As clientelas de António Costa

Espanha, Itália, Grécia, Roménia, UK e Bélgica foram alguns dos nossos parceiros europeus a anunciar a implementação de windfall taxes sobre os lucros extraordinários das energéticas, decorrentes da actual escalada de preços que resultou da invasão da Ucrânia. A Hungria foi mais longe e visou ainda as instituições financeiras. Da esquerda à extrema-direita, vários são os governos que estão a aplicar este imposto, o que nos diz tudo o que precisamos de saber sobre a inexistência de um critério ideológico na sua aplicação.

Em Portugal, a história é outra. O “socialista” Costa deixou cair esta possibilidade, vá-se lá saber porquê. Num país onde as micro e pequenas empresas são literalmente sufocadas por taxas e taxinhas, os donos dos conselhos de administração que acolhem políticos reformados do Bloco Central continuam confortavelmente instalados na sua bolha de privilégio. Porque a porta rotativa não pode parar de girar. Vantagens de governar com maioria absoluta.

Mas não se preocupem e ide mas é desenhar o arco-íris do “vai ficar tudo bem”. E podem sempre tentar comprar meio bilhete para Coldplay na candonga, com os 125€ que o Costa ofereceu ontem à malta. Ou será “devolveu”? Não interessa. Que se foda tudo que esta semana há Liga dos Campeões.

Comments

  1. João L Maio says:

    O Cotrim diz que “as clientelas” do PS são “as pessoas”. Deve estar a falar de outro PS, o nosso não é de certeza.

    • Lembram-se de uma página “Kim Jong Il looking at things”? Podia fazer-se uma parecida com o Cotrim a dizer coisas. E não é o único…

  2. Luís Lavoura says:

    os lucros extraordinários das energéticas, decorrentes da actual escalada de preços

    Mas a que lucros extraordinários de que energéticas se refere, exatamente?

    Na bolsa de Lisboa somente há duas grandes empresas energéticas: a EDP e a GALP. A primeira ainda não fez, que eu saiba, qualquer previsão de lucros; pelo contrário, obrigada que está a vender aos consumidores energia a um preço tabelado enquanto que tem que produzir ou comprar alguma dela muito mais cara, não deve estar a ter nenhum lucro por aí além. A segunda (a GALP) está a ter de facto grandes lucros, mas basicamente ou na produção de petróleo no Brasil e em Angola – e esses lucros, que são obtidos no estrangeiro, compete ao Brasil e a Angola taxar, e não a Portugal – ou na sua refinação – mas esses lucros são transitórios e devem-se apenas ao facto de momentaneamente haver falta de capacidade refinadora no mundo, por algumas refinadoras terem parado com a covid.

    Eu não vejo, portanto, nada para taxar em Portugal. Somente o Brasil e/ou Angola é que poderão, se o quiserem, taxar mais a produção da GALP.

  3. Luís Lavoura says:

    Eu diria que, pelo contrário, o governo português se deveria estar a preparar para, em breve, ter que resgatar algumas empresas energéticas da falência. O Estado alemão já o fez, e o Estado francês implicitamente também (nacionalizou a EDF). É que as empresas energéticas estão a comprar energia (gaz natural) a preços elevadíssimos e depois a vender energia aos consumidores a preços tabelados ou limitados pelos governos, pelo que estão ou estarão a ter enormes prejuízos.
    Em minha opinião, lá para dezembro ou janeiro haverá muitas empresas energéticas por esta Europa fora que estarão a declarar falência, por terem especulado no preço do gaz natural e não conseguirem pagar esse gaz ao preço a que se comprometeram, nem forçar os consumidores a comprá-lo a esse preço. Esperem pela bola, que ela vai bater com força!

    • Paulo Marques says:

      É, só é pena a diferença entre o producto final e as matérias-primas ter aumentado ainda mais. Mas sauda-se o desejo de intervencionismo; afinal, se for verdade o boato que a própria indústria planeia trocar a produção pela especulação de futuros, aí é que vai correr bem.
      Quanto aos consumidores, nada que mais dívida privada não resolva; se existe no retalho, porque não na energia? Até rebentar.

      • Luís Lavoura says:

        a própria indústria planeia trocar a produção pela especulação de futuros

        Parece-me que é isso que está a acontecer.

        Segundo li ontem na revista Economist, na semana passada o gás natural para entrega em janeiro estava a ser negociado, no mercado de futuros, a dez vezes o preço a que era negociado no ano passado.

