O *Eletric e os seis *fatos de ontem no sítio do costume

I hate what computers have come to represent in a certain form of music.
Atticus Ross

In fact, learners may need instruction regarding particular sound sequences in the second language in order to overcome phonological bias that is transferred from their first language.
— Kilpatrick & Pierce (2014)

In fact, the study of electrical contacts has led to important conclusions in the theory of friction.
— Jones (1947)

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Uma das consequências do Acordo Ortográfico de 1990 diz respeito ao impacto negativo na capacidade de falantes/escreventes de português europeu se exprimirem em determinadas línguas estrangeiras, quer oralmente, quer na escrita. Há muitos anos, a propósito do célebre “One Diretion“, receei que em português europeu o Having trouble with my direction /Upside-down, psychotic reaction dos The Cult pudesse ser transcrito como Having trouble with my diretion/Upside-down, psychotic reation. Ora, há dias, descobri que o álbum desta extraordinária canção foi vítima em português do Brasil deste fenómeno nada inesperado. Efectivamente, alguém grafou Eletric (em vez de Electric), o que é perfeitamente compreensível e só surpreenderá quem andar por aí muito distraído.

Os que andam por aí distraídos, dizendo aos quatro ventos que isto está a correr bem, não terão também reparado [Read more…]

O contato do autor

For example, receptive bilinguals have high listening comprehension abilities, indicating a well-developed underlying language system, but possess limited ability to produce the language after a long period of disuse.
Dan Isbell

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Ontem, segunda-feira, não houve nem contatos, nem fatos, nem espécies invasoras afins no Diário da República. Contudo, há uma razão para essa excepção à situação vivida desde Janeiro de 2012: ontem foi feriado em Portugal e, nos feriados, não há Diário da República. Hoje, terça-feira, 6 de Outubro de 2020, não é feriado e, obviamente, tudo continua como dantes no sítio do costume.

Exactamente:

Continuação de um óptimo mês de Outubro.

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«Temos que nos livrar do acordo ortográfico»

Will you bite the hand that feeds?
— Trent Reznor (cf. “Will you chew until it bleeds?“)

Adulteri, nescitis quia amicitia huius mundi inimica est Dei?Quicumque ergo voluerit amicus esse saeculi huius, inimicus Dei constituitur.Iac 4,4

Nós resolvemos reunir um grupo bem pequeno.
— Lígia Prado Fragonard

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Foto: Francisco Miguel Valada (Bruxelas, 4/4/2019)

Ao ler as seguintes palavras de Filipe G. Martins, assessor especial de Jair Bolsonaro (via João Roque Dias, no Acordo Ortogrãfico Não!, e via Tradutores Contra o Acordo Ortográfico) (negritos meus):

Depois de nos livrarmos do horário de verão, temos que nos livrar da tomada de três pinos, das urnas eletrônicas inauditávris [‘sic’, i.e., ‘inauditáveis’] e do acordo ortográfico,

lembrei-me imediatamente das palavras de Pedro Santana Lopes, secretário de Estado da Cultura no XI Governo Constitucional de Portugal, no famoso artigo do “agora facto é igual a fato (de roupa)“, em que é dada muita importância aos 21 anos e pouca às 21 bases :

Para os que não sabem, quando há 21 anos, no início de Janeiro de 1990, Cavaco Silva me convidou para secretário de Estado da Cultura, foram essas, precisamente, as duas principais tarefas de que me encarregou: assegurar que o CCB [Centro Cultural de Belém] estivesse pronto a tempo de receber a 1.ª presidência portuguesa das Comunidades Europeias, a 1 de Janeiro de 1992, e negociar e assinar o Acordo Ortográfico.

Há uns meses, em entrevista ao Portal Luso, tive a oportunidade de dizer que

não me interessa por aí além aquilo que outros [“a maioria dos países da CPLP”] fazem em termos de adopção do AO90. Aquilo que me preocupa é Portugal querer à força toda adoptar o AO90, independentemente da realidade. Preocupar-me-ia imenso que Portugal deixasse de adoptar o AO90 porque outros não adoptam, em vez de deixar de adoptar o AO90 pelo motivo mais natural de todos: porque é inadequado para a norma portuguesa europeia. Preocupar-me-ia, repito. Todavia, considerando um certo historial, não me admiraria nada que fosse esse o caminho.

A seguir cenas dos próximos capítulos (e não “a seguir, cenas dos próximos capítulos”).

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O regresso do motivo que determinou tal fato

Rich. Downe, downe I come, like glist’ring Phaeton,
Wanting the manage of vnruly Iades.
In the base Court? base Court, where Kings grow base,
To come at Traytors Calls, and doe them Grace.
In the base Court come down: down Court, down King,
For night-Owls shrike, where moũting Larks should sing.

— Shakespeare, “Richard II” (Folio 1, 1623)

Will you chew until it bleeds?

Trent Reznor

Rich. Now is the Winter of our Discontent,
Made glorious Summer by this Son of Yorke:
And all the clouds that lowr’d vpon our house
In the deepe bosome of the Ocean buried.

— Shakespeare, “Richard III”  (Folio 1, 1623)

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Eis, de novo, o motivo que determinou tal fato.

Efectivamente.

De facto, já dizia o velho Spooner,

there are some people who appear to be strong, whose idea of what strength consists of is persuasive, but who inhabit the idea and not the fact. What they possess is not strength but expertise. They have nurtured and maintained what is in fact a calculated posture. Half the time it works. It takes a man of intelligence and perception to stick a needle through that posture and discern the essential of flabbiness of stance.

Exactamente.

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Unidos de fato

Don’t you know the truth is killing you?

William Henry Duffy & Ian Robert Astbury

Shy. The villanie you teach me I will execute, and it shall goe hard but I will better the instruction.

— Shakespeare, “The Merchant of Venice” (Folio 1, 1623)

No one to blame always the same.

Trent Reznor

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Unido de fato?

Com o titular de uma habitação pública já atribuída?

Exactamente: «unido de fato com o titular de uma habitação pública já atribuída».

Efectivamente, andamos nisto há muito tempo. [Read more…]