Mais uma oportunidade perdida

Mal Santana Lopes desse o flanco («a que eu tinha aventado»), aproveitava-se e atacava-se: «Por falar em aventado,  então, “agora facto é igual a fato (de roupa)”»?

Amanhã, Vítor Gonçalves pode começar por perguntar a Santana Lopes:

«Ora bem, então, “agora facto é igual a fato (de roupa)”»?

Os esquemas de contratações de Santana Lopes na Figueira da Foz

Denunciámos os esquemas de contratações através de avenças de Santana Lopes na Figueira a 4 de dezembro de 2022. Alguma imprensa local publicou o nosso comunicado, como a Figueira TV ou o Diário As Beiras, mas outros houve que pura e simplesmente nos ignoraram. Informalmente, foi-nos comunicado que os editores tinham receio de perder receitas da publicidade institucional da câmara ou de empresas que dela dependem. Também enviámos a denúncia para a Lusa. Na altura, nas redes sociais locais as reações foram mínimas, aqueles que nos atacam furiosamente por tudo e por nada quando criticamos o executivo, desta vez, estavam estranhamente calados, percebemos que houve ordens para não reagir. A estratégia era abafar o assunto. O que é certo é que o assunto esteve perto de ser abafado não fosse a nossa insistência na Assembleia Municipal.

 

O nosso comunicado de dezembro denunciava a distribuição de avenças a alguns dos seus apoiantes, amigos e companheiros de estrada, sem qualquer justificação plausível. Para a Câmara da Figueira vieram pessoas, de Lisboa a Montemor-o-Velho, que trabalharam anteriormente com Santana Lopes no partido Aliança e no PSD para realizar trabalho para o qual já existe pessoal especializado e com qualidade na própria câmara. Uma das avençadas, Ana Isabel Martins, veio assessorar a vereador da Ação Social, auferindo uma remuneração superior à da própria vereadora. [Read more…]

Santana Lopes, o Wally e a República das Bananas

Antes de Pelé, 10 era apenas um número. Li essa frase em algum lugar, em algum momento da minha vida.

***

Santana Lopes, apesar de aparecer imenso na comunicação social portuguesa, continua a não responder ao essencial, que tentarei resumir em três perguntas:

  1. Porque é que “agora facto é igual a fato (de roupa”?
  2. Porquê esta República das Bananas ortográfica? (*)
  3. Considera que 1. poderá explicar 2.?

Votos de um óptimo 2023.

(*) A actualíssima imagem vai sem as rodinhas do costume, para Santana Lopes descobrir o Wally.

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A faculdade de exigir comprovativos de fatos

King. Euen as the rockes please them that feare their wracke.
Withhold reuenge deare God, tis not my fault,
Nor wittinglie haue I infringde my vow.
— Shakespeare, Henry VI, Part 3 (Octavo 1, 1595)

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Efectivamente, a faculdade existe e, pior, encontra-se consagrada no Diário da República.

Esta javardice continua e os responsáveis também continuam a fingir que nada disto está a acontecer. Em vez de perderem tempo com “a fita encarnada” de Santana Lopes, perguntem-lhe mas é o porquê do “agora facto é igual a fato (de roupa)“. E aí está o busílis da questão. A culpa, garanto-vos, não é minha. A culpa é dos defensores, promotores e amigos do Acordo Ortográfico de 1990. Exactamente.

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Niemand ist vollkommen

„Sie sind ein Monster!“
„Und Sie sind Anwalt! Niemand ist vollkommen.“
Dracula

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No tal artigo do “nobody is perfect”, Cavaco grafa 30 de Janeiro. Muito bem. 30 de Janeiro. Lindo menino. Mas Cavaco grafa perspetivas (muito bem, dirá um adepto português do #AO90, muito mal, dirá um homólogo brasileiro e muito mal, direi eu também, obviamente). Cavaco grafa diretamente (muito mal, direi eu, muito bem, dirão os nossos amigos de há pouco). Logo nos primeiros parágrafos do artigo de hoje, Cavaco explica-nos as virtudes do #AO90. Cavaco mandou. Santana cumpriu. Por isso, por haver tanta sabedoria e sensatez, tivemos há uns anos o “agora facto é igual a fato (de roupa)” de Santana. Quod erat demonstrandum. Agora, vou mas é trabalhar.

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Pelos vistos, no caso em apreço, o conceito “governo em plenitude de funções” é semelhante à doutrina “agora facto é igual a fato (de roupa)”

Exactamente. Efectivamente.

Apesar de Santana Lopes ter vencido na Figueira da Foz,

agora facto” NÃO “é igual a fato (de roupa)“.

