Embargar a China? Why not?

CH

Não querendo entrar em teorias rebuscadas sobre a origem do novo coronavirus, de natureza conspirativa, parece-me inegável que a China foi desonesta com o resto do mundo, ao ocultar, deliberadamente e durante várias semanas, a gravidade do problema que tinha em mãos.

Vai daí, é meu entendimento que o mundo deve exigir à China compensações financeiras pelo caos que a sua opacidade aprofundou. Vou ainda mais longe: parte significativa do Plano Marshall que a Europa e o mundo vão precisar, quando a crise económica que já se sente ocupar o primeiro plano das nossas preocupações, deve ser assumido por Pequim.

Caso a China decida não colaborar, defendo que deve haver coragem, pelo menos do mundo democrático, em impor sanções pesadas, e, eventualmente, um embargo total. De caminho, e pensando apenas no espaço europeu do qual faço parte, parece-me que estamos perante o momento ideal para um plano ambicioso de reindustrialização da Europa, capaz de, simultaneamente, gerar emprego e acabar com a dependência das importações chinesas. Isto será absolutamente crítico em sectores como o têxtil ou o automóvel, apenas para citar dois exemplos.

Naturalmente, tal intenção enfrentará poderosas forças de bloqueio, não só da própria China, como do sector financeiro e da grandes multinacionais ocidentais, cujos lucros, estratosfericos, dependem dos baixos custos de produção e de matérias-primas que a grande fábrica do totalitarismo chinês lhes proporciona. Mantendo o actual status quo comercial, é praticamente impossível ao Ocidente competir com um regime que explora a mão-de-obra, ignora direitos laborais e não respeita direitos humanos.

Ainda no campo dos interesses do modelo económico ocidental, importa realçar que a China é hoje um dos maiores mercados de consumo a nível mundial e um dos maiores clientes de produtos de luxo produzidos pela Europa e pelos EUA. Um embargo total à China resultaria numa perda significativa de vendas para inúmeras marcas, do sector da moda ao automóvel entre muitos outros. E o capitalismo, que não se deixa abalar por contradições éticas ou morais, dificilmente cederá. É o lucro que importa, não os direitos humanos. Muito menos a democracia.

Assim, encontramo-nos numa encruzilhada. Por um lado, estamos reféns de um regime comunista totalitário, que controla e comanda parte significativa da economia mundial, incluindo empresas estratégicas na Europa e EUA. Por outro, estamos nas mãos de multinacionais e instituições financeiras, que se deitam com qualquer oligarca ou autocrata que lhes pague o preço certo em euros. Ou dólares. Ou yuans. Talvez precisemos de uma revolução. E os ares de Abril costumam ser propícios para derrubar ditaduras. Why not?

Comments

  1. E porque não a Holanda, a Suiça, e outras lavandarias/paraísos fiscais?

  2. Rui Naldinho says:

    “ …
    Segundo o instituto de estatística europeu, em 2019, a UE exportou 198 mil milhões de euros para a China, enquanto da China viajaram mercadorias no valor total de 362 mil milhões de euros, fazendo com que, no ano passado, o déficit comercial ascender a de 164 mil milhões de euros.
    Entre os Estados-Membros, a Holanda foi o maior importador de mercadorias (88 mil milhões de euros) da China e a Alemanha foi o maior exportador de mercadorias (96 mil milhões de euros) para a China em 2019.”

    Eu não acredito que a UE faça um embargo aos produtos chineses. É tudo uma questão de números. Mas para os alemães, que são de facto quem manda na UE.
    A razão explica-se de forma fácil e sem muitos números.
    As exportações da UE para a China segundo o Eurostat, ascenderam a 164 mil milhões de euros, em 2019. Desse número, 96 mil milhões foram exportações da Alemanha para China.
    Olhando bem os números constata-se que só a Alemanha é responsável por 60% das exportações da UE para a China.

    Agora, pergunto:
    Alguma vez a Alemanha aceitaria um embargo, sabendo que de seguida ia perder como retaliação, 96 mil milhões de euros em exportações?
    Não acredito. Aliás, nem mesmo com um número pesado de mortalidade por Covid 19, como por exemplo, os da Itália.

