitucional descobriu que os signatários eram polícias. Provavelmente terá acesso a alguma lista. O que não posso acreditar é que haja tanto polícia que não saiba que está impedido por lei de requerer a inscrição e ser militante de um partido político. Aliás, em conjunto com os militares, são os únicos. Mesmo os magistrados (e os diplomatas) apenas estão impedidos de participar em atividades partidárias públicas.

      Mas o facto não deixa de ser significativo. Em França foi dissolvido um sindicato de polícia por estar ao serviço do clã Le Pen e respetivo partido.

  4. Ricardo Almeida says:

    Correndo o risco de chover mais um bocado no alagado, o modelo é mais óbvio a cada dia que passa.
    Quando os americanos “elegeram” um débil mental como o Donald para a Casa Branca (para poder usar este verbo tenho que ignorar toda a interferência Russa e o facto de, mesmo com todas as vantagens e jogadas infelizes dos Democratas, o nabo mesmo assim perdeu o voto popular) o sinal foi recebido pelo resto da comunidade de anormais: afinal qualquer tanso pode ser eleito. Quanto mais cáustico e estúpido melhor até.
    No entanto a realidade foi o melhor teste à capacidade de liderança da extrema direita. A única “qualidade” que reconheço a esta escória é a sua capacidade para identificar pontos fracos no sistema e explorá-los a qualquer custo. Daí que estes parasitas sejam apenas úteis para identificar onde exactamente devemos reforçar o nosso sistema político e eleitoral.
    Trump só foi eleito graças ao Colégio Eleitoral e Bolsonaro tinha um exercito de fake news por trás, assim como a dupla por trás do desastre do Brexit.
    Todos estes trastes têm apenas duas coisas em comum, incluído o Salvini e o Órban: o apoio de Putin e taxas de aprovação historicamente baixas.
    E é isto que acredito possa estar a cortar as pernas ao Ventura. Se ele tivesse feito esta campanha no final de 2015, depois dos seus compinchas Passos e Portas terem saqueado o país enquanto eram alegremente sodomizados pela banca nacional, talvez se tivesse safado. Não acredito que conseguisse chegar a PM mas talvez conseguisse meter um deputado ou dois a envenenar o parlamento com a sua retórica deficiente.
    Na altura havia ódio q.b à classe política para conceber tal cenário.
    Mas hoje? Apesar de imperfeita, a “Gerigonça” provou à muito ter sido a melhor solução política desde o 25 de Abril. Melhor que ter um governo de esquerda é uma coligação de partidos de esquerda com ideologias quase ortogonais que se auto-policiam uns aos outros.
    Depois ainda há o fluxo diário de palhaçadas, blunders e escândalos que chegam dos amigos alt-right do outro lado do oceano, que cimenta cada vez mais a verdade de La Palice: a extrema-direita nem consegue vestir-se sozinha, quanto mais governar um país.
    O pobre Ventura chegou tarde à festa. Ele bem pode conseguir canalizar os votos da minoria de inúteis que pululam qualquer sociedade, incluindo a nossa, mas dificilmente conseguirá enganar o resto da populaça com a falsa ameaça dos imigrantes. Sem mais nada por onde pegar, o Ventura está condenado a passar os dias aos berros na rotunda de onde nunca deveria ter saído.

    • Paulo Marques says:

      Os fenómenos não são todos iguais… por exemplo, o “desastre” do Brexit não é nada perto dos 10 anos de austeridade.

  5. ! “” A única “qualidade” que reconheço a esta escória é a sua capacidade para identificar pontos fracos no sistema e explorá-los a qualquer custo… “”

    ! …”” Apesar de imperfeita, a “Gerigonça” provou à muito ter sido a melhor solução política desde o 25 de Abril. Melhor que ter um governo de esquerda é uma coligação de partidos de esquerda com ideologias quase ortogonais que se auto-policiam uns aos outros.”” !!!!!

    Duas afirmações no certeiramente correcto, Ricardo Almeida !

    ( …só naquele ” à muito” … há muito a corrigir ! ) : ))

  6. JgMenos says:

    Com ou sem Chega a Direita está aí e vai estar no futuro.

    Chega de idiotia esquerdalha!

    • ZE LOPES says:

      Mais uma douta profecia do Grande Mestre Vidente Professor Doutor Menos, Grande Mago, com poderes herdados de Grandes Magos do Senegal, Gabu, A-dos-cunhados e Freixo de Espada à Cinta. Poderosa magia branca, negra e às bolinhas Resolve problemas de impotência, mau-olhado, pé de atleta, afasta e atrai amantes e impostos. Efeito em quatro dias, Pagamentos só no fim do prazo mas com juros de mora. Trabalha à distância por carta, telefone, telemóvel (Conan Osiris foi cliente) internet ou pombo-correio. Adivinha o futuro, o presente e o passado em búzios, borras de café, chá e vinho tinto e restos do almoço.

    • Paulo Marques says:

      Enquanto a esquerda estiver a dormir, será certamente. Mas mesmo assim, eu se fosse ao Cruz perguntava-lhes o que achavam de quem desvia dinheiro ao país; olhando para os discursos lá fora, ia fazendo planos à vidinha.

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