PSD pede impugnação da candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara da Figueira da Foz?

No entanto, quando Pedro Santana Lopes escreveu «agora facto é igual a fato (de roupa)», o PSD ficou quietinho.

Os milhões de Mexia e “as melhores práticas do mercado”

António Mexia, Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações do XVI Governo Constitucional, chefiado por Pedro Santana Lopes (é sempre importante recordar estas coisas, que parece que só são tema quando os visados são antigos governantes do PS), posteriormente presidente do conselho de administração da EDP, cadeira à qual chegou exactamente um ano após abandonar funções governativas, que ocupou até Julho de 2020 e da qual foi obrigado a abdicar após ter sido acusado de subornar Manuel Pinho, Ministro da Economia de Sócrates, o seu Assessor, João Conceição, o ex-Secretário de Estado Artur Trindade e o antigo Diretor-Geral de Geologia e Energia, Miguel Barreto, está novamente nas bocas do mundo.

Felizmente – para ele, não para nós – não foi embora de mãos a abanar. E, seguramente, não lhe faltarão recursos para tentar o habitual brilharete das elites quando enfrentam a frágil justiça portuguesa: protelar, protelar e protelar, até à prescrição final. É que, graças ao acordo de cessação de funções e de não-concorrência, assinado com a empresa que geriu durante 14 anos – how convenient is that? – Mexia irá receber qualquer coisa como 800 mil euros por ano (mais uma série de extras, como um generoso seguro de saúde e um PPR gordinho), até 2023. Os valores envolvidos, sublinha a EDP, estão alinhados com “as melhores praticas do mercado”. E o que seria de nós, plebeus economicamente iletrados, sem o mercado e as suas melhores práticas?

O mês de Outubro começa lindamente

When perceiving speech, listeners need to first decode the auditory signal and transform this time-varying input into accurate phonemic representation (Cutler & Clifton, 1999).
— Jinghua Ou & Sam-Po Law (2017)

Keep me walking, October road.
James Taylor

Faz quatro anos em Outubro que aderi ao Movimento, disse o Homem. E por acaso, olha, como quase tudo o que me sucedeu na vida.
— António Lobo Antunes, Tratado das Paixões da Alma

***

Hoje, ao ler estes dois belos nacos de prosa,

não pude deixar de me lembrar de José António Pinto Ribeiro, o ministro da Cultura que lamentava ainda não conseguir escrever fato em vez de facto:

“Ato jurídico” é fácil, agora “fato” em vez de “facto”…

Efectivamente, seguindo o princípio de Pinto Ribeiro, fruto de um deficiente conhecimento do instrumento sobre o qual frequentemente se pronunciou e relativamente ao qual tomou medidas políticas com consequências graves, mutatis mutandis, o redactor das pérolas de hoje no sítio do costume pensará que efetuar e eletrónico são fáceis, agora contatando e contatar em vez de contactando e contactar

Obviamente, depois de escritas estas linhas, não pude deixar de me lembrar do “agora facto é igual a fato (de roupa)“.

Desejo-vos um óptimo mês de Outubro.

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«experiência, capacidade, carisma e sentido de Estado não lhe faltam»

Contudo, falta-lhe o mais importante. Falta-lhe saber que “agora facto” NÃO “é igual a fato (de roupa)”.

A doutrina Santana Lopes continua a dar os seus frutos

é preciso o fato
Mário Cesariny

***

É verdade que é importante estar atento à cruzada do Governo de Portugal e da Câmara Municipal de Lisboa, em nome do reforço da língua inglesa como língua de comunicação internacional. Todavia devemos continuar a prestar atenção a outros assuntos importantes, como o “agora facto é igual a fato (de roupa)” de Santana Lopes, que continua na ordem do dia no sítio do costume.

Exactamente. Efectivamente.

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

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Vejo imensa gente preocupada por António Costa ter dito que os vírus se combatem com

antibióticos. Vejo muito pouca gente preocupada por Santana Lopes ter escrito que “agora facto é igual a fato (de roupa)“.