    • Rui Naldinho says:

      Texto de Carlos Matos Gomes

      “ O funeral da globalização e do neoliberaismo às escondidas. A escola de Chicago também podia ser chamada a explicações!
      Como todas as ações de política internacional, é sempre necessário um pretexto para uma ação. A acusação (trata-se de uma acusação implícita de que a China ou é a criadora do vírus ou o difundiu deliberadamente, ou agiu intencionalmente para dele retirar vantagens, sejam económicas sejam de poder) é um pretexto para uma política de recolocação de produção nos países que durante anos deslocalizaram a produção para a Ásia, China em primeiro lugar e que se vêem agora dependente dela mesmo para produtos tão básicos como máscaras e que se sentem ultrapassadas pela China na produção de produtos de alta tecnologia. O vírus é um pretexto para o “Ocidente” não reconhecer os resultados da ganância dos seus empresários e a falta de visão a longo prazo dos seus dirigentes. É o pretexto para não ter que confessar aos “ocidentais”: a globalização neoliberal dos gloriosos anos 80, de Reagan e Tatcher, deu nisto! A nossa imprudência e a nossa incompetência e a dos nossos predecessores deu nisto! Agora Inês é morta e jaz …”

  3. Fernando says:

    O russiagater João Mendes a tentar desresponsabilizar as elites e grandes empresas ocidentais pelas decisões pelas quais são responsáveis.

    A deslocalização da indústria é da responsabilidade de organizações como o FMI, OCDE, União Europeia, dos políticos que assinaram os tratados de “livre-comércio”, e, obviamente, das grandes empresas que exploram o máximo possível o trabalhador seja ele chinês, português ou norte-americano…

    Agora João Mendes já gosta do fascista – e fantoche de Putin – Trump.
    Trump tem feito exactamente o que João Mendes defende, aplicar sanções à China.

    Finalmente João Mendes unido com Trump, quem diria…

    • Paulo Marques says:

      Fazer os americanos pagar mais pela mesma coisa tem sido mesmo uma receita de grande sucesso. Não havendo alternativa, é só mesmo esse o efeito.

  4. JgMenos says:

    «É o lucro que importa, não os direitos humanos. Muito menos a democracia:É o lucro que importa, não os direitos humanos. Muito menos a democracia. interes»

    Que nobreza de carácter! Que elevação moral!
    Que determinação ética!

    No tempo do império soviético, não se ouvia nada disto, os esquerdalhos pareciam capachos moscovitas. Que tempo tão novo!

    PS: vale a pena rever o documentário na RTP no início do dia de hoje – 00,12 – Os carrascos de Estaline Katyn.

    • abaixoapadralhada says:

      Cala-te guarda-livros nazi !

      • JgMenos says:

        Já reparaste, debaixo das fraldas, que nunca disliko as tuas postas?

        Questão de indiferença.

      • abaixoapadralhada says:

        E quem és tu, para alem de um contabilista Salazarento?

    • Chega, Menos! says:

      Ainda não vi aqui ninguém defender o regime soviético, muito menos o estalinismo. Toda a gente sabe o que foi o regime estalinista. No mínimo, Bárbaro. Como toda a gente sabe o que foi o nazismo. E o holocausto. Mas uma coisa não desculpa outra.
      Eu também posso postar aqui um texto, bem mais recente, onde se demonstra que até os norte americanos na Coreia, isto já para não falar no Vietname, fizeram as maiores atrocidades deste mundo.

      https://m.youtube.com/watch?v=l6zjR9Bnn0c&feature=youtu.be

      O mundo está cheio de bárbaros, e, no meio deles, há uns quantos cães de fila, dispostos segui-los em matilha. Eu diria que os JgMenos desta vida, se enquadram bem neste último perfil.

    • POIS! says:

      Pois e não é tudo!

      O João Mendes também nunca denunciou a compra e venda de escravos iniciaada por um tal “Infante”, já para não falar no saque de Lisboa promovido por D. Afonso Henriques. E agora vem falar mal da China, um país tão disciplinado e bem organizado que até faz inveja?

      Francamente! Deixem lá os chineses! Como diria o célebre pensador chinês Antonan Oliveirao Salazaring “Apanhar vírus é dar de comer a mil milhões de chineses”.

  5. Albino manuel says:

    Esse pó era do bom. Olá!

    • Dragartomaspouco says:

      Esse POIS é da etnia que come a sopa depois da comida

      • POIS! says:

        Pois fico um bocado estupefacto!

        Até porque a resposta do Sr. Albino, ou ele é bruxo, ou não era para mim: foi feita mais de uma hora antes do meu comentário.

        Quanto ao conteúdo o que se me suscita dizer é que, em minha casa, a sopa é comida. Pelos vistos na sua não é, talvez porque aí no bairro a água da fossa não seja grande matéria-prima e deixe um cheiro pouco agradável. Lamento por si, mas não sei o que é que isto tem a ver com etnias.

        • Dragartomaspouco says:

          A fossa é para onde corre a merda que vem do Norte

          • POIS! says:

            Pois tá bem!

            Mas… vai aí ter ao bairro, é? Pronto! Mas têm de fazer um esforço, tentar ir mais longe ver de uma torneira. Continuar a fazer sopa com aquilo é que é perigoso….

