Crato do dia

EB 2/3 de Gueifães quase a parar por falta de funcionários

Nunca mais acaba o início do ano lectivo

Escolas continuam sem docentes de educação especial mas há 3560 disponíveis

O ano lectivo continua a começar

Nuno Crato continua a exercer o seu mandato com a tranquilidade dos assassinos contratados. Só assim é possível continuar a não resolver o problema da falta de funcionários nas escolas, graças à aplicação descontraída de uma lei desactualizada: assim, não há condições que as bibliotecas, as secretarias, as cozinhas e a vigilância dos alunos funcionem. Se juntarmos a isso as turmas com alunos a mais e as escolas com professores a menos, é fácil perceber que a Escola Pública está mergulhada num caos, com prejuízos graves para a parte mais frágil, os alunos.

A propósito do aumento do número de alunos por sala, qualquer profissional sabe que se trata de uma medida antipedagógica. Sabe-se, agora, que pode ser prejudicial à saúde.

Como se tudo isto não bastasse, é ainda graças a uma estrutura desumana que há alunos com deficiências sem direito ao apoio que uma sociedade civilizada deveria conceder-lhes. É assim que alunos surdos do Tâmega e Sousa continuam sem aulas por falta de transporte e é assim que nove técnicos de apoio a crianças autistas estão afastados das suas funções.

Entretanto, há alunos de cursos profissionais ainda sem aulas, porque continua a haver professores e técnicos por colocar.

O ano lectivo, com Nuno Crato, continuará a começar. Nada que o incomode: para isso, teria de ter vergonha ou consciência.

A directora do Agrupamento de Escolas Clara de Resende, no Porto, decidiu que a escola-sede será encerrada, enquanto não houver funcionários em número suficiente. Louve-se uma atitude que deveria, muito provavelmente, alastrar a muitas escolas do país, em que a virtude de querer compensar os disparates de Nuno Crato constitui, no fundo, um defeito, porque acaba por corresponder à aceitação de decisões que acabarão por prejudicar os alunos.

O comentador Rui Lima, neste texto do João Paulo, expele a opinião típica de quem pensa que os problemas são para suportar e não para resolver. É apenas mais um caso de ignorância atrevida e representante do estereótipo do portuguesinho que pensa que os professores, como não têm nada para fazer, servem para tapar qualquer buraco. Se o portuguesinho se começasse a preocupar verdadeiramente com a Educação em Portugal, estaria do lado das escolas contra o seu maior problema: o Ministério da Educação. Quando isso acontecer, não voltará a ser possível o cargo de ministro ser ocupado por vendedores de banha da cobra.

Quando pontual faz lembrar irrevogável

Tal como irrevogável foi o adjectivo escolhido por Paulo Portas para caracterizar a sua demissão, é lógico que Nuno Crato use “pontual” para classificar cada um dos vários problemas que continuam a ocorrer neste princípio de ano lectivo.

O problema de Crato não é a incompetência. Sobre Educação e escolas nada sabe e nada quer saber, do mesmo modo, afinal, que um assassino contratado não pode sentir pena das vítimas, sob pena de não conseguir assassinar, quebrando, desse modo, os compromissos assumidos.

Não é bonito encher um texto com hiperligações, mas não é possível ignorar o caos lançado sobre as escolas por um ministro que é tão sério como pontuais são os inúmeros casos que afectam a vida de alunos, pais e escolas. Há para todos os gostos: falta de professores e de funcionários, alunos sem aulas, manuais surpreendentemente desactualizados, tudo razões suficientes para que um ministro sentisse vergonha ou fosse demitido.

 Casos pontuais

Um caso pontual

Casos pontuais?

Novos manuais de Matemática e de Português lançam caos nas escolas

Mais de mil alunos de Tavira sem aulas por falta de resposta da tutela

Maior escola básica de Palmela fechada por falta de pessoal auxiliar

Mais de 500 turmas do 1º ciclo ainda sem aulas

Escolas recorrem a plano de substituição para ocupar alunos

Escolas: “Faltam preencher 1991 horários”

Maioria das escolas sem professores está na região de Lisboa

Jornalista troca seriedade por sensacionalismo

Professores trocam alunos por campanha autárquica. Lapidar, João Paulo.

Contra os alunos, marchar, marchar!

(Texto para ser lido com voz de locutor radiofónico dos antigos)

Jovem, os teus pais têm dinheiro suficiente para te matricular num colégio onde não é obrigatório haver turmas de trinta alunos e a mensalidade dá direito a aulas de apoio? Ou tu, jovem, mesmo estando na escola pública, tens acesso a explicações para te ajudar nas disciplinas em que tenhas mais dificuldades? Os teus pais tiveram a preocupação de te ler histórias à noite e incentivaram-te, desde pequeno, a ler e a saber mais? Já te levaram ao teatro e inscreveram-te numa escola de música, fazendo de ti um cidadão mais completo? E os teus encarregados de educação são daqueles que se preocupam com a tua vida escolar e que se deslocam à escola, com frequência, para recolher informações? Estás de parabéns, jovem, porque vives num país em que é preciso ter sorte.

E tu, jovem, tens pais com baixas habilitações académicas e que não valorizam a escola e o saber? Não quiseram ou não puderam preocupar-se com o teu enriquecimento pessoal? Tens problemas de aprendizagem? Podes desesperar, que, para ti, o governo encontrou várias soluções.

Se por várias razões, tiveres tido um percurso de insucesso, o governo do teu país não só não pondera diminuir o número de alunos por turma, como decidiu aumentá-lo. Deste modo, jovem, não esperes que os professores possam dar-te o apoio que poderia dar-te a possibilidade de resolver as dificuldades.

Se tiveres algum problema do foro psicológico, jovem, fica a saber que o ministério conseguiu criar uma situação em que, para cada quatro mil alunos, há um psicólogo, o que, como compreenderás, tornará improvável que te possas sequer cruzar com um dos profissionais que poderia ajudar-te.

Como, por todas estas razões e mais algumas, as escolas terão cada vez mais dificuldades em ajudar-te a resolver os teus problemas cognitivos ou as tuas insuficiências, o ministério integrar-te-á num ensino profissionalizante, que te permitirá obter um diploma que servirá para fazer de conta que os teus problemas desapareceram, o que será publicitado como uma vitória por todos aqueles que são responsáveis pela tua derrota, o que acaba por fazer sentido.