        Ou seja, havia empresas distribuidoras de gás que se estavam a comprometer a pagar gás natural em janeiro a dez vezes o preço a que ele estava no ano passado.

        Pergunta: quem irá consumir esse gás a tal preço? Eu suspeito que ninguém.

        E, se ninguém o consumir, então as empresas que o compraram não poderão recuperar o dinheiro que pagaram por ele.

        E portanto irão à falência.

  4. Paulo Marques says:

    “a actual escalada de preços que resultou da invasão da Ucrânia”

    A actual subida de preços, que não é nenhuma espiral como vendem, resultou do embargo parcial e trapalhão a um recurso do qual somos dependentes, dos oportunistas da OPEC de quem também somos dependentes, e do mercantilismo de vacinas a outro país ao qual também criamos dependência industrial.
    O colonialismo acaba quando acabam os recursos dos outros. Costa acha um bocadinho mais que vai tudo voltar ao normal, apesar de quem manda nisto tudo ser muito mais recalcitante. Devem ser os brandos costumes, a olhar para as ruas de outros países. Até ao dia.

    • Luís Lavoura says:

      A actual subida de preços resultou do embargo parcial e trapalhão a um recurso do qual somos dependentes

      Exatamente.

      Não resultou da guerra, nem da invasão, nem da maldade da Rússia, nem da alegada “chantagem” da Rússia.

      Resultou única e exclusivamente das atuações erradas da União Europeia, ao pretender embargar algo (o petróleo e o gás natural) de que o mundo está completamente dependente, e que portanto não pode ser embargado.

      O políticos europeus (com a exceção de Viktor Orbán, o único que não colaborou na asneirada) deviam ser todos corridos à paulada, pelo mal que estão a fazer à população da União.

      Verdade seja que com a colaboração de boa parte desta última, que andou a incentivar o embargo. Em suma, muitos europeus andaram a fazer a cama na qual agora se estão a deitar.

      • Paulo Marques says:

        Então não haveriam de apoiar, com a estorinha muito bonita que lhes foi contada e a factura que não foi apresentada?
        Até podia ser que os cidadãos estivessem dispostos ao preço, mas era demasiado democrático ter direito à verdade e à voz. Agora é lidar com quem se vai aproveitar, previsivelmente.

  5. JgMenos says:

    Aiii os lucros…isto está corrompido, até lucros há!

    • POIS! says:

      Ora pois!

      Por algum lado começa. Nunca vi corrupção que desse prejuízo…

  6. Rui Naldinho says:

    António Costa tem uma maioria absoluta. Essa maioria foi-lhe dada pelo eleitorado, assustado com a possibilidade de vir aí de novo a direita, agora conluiada com o Chega. Direita essa que só nos dá austeridade. O resto são tretas.
    Uma maioria absoluta é um poder que dispensa grandes negociações e carece de grandes hesitações.
    António Costa como político que é, mente como todos os outros, por vezes até de forma despudorada. Mas goste-se ou não, tem o poder de decidir sobre as nossas vidas, porque uma maioria lhe confiou essa tarefa. Agora não se queixem, porra!
    Eu não votei em António Costa. Reconheço que estou numa minoria, contrariamente a uma maioria de eleitores que lhe reconheceu idoneidade intelectual e política para continuar à frente dos destinos do país. É a democracia.
    Nunca tive grandes dúvidas, que apesar da crise, cuja inflação tem vindo a absorver salários, já de si estagnados à anos, iria como membro da classe média sofrer como poucos.
    Este governo tem o trauma da dívida e das más contas. Assim sendo, esperar-se grandes novidades deste governo é como esperarmos que nos saia o Euromilhões.
    No ano anterior às próximas eleições legislativas, lá para 2024, se este conflito na Ucrânia não degenerar numa guerra como algumas que tivemos no século XX, o PS lá estará para abrir os cordões à bolsa, para ver se saca mais alguma maioria, relativa que seja, da cartola.
    Até lá, aguentai-vos, como dizia um célebre banqueiro.

    • Paulo Marques says:

      Legitimidade legal, política, e moral são tudo coisas diferentes. O PS tem uma delas, discutivelmente outra (face às mentiras, aldrabices, e incumprimentos), e quanto à restante está na longa lista de gente responsável incapaz de perceber o que é.
      E o povo pode ser manso, demasiado até, mas quando faltar isso acaba da noite para o dia.

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