            (Ah! E está fortemente enganado! Não estou onde imagina, nem nunca estive! Por isso não me peça contas dos seus problemas inexistenciais… )

  6. Manuel Pacheco says:

    Há movimentos para que a China seja isolada e castigada por causa do Coronavírus:

    Este movimento tem o carimbo do Presidente dos Estados Unidos da América, o “troca tintas” Ronald Trump. Mas se fizermos um ponto da situação vemos que tudo isto é geopolítico.

    Trump está a descer na popularidade e tudo faz para culpar tudo e todos. Até os Governadores do seu Estado não os poupa.

    Quando assim é. O que faz com quem o critica. É com a China! Com a Organização Mundial de Saúde! A esta retirou-lhe os donativos.

    Num momento em que todas as Nações devem estar unidas Trump demonstra o democrata que é.

    Ao contrário a China pôs-se ao dispor de todo o Mundo. Seja na distribuição de material para combater o Coronavírus seja na ajuda a certas Nações, por exemplo a Itália, de pessoal médico e de enfermagem.

    Julgo que deve ser difícil a Trump conseguir um bloqueio da Europa com a China. Entendo que a haver bloqueio era com os Estados Unidos da América.

    Por mim estou farto de trunspismo.

    • Paulo Marques says:

      Qual geopolítico, é eleitoralista, daí dizer e desdizer de um parágrafo para o outro – o habitual desde a campanha, de resto.
      Para ser geopolítico, tinhamos que ter o partido que dizer que o estado não tem poder a usar o estado a financiar a mudança – boa sorte com isso.

    • Pedro Vaz (Nacionalista) says:

      Não tem nada a ver com Trump carneiro. Trump já tem uma arma apontada á cabeça e faz o que os Sionista lhe dizem. Esqueces-te que foi o Santo Obama que iniciou a famosa “Pivot to Asia” que era uma palavra bonita para conter a China (lêr o meu comentário anterior). O Trump De Campanha queria apenas uma revisão dos acordos de comércio “livre” e mais nada, o Trump Com a Pistola Sionista Apontada á Cabeça quer a contenção agressiva da China porque os Sionistas começam a olhar para a China como o “Monstro Frankenstein” que eles criaram (de novo lê o meu comentário anterior para aprenderes alguma coisa).

      PS – A China é Nacionalista-Racialista acima de tudo e isso é uma das coisas que os Sionistas não gostam.

  7. Filipe Bastos says:

    Bom post, mas o Rui Naldinho já explicou o essencial do tema. É por isso que não se boicota a China. Mama e ganância.

    Por isso e pelo egoísmo de nós todos – ou quase todos – que continuamos a comprar todas as farpelas e bugigangas que os mamões nos impingem, todas feitas por tuta e meia por semi-escravos na China, Vietname, Bangladesh e afins.

    Todos sabemos de onde vêm, e que é por comprar de lá que se perdem empregos cá. Mas a carneirada compra na mesma. Porque tem de ter os últimos ténis ou iphone ou ou porcaria do IKEA.

    O consumidor moderno, esse animal irracional, só está bem a consumir e quer tudo baratinho. Logo, quer que tudo continue como está: semi-escravos a fazer-lhe as farpelas e gadgets; e os mamões a vender-lhos, nos Colombos e Amazons da vida, enquanto abicham lucros obscenos.

    Mas para si quer um bom emprego, com um bom salário e todos os direitos. Quer o melhor dos dois mundos. Quer milagres.

  8. Miguel says:

    Desde que o autor esteja disposto a fechar Wortens, FNACs, hospitais e afins, pagar 4 vezes mais por tudo o que é acessórios e mandar para a rua todos os seus conterrâneos que dessa importação dependem, acho muito bem. É que não sei se o autor reparou, mas quase metade do que consome é feito na China. E não, não se pode fazer isso na Europa rapidamente. As cadeias de produção eficazes demoram anos a construir…

  9. Pedro Vaz (Nacionalista) says:

    Mas é que não tenham duvidas que o João Mendes” é “Internet Troll” da Open Society do Soros…não…tenham…dúvidas.

    Ao principio disse-o na brincadeira, depois começei a desconfiar…mas com este artigo veio a certeza.

    Sabem, é que os Sionistas-Globalistas levantaram a China com transferências de técnologia, fábricas e acordos de comércio “livre” com a certeza que a China ficaria tão dependente do Ocidente que seria obediente. Mas este plano não tinha em mente que a Rússia se iria levantar novemente e que o “guarda chuva de segurança estratégica” que a Rússia dá a China permitiria á China minimizar a dependência no Ocidente…os Sionistas-Globalistas começam a olhar para a China como o “Monstro Frankenstein” que eles criaram daí a recente onda de propaganda anti-China que vem tanto da (pseudo) direita como da neo-esquerda.

    Repito: O João Mendes é “Internet Troll” do cabrão Sionista-Globalista George Soros que não existam duvidas.

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