O problema mais importante em Educação é o de se saber se os alunos aprendem. É fundamental que o próprio aluno, antes de todos, saiba se aprendeu. Essa percepção alcança-se através da avaliação, que não é exactamente o mesmo que classificação. Um dos meios que está ao alcance da compreensão é a possibilidade de obrigar o aluno a repetir o ano, aquilo a que a tradição chamou “chumbo”.
Não é obrigatório que seja assim e é verdade que o dito “chumbo” não é garantia de que, no futuro, haja melhoria, embora, verdade seja dita, a diabolização absoluta e pública da reprovação por parte de gente com responsabilidades tem levado, em boa parte, a que muitos estudantes e encarregados de educação só consigam ver a retenção como um castigo inútil, quando poderia ser uma oportunidade de redenção, por assim dizer.
É possível, no entanto, abolir o “chumbo”, desde que sejam criadas condições para um verdadeiro acompanhamento dos alunos com mais dificuldades.
Assim, esta notícia do Correio da Manhã está carregada de hipocrisia, salvando-se, em boa parte, no fim, graças às declarações de Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). Mais vale começar, portanto, por transcrever aquilo que é sensato, deixando a hipocrisia para depois:
Filinto Lima, Associação Nacional Diretores (Andaep)
“É preciso ter mais recursos”
CM – O programa de Governo anuncia um plano que acaba com os chumbos no ensino básico…
Filinto Lima – Não sei em concreto o que o Governo quer fazer, mas as escolas precisam de mais recursos para baixar o insucesso: mais professores, mais técnicos especializados, mais docentes em coadjuvação. Reduzir as retenções é possível e acabar com elas seria o ideal, um sonho, mas raramente se atinge o ideal.
– As escolas passam também a decidir o número de alunos por turma…
– Deviam atribuir a cada escola um número de turmas e nós comporíamos de acordo com os nossos alunos. Poderia fazer turmas de 30 ou de 15 alunos e ambas funcionariam bem, porque eu é que conheço a minha realidade.
Ainda recentemente, escrevi sobre a importância da autonomia das escolas, sendo que essa seria a verdadeira descentralização, ao contrário da municipalização que está a caminho.
Onde está a hipocrisia, então?
Em primeiro lugar, no título. Na verdade, não são as famílias que aprovam, é a Confederação Nacional de Associações de Pais (CONFAP). Faz tanto sentido como substituir “sindicatos” por “professores”, entre outras generalizações inimigas do rigor.
Em segundo lugar, o Ministério da Educação nunca oferecerá às escolas aquilo que é necessário e que está resumido nas declarações de Filinto Lima. Efectivamente, aquilo que se pretende é criar um facto estatístico – o fim da reprovação. O resto implicaria a concessão de recursos, ao arrepio daquilo que os sucessivos governos estão a fazer desde 2005, com a submissão/abstenção dos sindicatos, dos professores e dos encarregados de educação.
Deixo ligações para alguns textos em que a esta hipocrisia já surge em todo o seu esplendor:
Uma espécie de balanço: vitórias do Ministério, derrotas da Educação
A Educação e os contabilistóides
O que é a “cultura de retenção”?
É o tamanho das escolas e das turmas, estúpidos!
Um “ensino orientado para a vida”
Sucesso escolar, pólvora, fogo, roda
Quantos professores são necessários?
Adiamento criminoso: redução do número de alunos por turma
A CONFAP aprova tudo o que o Governo quiser, dado tratar-se de uma associação que anda a “reboque” do mesmo.
A escola inclusiva só funciona para quem quer e pode ser incluído.
A escolaridade obrigatória é uma falácia.
Varrer para baixo da cama – um Portugal sem Futuro.
Pois!
“Varrer para baixo da cama – um Portugal sem Futuro.”
Tchchch! Tchchch! Desde o tempo de um tal Luís Vaz que não s’enxergava tamanha qualidade poética!
Quanto Mais nos assombrará Menos? Eis a eternal incógnita!
Só mesmo varrer para o Panamá, né?