A 1.ª Lei da Termodinâmica e o Paradoxo de Fação

Physical attraction 
It’s a chemical reaction 
It’s a physical attraction 
Sweet satisfaction
Madonna

Tezeo. Vem a meus braços, fiel amigo, e releva-me o errado conceito, que de ti formei.
António José da Silva (O Judeu), “O Labirinto de Creta

So when it was time to register for the [Spanish] class, we were standing outside, ready to go into the classroom, when this pneumatic blonde came along. You know how once in a  while you get this feeling, WOW? She looked terrific. I said to myself, “Maybe she’s going to be in the Spanish class —that’ll be great!” But no, she walked into the Portuguese class. So I figured, What the hell­­—I might as well learn Portuguese.
Richard Feynman

***

Há uns tempos, estive para escrever algumas linhas sobre estas intervenções de políticos (do PSD). Naquela altura, uma delas deixara no ar a probabilidade quer de o secretário de Estado da Energia (do PS) desconhecer, por exemplo, a 1.ª Lei da Termodinâmica, quer de essa lacuna o desqualificar para o cargo. Acabei por não escrever as linhas, mas ri-me. Contudo, o meu riso não foi motivado pelos comentários. Antes pelo contrário. Ri-me, isso sim, do ensurdecedor silêncio. O ensurdecedor silêncio dos políticos do PSD, dos políticos portugueses em geral e da população portuguesa activa nos meios de comunicação social e nas redes sociais, aquando do “agora facto é igual a fato (de roupa)“. O “agora facto é igual a fato (de roupa)” foi escrito por quem assinou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em nome da República Portuguesa. Exactamente. O silêncio cúmplice mantém-se até hoje.

No que diz respeito ao [Read more…]

Os *inteletuais em Portugal

Programs characterized by instability and/or hostile environments were associated with lower effect sizes.
Ann C. Willig (apud Stephen Krashen)

I was raised in a religious atmosphere, Mr. Verger, but whatever that left me with, it’s not religion.
Alana Bloom

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Em princípio, os negociadores, promotores e amigos do Acordo Ortográfico de 1990 não estarão satisfeitos com as frequentes supressões do cê medial de facto, de contacto e de secção que actualmente vão acontecendo em português europeu. Mas ignoraram os avisos e criaram as condições para este desastre. No entanto, há excepções. Por exemplo, Pedro Santana Lopes desejou e até promoveu a supressão do cê de facto, com o célebre

Agora facto é igual a fato (de roupa).

 

Facto, contacto e secção são as vítimas a quem tenho dado palco, quer aqui, quer ali, quer alhures.

Mas há mais.

Recentemente, o excelente leitor do costume (que tem andado entretido com outras vítimas do AO90) enviou-me esta ocorrência de *inteletual no sítio do costume:

Em Abril de 2008, Fernando Venâncio previu [Read more…]

As infra-estruturas e o fato

I follow Lakoff and Johnson’s definition of a conceptual metaphor as an underlying association that is systematic in both language and thought and explains something new or abstract in terms of something familiar or concrete. Although the focus of my analysis is on metaphor, I also relate to metonymies and similes, which function in similar ways (Lakoff & Johnson 1980 : 36).
Marta Neüff

MÉNÉLAS
Les déesses furent rapides à exiger de toi le prix du sang.
Le fait d’avoir vengé ton père ne t’est-il pas compté?
ORESTE
Pas encore, et pour moi le retard équivaut au refus.
Eurípides, “Électre/Oreste” (trad. Marie Delcourt Curves)

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Efectivamente, enquanto houver quem ache este salgueiro

melhor do que este,

não há qualquer problema.

Todavia, enquanto houver quem ache que agora facto é igual a fato (de roupa), o problema é grave, pois pode levar a isto:

De igual modo, [Read more…]

O fato das alianças, a persistência dos contatos e o massacre contínuo

MAÎTRE DE PHILOSOPHIE. La voix U se forme en rapprochant les dents sans les joindre entièrement, et allongeant les deux lèvres en dehors, les approchant aussi l’une de l’autre sans les joindre tout à fait : U.
MONSIEUR JOURDAIN. Il, U. il n’y a rien de plus véritable : U.
MAÎTRE DE PHILOSOPHIE. Vos deux lèvres s’allongent comme si vous faisiez la moue : d’où vient que si vous la voulez faire à quelqu’un, et vous moquer de lui, vous ne sauriez lui dire que : U.
— Molière, “Le Bourgeois gentilhomme

Considering that the sound /y/ is absent from the vowel space of the subjects in the present study, both at the phonemic and allophonic levels, and consequently that /u/ varies freely, beginner L1 American English learners of L2 French should have difficulty establishing contrastive phonemic categories for /y/ and /u/.
Ruellot

Specifically, the study focused on production by native English speakers of the French vowels /u/ and /y/. French /u/ is realized with variants that are similar, yet acoustically non-identical, to the realizations of the /u/ category of English. French /y/, on the other hand, does not correspond directly to an English vowel, and can therefore be regarded as a new sound for English native speakers who learn French as an L2.
Flege

***

Há um importante aspecto — com <c>, que em português do Brasil ilustra /k/ e em português europeu fixa o /ɛ/, impedindo um /ɛ/→[e] (cf. ‘espeto’) — a ter em mente, ao reflectirmos — também com <c>, que ilustra o /k/ subjacente e fixa igualmente o /ɛ/, evitando-se /ɛ/→[ɨ] (cf.repetirmos‘) — sobre a recorrência de grafias como aquela ali à esquerda:

Agora, de forma escorreita.

