Do direito à futilidade

Ó Maria João, se eu mandasse, nunca me passaria pela cabeça retirar-lhe o direito a ser fútil e a julgar-se engraçada e educada, actividades que consegue praticar com grande autonomia. Já percebi, de qualquer modo, que, para si, discutir Política e Educação corresponde a comentar o verniz das unhas ou as camisolas da Catarina Martins e a fazer associações simplistas entre partidos e regimes políticos ou a chamar políticas socialistas à corrupção do Estado. Diante de si, estarei sempre em desvantagem, porque não tenho competências de “fashion adviser” que me permitam debater consigo, por exemplo, a Educação, esse tema que passa, sobretudo, pelo comentário à barba de três dias ou ao corte dos fatos de Nuno Crato. Ainda me lembrei de voltar a falar do conteúdo do texto da Inês Gonçalves, mas – lá está – não estou apto a escrever sobre as tendências da moda para este ano.

Também eu, Maria João, sou um ferocíssimo defensor do direito de todos nós à futilidade. É graças a essa prática continuada da futilidade que sou capaz de me divertir a ler o que escreve, porque é importante, também, lermos textos que não nos ensinem nada de importante, tal como é fundamental para o meu equilíbrio emocional ouvir os dislates de personagens como uma Paula Bobone ou um Cláudio Ramos. A Maria João é, no fundo, o gloss com que me mimo para não estar sempre sisudo a pensar em coisas importantes. [Read more…]

O horror! Inês Gonçalves é do Bloco de Esquerda!

No princípio, era o verbo, ou seja, o texto. E o texto tinha uma autora. E a autora dizia que tinha 18 anos e que se chamava Inês Gonçalves. E o senhor Vítor viu que um texto daqueles não podia ser de uma rapariga de 18 anos.

Foi então que o senhor Vítor criou o homem de meia-idade com bigode. O homem de meia-idade com bigode era, afinal, o autor.

O senhor Vítor, mais tarde, descobriu que, afinal, existia mesmo uma Inês com 18 anos que era mesmo autora do texto que, durante uns minutos, fora da autoria de um homem de meia-idade com bigode.

A Inês, afinal, não era um homem de meia-idade com bigode, mesmo que possa haver algum homem de meia-idade com bigode que, à noite, goste que lhe chamem Inês, mas não temos nada com isso.

O senhor Vítor, aceitando que a autora se chamava Inês, não aceitava que uma rapariga de 18 anos se pudesse interessar por problemas próprios de homens de meia-idade com bigode. Há homens de meia-idade sem bigode, mas esses interessam-se por outras coisas, que um bigode faz muita diferença. Também há homens com bigode sem ser de meia-idade e, por isso, com interesses completamente diferentes dos dois anteriores.

O senhor Vítor encontrou, então, uma nova solução: como a Inês, por ter 18 anos, estava impossibilitada de formar opinião sobre temas próprios dos homens de meia-idade com bigode, tornou-se óbvio que o texto tivesse sido ditado à jovem autora por um homem de meia-idade com bigode. [Read more…]

Inês Gonçalves?

Oui, c’est moi!

Descobri a identidade da verdadeira Inês Gonçalves

ines
Pensavas que escapavas imune, Fernando Nabais?
Está tudo explicado: a Inês Gonçalves é tua familiar e usaste-a como alegada autora de um texto que verdadeiramente foi escrito por ti.
O Vítor Cunha acertou na «mouche»: um homem de meia-idade com bigode a fazer passar-se por uma adolescente. Que tristeza!

A Inês Gonçalves não existe

Como descobriu bem cedo o Vítor Cunha e seus comentadores aplaudiram. Esta entrevista é uma fraude, só pode.

Respondam à Inês

30370O Vítor Cunha muniu-se de cachimbo e lupa e, convencido de que o hábito faz o monge, deu por si a pensar que já era o Sherlock Holmes. Depois de ter lido com alguma atenção o texto da Inês Gonçalves que aqui republicámos, deduziu, julgando-se decerto brilhante, que a Inês se preocupava com assuntos reservados a homens de meia-idade com bigode, já que está cientificamente provado que é necessário possuir ornamentos pilosos na cara e próstatas inchadas para uma pessoa se preocupar com problemas tão chatos como a criação de mega-agrupamentos ou os cortes de horários lectivos.

É claro que o nosso Sherlock quis parecer suficientemente hábil para poder afirmar que nunca tinha dito que a Inês não existia, embora tenha deixado a insinuaçãozita a espreitar com o rabo de fora. Ainda que reconhecendo a hipótese remota de que uma adolescente tivesse um facebook sem o Justin Bieber, Vítor Cunha, esquadrinhando, ainda e sempre de lupa em riste, pôs a mão no queixo e ter-lhe-á cheirado que, a existir uma jovem Inês Gonçalves, o texto talvez tivesse sido ditado pelo misterioso homem de meia-idade, enquanto cofiava o provável bigode. [Read more…]

O que não perdoam à Inês Gonçalves

«Ando há 12 anos na escola, na escola pública». É isto que não lhe perdoam. Se se chamasse Martim e estudasse nos Salesianos, já era a maior.

Eu não fui ensinada por mágicos ou feiticeiros

Inês Gonçalves

Estudo no 12º ano, tenho 18 anos. Sou uma entre os 75 mil que têm o seu futuro a ser discutido na praça pública.

Dizem que sou refém! Dizem que me estão a prejudicar a vida! Todos falam do meu futuro, preocupam-se com ele, dizem que interessa, que mo estão a prejudicar…

Ando há 12 anos na escola, na escola pública.

Durante estes 12 anos aprendi. Aprendi a ler e a escrever, aprendi as banalidades e necessidades que alguém que não conheci considerou que me seriam úteis no futuro. Já naquela altura se preocupavam com o meu futuro. Essas directivas eram-me passadas por pessoas, pessoas que escolheram como profissão o ensino, que gostavam do que faziam.

As pessoas que me ensinaram isso foram também aquelas que me ensinaram a importância do que está para além desses domínios e me alertaram para a outra dimensão que uma escola “a sério” deve ter: a dimensão cívica.

Eu não fui ensinada por mágicos ou feiticeiros, fui ensinada por professores! Esses professores ensinaram-me a mim e a milhares de outros alunos a sermos também nós pessoas, seres pensantes e activos, não apenas bonecos recitadores!

Talvez resida aí a minha incapacidade para perceber aqueles que se dizem tão preocupados com o meu futuro. Talvez resida no facto de não perceber como é que alguém pode pôr em causa a legitimidade da resistência de outrem à destruição do futuro e presente de um país inteiro! [Read more…]