Branco, Agostinho e Companhia Limitada – Os Generais que nos envergonham

Confiemos nos generais russos, já que não podemos confiar nos nossos. Ou, melhor, em alguns dos nossos generais, felizmente na reforma, que, nos últimos dias, têm manchado a farda que usam com intervenções que mais fazem parecê-los filhos de Putin ou adidos militares da embaixada russa em Lisboa, não oficiais-generais de um exército português e da NATO. A 11 de Fevereiro, dias antes da violação da Ucrânia, entrevistado pelo Jornal de Negócios, o general Carlos Branco sossegava o mundo contra os avisos de Joe Biden: “Os russos não estão interessados em invadir a Ucrânia. Só o farão in extremis.” Viu-se. Adiantava também que era melhor a Europa não se imiscuir na guerra, pois esta iria ser péssima para nós, que iríamos ficaria para trás em diversos campos, “em particular na nanotecnologia”. Depois, no Diário de Notícias, afirmou que “os russos pretendem apoderar-se da Ucrânia intacta. Com o menor dano possível”. Está a ver-se: à hora em que escrevemos, há já dois milhões de refugiados, com expectativas de quatro milhões. “O menor dano possível”, segundo o general Branco.

O texto é do historiador António Araújo. No Diário de Notícias. Está tudo dito.

Comments

  1. POIS! says:

    Pois é!

    Eu, por acaso…

    Sempre disse que o Arouca, já que tinha gasto dinheiro para vir à Luz, não iria querer sair de mãos a abanar!

    Sempre disse, o meu erro foi, por modéstia, ter verbalizado muito baixinho.

    O Envangelista ainda tentou enganar a malta a dizer que o que queria era “jogar o jogo pelo jogo”, não estava á espera de trazer nada, mas a mim nunca me enganou!

    Agora há parvos a gritar “escândalo!”, “surpresa!”. Que cambada!

  2. Rui Naldinho says:

    A opinião do historiador António Araújo, que leio com interesse no Expresso, não é por isso mais válida do que a dos 3 Generais, os quais, se bem ouvi nas televisões, apenas se limitaram a ir buscar as causas remotas desta guerra. Mais, limitaram-se a demonstrar como foi um erro o alargamento da NATO a Ocidente. Talvez isso custe nos custe a aceitar mas é a realidade.
    Acresce que a opinião de António Araújo é apenas a sua visão dos factos. Não pode nunca ser prevalecente em relação, por exemplo, a outros historiadores portugueses, como Pacheco Pereira, Irene Flunser Pimentel, Fernando Rosas, ou até mesmo Rui Tavares, isto para não citar mais alguns.

    Há opiniões para todos os gostos:

    Robert Gates, secretário de Defesa dos EUA nos governos de George W. Bush e Barack Obama. Na sua autobiografia “Memoirs of a Secretary at War”, de 2015, afirmou que a expansão tão rápida da aliança militar ocidental é um erro. “Tentar trazer a Geórgia e a Ucrânia para a NATO foi verdadeiramente uma provocação exagerada.” Gates afirmou que os EUA e a Europa não se deram conta do grau de humilhação de Moscovo, diante do fim da União Soviética. Comparou o episódio à queda do império czarista, em 1917. Diante desse fato, o Ocidente reagiu com arrogância ante Moscovo. Isso teria causado ressentimento e amargor. A expansão da NATO acentuou esse sentimento. “As raízes do Império Russo remontam a Kiev do século IX. Então, isso [tentar trazer a Ucrânia e a Geórgia para a Otan] foi uma provocação especialmente colossal. Estavam os europeus, além dos norte-americanos, dispostos a enviar seus filhos e filhas para defender a Ucrânia e a Geórgia? Dificilmente”, escreveu Roberto Gates.

    Enfim, podia colocar aqui mais de uma dezena de opiniões de perigosos “esquerdistas norte americanos, ingleses e australianos”, todos eles antigos governantes, sobre o alargamento da OTAN, que esta discussão nunca mais acabava.

    A nossa sorte é não vivermos todos nós o tempo suficiente para que as nossas próprias contradições na análise destes eventos trágicos, ainda bem que só ocorrem de tempos a tempos, para cairmos na esparrela de numa situação inversa, darmos o dito por não dito sobre o nosso próprio juízo de opinião.

  3. Rui Naldinho says:

    Correção:
    … Mais, limitaram-se a demonstrar como foi um erro o alargamento da NATO a Leste.

    • JgMenos says:

      O ‘erro’ tem dois fundamentos:
      1) os países que pediram a adesão à NATO não têm palavra no assunto.
      2) A não adesão desses países não propiciaria o avanço do imperialismo soviético
      Nota: a Suécia e a Finlândia nunca fizeram parte do bloco soviético, tendo esta última tido que lutar para o evitar).

      a contrario – não aceitar a Ucrânia na Nato levou a Rússia a invadi-la.

      • Paulo Marques says:

        O contabilista sabe mais que os estrategas da guerra fria; uh huh.
        Porque odeias a NATO, Menos?

      • POIS! says:

        Pois, se não entenderam, devem ler urgentemente o “best-seller” “Menos, General Russo”.

        Podem optar pelo “pack especial” que traz como brindes uma garrafa de “Vodka Sacavém” e uma lata de ovas de intrujão (postas pelo próprio).

  4. JgMenos says:

    Um militar tem por ofício cumprir os objectivos que lhe são propostos.
    Se a ordem é invadir, invocam os factores que favorecem a missão.
    Se a ordem é defender, invocarão os factores adversos à invasão.

    Se os querem ouvir como militares têm que lhes propôr uma das opções.

    • POIS! says:

      Ora pois!

      O melhor era mesmo mandar uns para Moscovo e outros para Kiev. Para dar mais realismo à coisa.

      Porque como já dizia Napoleão: “Ci c’est pour y aller, allons-y; si c’est pour rester, on reste. Si l’ordre est d’envahir, nous envahissons, si l’ordre est de défendre, nous défendons”.

      Mas não ficou por aqui! Com a sua voz de trovão, proclamou entre tiros de canhão:

      “Ou bien que nous sommes de notre côté, ou bien que nous sommes de l’autre côté. Notre coté son les bons, l’autre coté, sont les mauvais. C’est baguette, baguette, fromage, fromage!”.

      Colossal!

    • Paulo Marques says:

      Mais uma razão pelo qual estão calados até à reserva, mas também porque depois dizem o que lhes apetece.