Há um importante aspecto a ter em mente, [Read more…]

Os factos de Câncio e os fatos da CMTV

Avec ses quatre dromadaires
Don Pedro d’Alfaroubeira
Courut le monde et l’admira.
Il fit ce que je voudrais faire
Si j’avais quatre dromadaires.
— Apollinaire, “Le Dromadaire

Sedulo curavi, humanas actiones non ridere, non lugere, neque detestari, sed intelligere.— Espinosa

Woah oh oh oh oh oh oh oh.
Ian Astbury

***

Convém sempre lembrar que nem só de fatos se vive no Diário da República:

Seja como for, de fatos efectivamente muito se vive, no Diário da República em particular e na realidade (orto)gráfica portuguesa europeia em geral, desde Janeiro de 2012.

Eis um exemplo, no Diário da República de hoje:

Quanto à realidade (orto)gráfica portuguesa europeia em geral, peguemos na nossa fidelíssima lupa e debrucemo-nos sobre um episódio extremamente interessante. Ao contrário do excelente Público, que traduziuperspectiva‘, para a nossa correcta interpretação da *perspetiva de Daniel Oliveira, a CMTV deturpou factos, indicando fatos,

quando Fernanda Câncio claramente não se refere aos fatos “de roupa” espalhados por Santana Lopes.

Apresentado este meu pequeno relatório, resta-me desejar-vos um óptimo fim-de-semana.

***

Depois de ter escrito «agora facto é igual a fato (de roupa)»,

(exactamente) «Santana Lopes admite abandonar presidência da Aliança». OK. Siga.

A luta continua, camarada Santana

Em 2015, salvo erro, as eleições Legislativas foram disputadas por 18 partidos políticos. E tudo indica que, mais partido, menos partido, esse número se repetirá em Outubro. Destes, apenas seis têm cobertura mediática visível. São, sem surpresas, e como vem sendo habitual, os partidos com assento parlamentar.

Não me interessa discutir a justeza e equidade dos critérios editoriais da comunicação social. São o que sempre foram. E, sublinhe-se, mesmo entre os seis “privilegiados”, o fosso mediático existente entre os dois maiores e os restantes é significativo. Para não falar no domínio de absoluto de PS e PSD nas colunas de opinião dos jornais e espaços de debate televisivos. [Read more…]

Quem para a extrema-direita na polícia?

Les perroquets commencèrent à crier, âcres, aigres, puis les perruches ajoutèrent leur pépiement à cette symphonie discordante. Leur charivari montait avec la lumière.
Éric-Emmanuel Schmitt, “Les Perroquets de la place d’Arezzo

***

Aliás,

Quem pára a extrema-direita na polícia?

Exactamente, apesar de ativa e de ativistas:

Como sabemos, existe uma diferença entre afirmar

Escrevo com o AO nos jornais

e escrever com o AO nos jornais.

É como a diferença entre determinar

a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa [..], a partir de 1 de Janeiro de 2012, […] à publicação do Diário da República

e permitir que isto aconteça:

— ou até um bocadinho semelhante a, por um lado, afirmar

No Acordo é limpinho: é muito mais fácil dizer que se é contra. E também parece que algumas pessoas têm de encontrar válvulas de escape para a insatisfação em que vivem. É um pouco como chamar nomes ao árbitro. Acho que às vezes as pessoas precisam de conhecer mais mundo.

e, por outro, escrever

Agora facto é igual a fato (de roupa).

Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.

***

O buraco ortográfico

Credits: Event Horizon Telescope collaboration et al. (https://go.nasa.gov/2Z2mJPS)

Sey. The Queene (my Lord) is dead.
Macb. She should haue dy’de heereafter;
There would haue beene a time for such a word:
To morrow, and to morrow, and to morrow,
Creepes in this petty pace from day to day,
To the last Syllable of Recorded time:
And all our yesterdayes, haue lighted Fooles
The way to dusty death.
— Shakespeare, “Macbeth” (Folio I, 1623)

***

Depois das notícias de ontem sobre o buraco negro (eis o artigo), regressemos ao buraco ortográfico aberto pelo poder político.

