António Costa brincou com o deputado João Cotrim de Figueiredo. Quem está na trincheira do primeiro, adorou o comentário e cantou uma vitória épica; do outro lado, houve quem se escandalizasse, também por não gostar que se chame a atenção para as contradições dos liberais. António Costa pode ter tido uma vitória tangencial, mas o episódio não passou de uma mera escaramuça parlamentar que não acrescenta nada de essencial. Parece-me, no entanto, que estamos diante de uma oportunidade para discutir se é possível o liberalismo em tempo de paz e estatismo em tempo de guerra, sabendo-se, desde já, que nada é assim tão simples.
Não é a altura para discutir isso, dizem alguns, porque estamos em circunstâncias adversas. Pelo contrário: é fundamental, porque o objectivo é que o mundo continue e que todos saiamos à rua para retomar as nossas vidas. É fundamental pensar que Estado queremos ou se queremos Estado.
O que me parece muitíssimo escandaloso em António Costa, por exemplo, é a afirmação de que não falta nada ao SNS, uma mentira que está a passar pelos pingos mediáticos sem molhar o primeiro-ministro. É verdade que, na trincheira do PS e de muita esquerda, há uma crispação quando se apontam os muitos problemas do SNS, como se isso fosse uma crítica ao conceito. Para mim, ser de esquerda é exactamente criticar o desinvestimento público que enfraquece o Estado em áreas em que tem de ser forte, áreas que não podem estar sujeitas à ditadura do lucro ou à libertinagem dos mercados.
É verdade que, na direita (do Partido Socialista ao Chega), há muita gente entusiasmada, com algumas diferenças de grau, com a privatização de serviços públicos, porque muita dessa gente está ligada a interesses económicos das áreas da Saúde e da Educação, por exemplo. Até com essa gente é preciso discutir, mesmo que, na realidade, não seja essa a sua vontade.
Neste momento, não podemos discutir futebol jornada a jornada, mas a política é mais importante do que nunca, porque o futebol pode não voltar, mas a vida continua e, daqui a pouco, seremos confrontados com uma União (pausa para sorriso amarelo) Europeia que tomará decisões com base nos mesmos pressupostos do idiota que defende que a economia é mais importante do que as pessoas, o que quer dizer que as instituições europeias estarão, como de costume, do lado dos mais fortes e obcecadas com os défices, ignorando, mais uma vez, os efeitos da recessão nos mais fracos, que serão reduzidos a maus pagadores e a gastadores em mulheres e vinho.
As pequenas vitórias ou derrotas das piadolas parlamentares não me interessam, como não me interessam o bairrismo ou o clubismo político, a que ninguém está imune. A política, repito, é muito importante e o fim da História não existe, pelo menos enquanto não chegar, diria La Palice.
Na mouche. O comentário é irrelevante, faz parte e é vazio de conteúdo político. Já cobrar os custos da existência sempre a quem não pode é que é um bocadinho mais grave. E provavelmente até mais letal.
“Na trincheira do PS e de muita esquerda, há uma crispação quando se apontam os muitos problemas do SNS, como se isso fosse uma crítica ao conceito. Para mim, ser de esquerda é exactamente criticar o desinvestimento público que enfraquece o Estado em áreas em que tem de ser forte, que não podem estar sujeitas à ditadura do lucro ou à libertinagem dos mercados.”
Nem mais.
Não vejo, aliás, como qualquer esquerda digna desse nome pode não desprezar o PS e demarcar-se dele o mais possível. Depois das ditaduras comunistas, o PS é a pior coisa que já aconteceu à esquerda.
A direita ao menos diz ao que vem: quer encher mamões. O Partido Sucateiro faz a mesmíssima coisa, de forma mais mafiosa, enquanto se diz de esquerda. É o Centrão Podre mais podre de todos.
Assino por baixo o seu comentário.
O desinvestimento no SNS foi feito com o beneplácito e a conivência do PCP e do BE. Desde que lhes dessem uns “chouricitos” do tipo “causas fracturantes (leia-se – medidas para enganar papalvos e alimentar parangonas na CS caviar), eles aprovavam tudo.
Agora vêm armar-se em virgens ofendidas? Haja paciência, que eu já não tenho para esta esquerda caviar.
Podiam deixar o Coelhinho fazê-los, sempre eram cortes à grande.
Subscrevo a publicação do Nabais.