Notas sobre as presidenciais 8: The António Costa & André Ventura connection

António Costa não é um político qualquer. E não anda nisto há dois dias. Sempre que me deparo com escritos que tratam António Costa como um acéfalo parido por uma juventude partidária, desprovido de inteligência, fico perplexo com a ignorância. A verdade é que António Costa começou na JS, e bem cedo, num tempo diferente deste, e até andou a colar cartazes pelas ruas de Lisboa. Contudo, como em qualquer juventude partidária, existe sempre aquela pequena minoria que se destaca dos condenados a uma existência de peão-carne para canhão. António Costa foi um deles.

Depois da formação na jota, no período pós-revolucionário, Costa teve uma ascensão meteórica. Aos 22 estava na Assembleia Municipal de Lisboa. Aos 30 no Parlamento. Aos 32 foi escolhido pelo PS para encabeçar a candidatura autárquica do partido por Loures, que perdeu, mas não sem antes deixar a sua marca na história com a célebre corrida entre um burro e um Ferrari, ganha pelo burro. Ficou como vereador, cargo que acumulou com o de deputado. Aos 34 foi director da campanha de Jorge Sampaio às presidenciais, na qual o socialista derrotou Cavaco Silva. No mesmo ano foi convidado por Guterres para assumir a Secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares, pasta que permite, como poucas, conhecer e dominar todas as manobras na Assembleia da República. Aos 36, foi promovido a Ministro dos Assuntos Parlamentares e encarregue de coordenar o dossier Expo98. Aos 38, no segundo governo Guterres, assume o Ministério da Justiça. Aos 41, após a demissão de Guterres, regressa ao Parlamento para assumir a liderança da bancada socialista. Aos 43, ruma a Bruxelas, onde, durante um ano, acumula a função com a de vice-presidente do Parlamento Europeu. Aos 44, regressa a Portugal para ajudar Sócrates a conquistar a primeira maioria absoluta do PS, assumindo, no mesmo ano, a função de Ministro de Estado e da Administração Interna. Aos 46, abandona o governo, antes de Portugal conhecer o verdadeiro José Sócrates, para se candidatar às Intercalares de 2007 em Lisboa, corrida que vence e que revalida duas vezes, em 2009 e 2013, abandonando o cargo em 2015 para assaltar a liderança de António José Seguro, e, posteriormente, construir a histórica Geringonça, que o colocou à frente do país desde então, com sondagens constantes a garantir a sua reeleição se o país for a votos amanhã. [Read more…]

Resistir à vacina

Sou uma das pessoas mais importantes do mundo. Pode haver algumas mais importantes, dentro da minha família. Tenho amigos, todos eles importantes, mas nenhum é tão importante como eu. Tenho amigos maravilhosos, mas sou muito mais importante do que qualquer um deles, mesmo aqueles que são os melhores amigos. As dores que sinto, quando, por exemplo, bato com um cotovelo numa esquina são infinitamente maiores do que as de uma fractura exposta de qualquer outra pessoa. Há pessoas que se magoam a menos de um metro de mim, sem que eu sinta a mais pequena dor. Peço desculpa, mas é assim mesmo.

Isto quer dizer que também eu quereria ser vacinado antes da larga maioria da população, incluindo uma enorme quantidade de velhos, de enfermeiros, de médicos, de bombeiros, de gente que, em geral, estará mais exposta do que eu ao vírus. E por que razão quereria eu ser vacinado antes de toda essa gente? Porque sou uma das pessoas mais importantes do mundo, como é evidente.

Não tenho conhecidos em lugares suficientemente importantes para conseguir ser vacinado antes dos milhões de pessoas muito menos importantes do que eu, porque como eu não há ninguém.

Se tivesse essa possibilidade, mesmo sabendo que ninguém iria saber, aceitaria ser vacinado? Se um amigo chegasse a minha casa com a vacina na mão, seria eu capaz de resistir a essa oferta? Não sei, gosto de acreditar que sim, mas gostaria de deixar claro que se eu, devido a algum privilégio ou outra circunstância favorável, fosse vacinado antes da minha vez, passaria a fazer parte da nojenta e viscosa categoria dos filhos da puta, tal como foram magistralmente definidos por Alberto Pimenta.