Vai defender, vai defender. Esta não passa. Viste? Eu disse-te, pá!
Sou capaz de já ter dito isto umas milhares de vezes na bancada atrás da baliza no nosso pavilhão. Por vezes, com dezenas de pessoas à volta. Outras vezes, com meia dúzia. E algumas, até sozinho. Numa tarde de sábado às 18h ou numa noite de quarta-feira às 21h, pouco importava. E depois desta espécie de adivinhação, tu correspondias e as colunas do Dragão gritavam QUINTANA! E se o momento fosse digno de tal, lá te viravas para a bancada para festejar como se um golo fosse.
Vou regulamente às modalidades desde 2014, desde os meus 14 anos. Desde sempre vi o Quintana entre os postes. Era um exemplo de profissionalismo, mas também de portismo. A entrega a cada lance fazia com que cada um de nós o idolatrasse. Era muito mais do que um guarda-redes, era muito mais do que um atleta de andebol, era a personificação daquilo que acreditamos de uma forma religiosa que é a mística do Futebol Clube do Porto. No fundo, todos nós achamos que o nosso é melhor do que os outros. E todos nós gostamos de ter um Quintana. E todos nós gostamos de ter rivais como o Quintana. Todos nós gostamos de pessoas leais, mesmo que essa lealdade não seja dedicada a nós.
Por vezes, nos meus momentos mais vazios, penso se não perdi muito tempo a ir ao pavilhão, para jogos que acabavam com diferenças de 20 golos. Hoje, penso no que perdi ao não ir ver alguns desses jogos.
Ontem, a vida pregou-te esta partida. Sempre te distinguiste pelos teus bons valores. Agora, é a nossa vez de honrar o teu bom nome.
Lamento que uma família tão bonita tenha ficado sem o seu número 1. Sem aquele que todos nós temos como um verdadeiro gajo porreiro que emana felicidade por onde passa.
Obrigado, Alfredo Quintana.
“Por vezes, nos meus momentos mais vazios, penso se não perdi muito tempo a ir ao pavilhão… Hoje, penso no que perdi ao não ir ver alguns desses jogos.”
A resposta, Francisco: perdeu mais umas horas de comunhão e catarse colectiva, de identificação parola com uma entidade que se está nas tintas para si e todos que a idolatram.
Perdeu mais uns momentos de satisfação pelo esforço de outrém, pela glória de outrém, pela fama, regalias e remuneração obscena (mais no futebol que no andebol) de outrém.
Perdeu, enfim, a oportunidade de trocar aquilo que fez ou que podia ter feito – ler, escrever, reflectir, namorar, estudar, viajar – por mais uns vivas, uns ‘vai defender!’ e uns ‘ganhámos!’, urros vazios desta era de adeptos e espectadores, carneiros sempre deslumbrados, fiéis consumidores de jogadores e celebridades que jamais conhecerão – mas que choram como se fossem amigos.
As minhas condolências pela sua perda.
É esta magia que torna tudo difícil de explicar. Obrigado.