Nuno Santos tentou fazer uma recepção

Levantávamos a cabeça e tínhamos jogadores a voar por todo o lado
Aimar, o Poeta

Eddie, I spilled some coffee in the kitchen. I’m sorry. I’m apologizing now.
Chris Cornell

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Ao contrário do que se depreende das deturpações feitas pelo jornal A Bola, o futebolista Nuno Santos não se referiu nem a receção, nem a janeiro. Aquilo que este magnífico jogador, campeão pelo FC Porto e pelo maravilhoso Benfica, escreveu há dias na sua conta do Instagram foi o seguinte:

Grafias impecáveis: não há reparos a fazer. Nuno Santos, segundo sei, não pratica profissionalmente o acto de escrever. Nuno Santos ganha a vida a dar pontapés e cabeçadas numa bola. Mesmo assim, como se viu, escreve bem.

Todavia, ao lerem estes disparates, escritos por quem é pago para escrever e transcrever,

os leitores do jornal A Bola ficarão a julgar que o jogador Nuno Santos trata o portuguez lingua escripta como ele é tratado no jornal A Bola: ao pontapé e à cabeçada (o Estebes diria “à cabeçada e ao pontapé”). Já sabemos que A Bola preferiu comer e calar, em vez de colaborar no desenvolvimento de uma sociedade livre e moderna. Mas nós não temos culpa das altamente duvidosas opções cívicas da direcção do jornal A Bola. Além disso, esta mania de andarem por aí a deturpar a óptima grafia dos outros, francamente, é inadmissível. Obviamente, Nuno Santos está à espera de um pedido formal de desculpas do jornal A Bola.

Nótula: Um grande abraço ao excelente leitor do costume.

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Pelos animais, ração!

(houve até quem falasse de foguetes, deus nos livre)
Carla Romualdo

Who do you think it’s for? For the animals.
William Henry Duffy & Ian Robert Astbury

LE PROFESSEUR. Vous devenez un véritable animal, Marina.
MARINA. Non : je suis un animal.
— Amélie Nothomb, “Les Combustibles

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Fonte: http://bit.ly/333I4tm, foto de 6/4/2019 (graças à EPHEMERA: http://bit.ly/2oSqVUq)

Efectivamente, o esquecimento do <r> inicial de ‘ração’ é uma das hipóteses mais plausíveis para aquele cartaz. Sim, aquele da direita. Convém recordar o que foi recentemente dito pelo porta-voz do PAN sobre a revisão do Acordo Ortográfico de 1990:

Faz sentido, a ortografia não deve ser legislada por decreto.

Isto é, em última análise e vendo bem as coisas, aquele cartaz não faz sentido.

Por outro lado e por incrível que possa parecer, não se trata apenas nem da tristeza sentida por Cavaco Silva, perante a prestação de anteontem do PSD, nem do impacto dos recentes resultados internacionais do Glorioso no ânimo do presidente do Benfica. A crónica ausência do cê medial, naquelas palavras encontradas no sítio do costume, deixa-me profundamente triste e deverá deixar os respectivos responsáveis tristes e envergonhados.

Continuação de uma óptima semana.

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