A sexão, a secção, a seção e a sessão

Columbo. I’m trying to reconstruct that note.
Galesko. You need any help with your spelling, lieutenant?
Columbo: Negative Reaction

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É sabido que é curta a distância entre a *seção e a *interseção e, mais lá para a frente, entre a *interseção e a *intercessão. Sabe-se igualmente, como já nos lembrou Nabais, que a sessão é contínua. Em tempo de eleições (e eis uma bela imagem enviada pelo excelente leitor do costume),

também temos *sessões em vez de *seções, por haver *seções em vez de secções. Como já escrevi, mal por mal, prefira-se sexões, devido à vantagem do elemento [k]. Enfim. Continuação de uma óptima semana.

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CARTA ABERTA AO VENTURA (de um subsídio-dependente)

Ventura, tu não sabes quem eu sou mas como tens falado tanto de mim e de tantos outros sem sequer nos conheceres, tomei a iniciativa de te escrever esta carta. Por mim e por todos os que por certo se vão rever nela. Tu és o interlocutor em nome dos demais demagogos, mas esta diatribe serve para todos os teus semelhantes, mais ou menos violentos, mais ou menos saudosistas, mais ou menos enganados.

Antes de tudo gostava de te explicar que desconheces o que supostamente dizes combater quando falas de pessoas que vivem de subsídios, sejam elas pensionistas, desempregadas, refugiadas ou sobreviventes, pouco te importa porque o teu lucro reside também nessa estúpida generalização. Repara, deves começar por saber que a generalidade dos subsidiários são subsidiários porque são contribuintes, alguns deles de verbas significativas que foram deduzidas dos salários, além dos impostos ao consumo. Já sei que queres cobrar o mesmo de imposto sobre o rendimento a quem recebe o salário mínimo e ao Rendeiro, ao Sócrates, ao Espírito Santo e a ti próprio, pois claro, que isto quando toca ao nosso interesse somos todos o quarto pastorinho de Fátima. Mas convenhamos, devias procurar saber, até porque já fizeste disso biscate, que os contribuintes, seja quando pagam, seja quando recebem parte do que pagaram, não são subsidiários por geração espontânea, são subsidiários porque foram contribuintes. Tu que foste do sistema toda a vida, sempre mais beneficiário do que contribuinte, és o expoente do que criticas, sem te dares conta do jogo de espelhos. Se não for demais para o quadrado que carregas sobre os ombros, espaço onde nem um esfarrapado democrata-cristão a cavalo foi capaz de encontrar uma ideia, trava lá esse ódio, não vá o ódio que tanto divulgas acabar a conspirar com violência contra ti próprio. Atenta também outros detalhes, não tão importantes mas também relevantes: sabes quantos pensionistas, desempregados, refugiados e sobreviventes fizeram a diferença? Sabes quantos contribuíram para vários anos de subsídios dedicados ao teu salário? Sabes quantos foram agraciados? Sabes quantos salvaram vidas? Sabes quantos fizeram história? Não sabes, que tu és esperto como os ratos mas, felizmente, pouco estudioso e tão frágil da masculinidade como da inteligência.

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Cristãos-caviar

Adoro o termo esquerda-caviar, essencialmente por dois motivos: porque 1) impede pessoas de esquerda como eu de usar iPhone, o que é perfeito, porque não conto dar um cêntimo que seja à Apple (e porque demonstra taxativamente a natureza autoritária dos proponentes desta chalupice), e 2) porque demonstra o nível de ignorância de quem acha que ser de esquerda implica não possuir bens materiais, algo que me diverte.

Por outro lado, o termo cristão-caviar, aqui proposto pelo genial Duvivier, está mal explorado e é, de longe, uma contradição infinitamente maior que a do gajo de esquerda que tem um iPhone. Religião por religião, o marxismo lá acaba por ser mais honesto. Pobre Jesus, que deve andar às voltas no túmulo à quase 2000 anos, com tanto cristão-caviar a subverter os seus ensinamentos.

Mais um dia no escritório