
“Para muitos (Ucranianos) hoje não é um dia bom. Para muitos (Ucranianos) hoje pode ser o seu último dia”.
Volodymyr Zelensky, 2022.03.01
Este não é um conflito “normal”. Este não é um conflito “tradicional”. Este não é um conflito onde a razão se perde em labirintos de factos. Este não é um conflito onde a ideologia ou as construções doutrinárias rebuscadas podem determinar o nosso lado. Há um agressor e há um agredido. Há um ditador sanguinário e psicopata e um Povo inteiro que sofre, que resiste, que morre. Há um País (pelo menos o seu governo) que injustificadamente (não, não há qualquer justificação lógica ou plausível que sustente a invasão) entra num território estrangeiro, destrói e mata em crescendo e uma Nação que tenta sobreviver. Uma Nação que recusa a sua extinção. A extinção que outros decretaram.
Não, não pode haver neutralidade. A nossa posição não pode depender da nossa perspectiva política. A nossa posição não pode depender dos nossos compromissos ideológicos. A nossa posição tem de depender essencialmente e desde logo do nosso sentido de humanidade. A nossa posição tem de depender do facto de sermos humanos e por causa disso, capazes de empatia e de distinguir entre o bem e o mal. Um bem e um mal tão, mas tão básicos que poucas vezes na História do Mundo foram tão fáceis de distinguir.
Ser neutral neste momento (já nem relevo os que estão dementemente do lado errado da história) implica quase obrigatoriamente uma disfunção qualquer. Uma anomalia qualquer. Não é uma questão de unanismo. É uma questão de unanimidade. Lógica, natural e identitária. Porque a balança entre um lado e o outro está absolutamente desiquilibrada. Porque há um Povo que nada fez e que precisa (muito mesmo) de nós. Porque falhar-lhes era condenar-nos a viver para sempre com a culpa disso mesmo: de termos falhado.
Por isso afirmo sem qualquer escrúpulo: a neutralidade neste momento traduz, sem apelo nem agravo, um desarranjo perto da psicopatia (procurem a definição). Quem neste momento prefere distinguir-se pelo descomprimisso, optando pela indiferença, pela construção rebuscada de justificativas ou pela simplória petulância de apenas querer ser “especial”, define-se não por qualquer excelência de carácter, mas pelas manifestas lacunas na própria afirmação pessoal.
Até os meros apelos à paz desprovidos de qualquer outro considerando, são falaciosos. Não pelo apelo em si porque não há ninguém mentalmente são que não compartilhe essa esperanca, mas porque o apelo isolado implica sub-repticiamente uma equivalência, uma igualdade de razões, a não distinção entre as partes em guerra. E é ou devia ser absolutamente impossível não fazer essa avaliação diferenciadora.
E sim, sinto-me mal, sinto-me culpado, sinto-me frustrado por pouco fazer quando sei ou imagino a avassaladora dor que o Povo Ucraniano está a ser, inadmissivelmente, obrigado a suportar.
Slava Ukraini!
Слава Україні!
Sente culpado? Faz bem. As vontades do capital traz destas coisas por todo o mundo, e o esconder a cabeça na areia do liberalismo mata.
um ditador sanguinário e psicopata
Isto é um exemplo concreto de como, em situações de guerra, se abandona completamente a racionalidade e se desata a desumanizar o adversário.
Putin pode talvez ser classificado como “ditador”. Psicopata e sanguinário não é, certamente.
Pois eu até nem sou neutro, embora pareça. Mas estou disposto a abandonar a minha criminosa ambiguidade…
Se me prometerem que apoiam a entrada dos EUA no conflito, bombardeando em larga escala as infraestruturas da Rússia e entrando depois por ali a dentro para prender o Putin.
Se já resultou uma vez, resulta duas! E não há duas sem três!
Afinal, aqui não é preciso inventar, nem sequer chamar o Dr. Barroso para confirmar: há lá mesmo armas de destruição massiva.
E, quando voltassem, podiam até aproveitar para se bombardearem a eles mesmos e estava o caso definitivamente resolvido.
Sim, porque se o “bloqueio” à Rússia for tão eficaz como o de Cuba…