Cavaco Silva esqueceu-se do Acordo Ortográfico de 1990

NAGG
I hope the day will come when you’ll really need to have me listen to you, and need to hear my voice, any voice.
Samuel Beckett, “Endgame

… the opportunity to use our voice for the voiceless.
Joaquin Phoenix

Todos os meus discursos saem com o acordo ortográfico mas eu, quando estou a escrever em casa, tenho alguma dificuldade e mantenho aquilo que aprendi na escola.
Cavaco Silva

***

Esta notícia chegou-me no preciso momento em que ouvia, vinda de algures, a voz do Anthony Blanche a declamar à varanda do Sebastian Flyte o The Waste Land do T. S. Eliot (“His vanity requires no response,/And makes a welcome of indifference”). Momentos antes, pensara na razão pela qual Charles Ryder/Jeremy Irons diz “we were eating the lobster Thermidor when the last guest arrived”, quando no livro temos Ryder a indicar que “when the eggs were gone and we were eating the lobster Newburg, the last guest arrived”. Aliás, antes de passarmos ao assunto do costume, ficai a saber que, embora haja (Scottish) lobster Thermidor no Simpson’s in the Strand, no filme a sugestão é “roast beef and Yorkshire pudding”, mas no livro recomenda-se “saddle of mutton”. Quer num, quer noutro, para que não haja dúvidas, “cider to drink”.

Adiante.

Efectivamente, é essencial acabar com a pobreza. É importante desenvolver a rede de cuidados paliativos. A corrupção deve ser combatida. Portugal não pode estar na cauda da União Europeia nem em matéria de desenvolvimento, nem em qualquer outra matéria. Tudo isto é importante, fácil de dizer, mas difícil de fazer. Todavia, acabar com o AO90, além de essencial, é fácil. Muito fácil. Extremamente fácil. Acabemos com isto, sff:

Obrigado.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

***

Teclados e cenotáfios

Michael Aspel: You’ve got lakes as well, haven’t you?

George Harrison: Legs? Yeah! I’ve got legs.

—  Aspel & Co. 1988

Sê prudente no pisar, pois pisas os meus sonhos.

— W.B. Yeats (PT/EN1/EN2)

Queimava‑se‑lhe o corpo na tarimba. E agora aqui está na noite chuvosa e fria, de samarra grossa bem agarrada ao corpo, sem saber o que deve fazer, embora saiba bem o que deseja fazer. Mete por detrás das barracas que ficam junto do valado. Quer confundir‑se com a escuridão, não vá alguém descobri‑lo; sobe ao carril das oliveiras, esconde‑se, espreita a noite para descobrir qualquer vulto, ou luz, ou ruído. O Tejo marulha de mansinho na areia.

— Alves Redol, “Avieiros

***

Há uns anos, ou seja, antes de Janeiro de 2012, “contatar diretamente” não era possível em Portugal. Todavia, actualmente, no sítio do costume, isto é, em Portugal, de facto, é possível.

E “fim-de-semana”, assim, com hífenes, é possível com o Acordo Ortográfico de 1990? [Read more…]

O regresso do motivo que determinou tal fato

Rich. Downe, downe I come, like glist’ring Phaeton,
Wanting the manage of vnruly Iades.
In the base Court? base Court, where Kings grow base,
To come at Traytors Calls, and doe them Grace.
In the base Court come down: down Court, down King,
For night-Owls shrike, where moũting Larks should sing.

— Shakespeare, “Richard II” (Folio 1, 1623)

Will you chew until it bleeds?

Trent Reznor

Rich. Now is the Winter of our Discontent,
Made glorious Summer by this Son of Yorke:
And all the clouds that lowr’d vpon our house
In the deepe bosome of the Ocean buried.

— Shakespeare, “Richard III”  (Folio 1, 1623)

***

Eis, de novo, o motivo que determinou tal fato.

Efectivamente.

De facto, já dizia o velho Spooner,

there are some people who appear to be strong, whose idea of what strength consists of is persuasive, but who inhabit the idea and not the fact. What they possess is not strength but expertise. They have nurtured and maintained what is in fact a calculated posture. Half the time it works. It takes a man of intelligence and perception to stick a needle through that posture and discern the essential of flabbiness of stance.

Exactamente.

***