Já saudades de Merkel

Friedrich Merz conseguiu à terceira tentativa tornar-se o novo chefe da União Democrata Cristã (CDU). Felizmente este partido alemão está agora na oposição e esperemos que por lá se mantenha a longo prazo. Merkel estava a léguas das minhas convicções políticas, mas sempre admirei a sua modéstia, sentido do dever, sensatez, inteligência e desapego a bens materiais e honrarias.

Já este advogado de negócios e lobista topo de gama de longa data tem assumido posições de liderança num número considerável de empresas, grupos de interesse e redes de negócios. É considerado um especialista financeiro e económico com valiosos contactos na política e nos negócios. Merz foi, por exemplo, vice-presidente da associação de lobbying empresarial da CDU Wirtschaftsrat até ao final de 2021 e membro convidado da presidência da Mittelstands- und Wirtschaftsunion.

Mas a sua função mais aparatosa foi a de Presidente do Conselho Fiscal da Black Rock Alemanha (que exerceu de 2016 a 03/2020), a megagigantesca gestora de fundos que detém mais poder do que muitos governos juntos; o CEO da BlackRock dispõe de mais dinheiro do que o PIB da Alemanha e do Reino Unido somados.  (“Só o tamanho da BlackRock cria um poder nos mercados que nenhum Estado pode controlar” – Michael Theurer, eurodeputado alemão do partido liberal FDP).

Merz criticou as “teses vertiginosas” dos activistas Fridays-for-Future, chamou “doente” a Greta Thunberg e adverte que uma protecção climática mais forte é uma ameaça contra o “modo de vida liberal” e a “ordem do mercado livre”.  Alerta também contra “proibições, paternalismo e regulamentos estatais” e um fim precoce dos motores de combustão. Tem visões anacrónicas sobre homossexualidade e violação no casamento, declarou ser milionário, é piloto amador e proprietário de um pequeno avião…

Valha-nos ao menos que este lobista encapuçado de rabo de fora não vai poder mandar e dispor como bem desejaria para aumentar a desigualdade e escancarar ainda mais a porta ao poderio financeiro.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Não lhe auguro muita sorte, ao novo líder da CDU.
    Mas deixe-me que lhe diga, Ana. Entre os ziguezagues da social democracia alemã, com o senhor Gerhard Schröder a ir parar à Gazpron, não sei se a Senhora Merkel apesar de tudo não mostrou ao longo do tempo, mais coerência.
    É verdade que tivemos duas ou três coligações entre a CDU e o SPD nos últimos dezasseis anos, mas os socialistas do nosso tempo são uma cambada de néscios. Ou será mais oportunistas?
    Já a CDU sabe ao que vai. Só engana quem quer ser enganado.
    A mim não me custa aturar os meus adversários. Alguns até são meus familiares e colegas de profissão.
    A mim custa-me a engolir o Chico Esperto e o vendedor de promessas.

  2. Joana Quelhas says:

    A Aninhas na sua “luta” pela igualdade ou seja na sua “luta” pelo controlo do cidadão por parte do Estado já descobriu o seu novo inimigo.
    A Aninhas q como tenho já dito é uma rapariga informada, não podemos esquecer q ela estudou ( área das “Humanidades” ), já decidiu que Friedrich Merz vai ser mau( o que mais se pode esperar de um liberal católico e anti-comunista tudo ao contrario da adorada Merkel?).
    Aninhas que defende a igualdade , e para isso qual é a solução q vislumbra ?
    Um Estado super forte que imponha a dita benigna igualdade. Não consegue ver que a sua sedenta vontade de igualdade esta a gerar a maior desigualdade ao promover um Estado mais forte que tudo ou seja a maior desigualdade que é possível.

    O Estado é uma ficção jurídica que é materializada por pessoas . Essas pessoas concretas dentro do Estado e munidas com os super poderes do Estado, para a Aninhas, não representam desigualdade !

    Ela acredita que isso é “igualdade”.

    Mas Aninhas vai mais longe na sua análise da “desigualdade”, pena é que deixe a lógica de fora, coisa que lá nas Humanidades não se liga muito.

    Ora vejamos: a Aninhas acha que o Estado é demasiado fraco face a estes poderes económicos, mas parece acusar o referido individuo de Lobbing.
    Ela não se dá conta do seu ilógico e tortuoso pensamento. Ou seja por um lado a Aninhas é contra os “grandes fundos” e por outro lado acha o Estado demasiado fraco para os “combater” ( seja lá o que isso fôr na cabeça da Aninhas) e por outro lado acusa o individuo de estar “feito” com o Estado (Lobbing) .

    A Aninhas nunca reparou que as maiores repressões ( desigualdade) sempre vieram do Estado.

    A Aninhas nunca reparou que um governo super-forte, que tudo pode, se junta aos mais fortes para subjugar os indivíduos.

    Mas a Aninhas quer um Estado Omnipotente que garanta …. A Igualdade …

    Joana Q.

    • POIS! says:

      Pois pois, ó Quelhas!

      Muito eloquente, não haja dúvidas!

      Talvez se lhe faltasse a comidinha no prato durante, digamos, umas 24 horas (para não ser mauzinho…) e tivesse de dormir numa “pensão” rasca (para não continuar a ser…) tanta eloquência não lhe fosse possível.

      Não e a estou a ver, nesses preparos, a discutir “ficções jurídicas”. Até arrisco a dizer que, nessas alturas, desjaria mais que fosse muito menos que apenas ficção e que fosse muito mais que apenas jurídica.

      Teríamos de compreender. São coisas da vida!

    • Paulo Marques says:

      Não, a igualdade surgirá quando as empresas pagarem novamente na sua própria moeda e cobrarem rendas maiores do que o ordenado. Correu tão bem.

  3. João Paz says:

    A Quelhas pelo seu oportunismo e demência ( a sua DOC deu nisto) consegue superar de longe o tal de JMenos.

  4. Filipe Bastos says:

    A função da Joaninha é claramente a de troll / caricatura direitalha, mas levanta pontos de interesse: será a igualdade sempre boa? E se o Estado tudo controla, quem controla o Estado?

    A igualdade é sempre boa. Não a igualdade absoluta, que é de resto impossível, mas uma igualdade razoável entre as pessoas. Ninguém pode (ou merece) ter tanto mais que ninguém.

    O Estado actual é um mal necessário, o garante da civilização. Sem ele temos a Somália ou pior. O problema do Estado é não ser realmente ‘todos nós’. O nosso Estado é a corja que o gere.

    As Joaninhas e Jgs de direita não entendem ou não querem entender isto; mas muitos esquerdinhas caviar também não.

    Não será o caso da Ana Moreno, mas é o de muitos por aqui: querem à força manter o status quo; querem um mundo mais justo, mas só um bocadinho. São quase tão egoístas como as Joaninhas.


  5. E assim se consuma a fusão entre os maiores poderes corporativos e os maiores poderes governamentais. Agora parece que já é tudo a mesma coisa. E ainda querem que a gente vote nessa marmelada…. Vái lá, vai…..

  6. POIS! says:

    Não havia necessidade!

    Um homem com um currículo tão brilhante, que subiu a pulso, vindo da sociedade civil, da realidade empresarial, de fora da política, que traz para dentro da política ideias novas que recolheu lá fora da política…

    E a Ana Moreno resolve descobrir-lhe a careca!

    Enfim, estou com’ó outro: Merz quer dar uma imagem de homem vertical, com um espírito reto?

    Está na hora de o mandar dar uma curva!