Repare-se neste exemplo clássico:

Exactamente:

Menção de que o candidato declara serem verdadeiros os fatos constantes da candidatura.

Trata-se efectivamente de exemplo que é genuinamente clássico, conhecido no Palácio de São Bento, pelo menos, desde o dia 7 de Fevereiro de 2013 (cf. página 7 em “Documentação entregue [formato PDF]“). Entre a entrega do documento que redigi e o dia em que escrevo estas linhas, portanto, é só fazer as contas, deixa cá pegar num lápis aguçado, ora bem, já lá vai uma, já lá vão duas, já lá vão três, já lá vão, deixa cá ver… 322 semanas.

Até hoje, como se vê,

nada se fez.

Todavia, fala-se muito (“Portugal fez a sua parte“). Aliás, fala-se imenso (“Orgulho-me de ter assinado o Acordo em 1990“). Declara-se abundantemente (“O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico“) e profere-se bastante («Portugal “aguarda serenamente” a conclusão da ratificação do acordo ortográfico pelos membros da CPLP que ainda não o fizeram»), com tiros pela culatra.

Enfim, muita conversa e o buraco a aumentar.

***

«Temos que nos livrar do acordo ortográfico»

Will you bite the hand that feeds?
— Trent Reznor (cf. “Will you chew until it bleeds?“)

Adulteri, nescitis quia amicitia huius mundi inimica est Dei?Quicumque ergo voluerit amicus esse saeculi huius, inimicus Dei constituitur.Iac 4,4

Nós resolvemos reunir um grupo bem pequeno.
— Lígia Prado Fragonard

***

Foto: Francisco Miguel Valada (Bruxelas, 4/4/2019)

Ao ler as seguintes palavras de Filipe G. Martins, assessor especial de Jair Bolsonaro (via João Roque Dias, no Acordo Ortogrãfico Não!, e via Tradutores Contra o Acordo Ortográfico) (negritos meus):

Depois de nos livrarmos do horário de verão, temos que nos livrar da tomada de três pinos, das urnas eletrônicas inauditávris [‘sic’, i.e., ‘inauditáveis’] e do acordo ortográfico,

lembrei-me imediatamente das palavras de Pedro Santana Lopes, secretário de Estado da Cultura no XI Governo Constitucional de Portugal, no famoso artigo do “agora facto é igual a fato (de roupa)“, em que é dada muita importância aos 21 anos e pouca às 21 bases :

Para os que não sabem, quando há 21 anos, no início de Janeiro de 1990, Cavaco Silva me convidou para secretário de Estado da Cultura, foram essas, precisamente, as duas principais tarefas de que me encarregou: assegurar que o CCB [Centro Cultural de Belém] estivesse pronto a tempo de receber a 1.ª presidência portuguesa das Comunidades Europeias, a 1 de Janeiro de 1992, e negociar e assinar o Acordo Ortográfico.

Há uns meses, em entrevista ao Portal Luso, tive a oportunidade de dizer que

não me interessa por aí além aquilo que outros [“a maioria dos países da CPLP”] fazem em termos de adopção do AO90. Aquilo que me preocupa é Portugal querer à força toda adoptar o AO90, independentemente da realidade. Preocupar-me-ia imenso que Portugal deixasse de adoptar o AO90 porque outros não adoptam, em vez de deixar de adoptar o AO90 pelo motivo mais natural de todos: porque é inadequado para a norma portuguesa europeia. Preocupar-me-ia, repito. Todavia, considerando um certo historial, não me admiraria nada que fosse esse o caminho.

A seguir cenas dos próximos capítulos (e não “a seguir, cenas dos próximos capítulos”).

***

Leva essa tralha medíocre contigo, Santana!

Fotografia: Luís Barra@Expresso

À terceira é de vez: Pedro Santana Lopes abandonou mesmo o seu partido de sempre, o PPD-PSD, e vai criar um novo partido, cujo nome, expectavelmente, será PPD-qualquer coisa. Isto acontece seis meses após ter declarado o seu amor eterno ao mesmo PPD-PSD, sob o mote “Unir o partido, Ganhar o país“. Estou certo que os seus mais acérrimos apoiantes estão muito orgulhosos da sua decisão, até porque os spin doctors do esgoto passista já decidiram que a decisão é boa. [Read more…]

Rio sobre Santana:

É uma figura que todos nós acarinhamos.

Santana sobre o AO90:

Agora ‘facto’ é igual a fato (de roupa).

A União das Freguesias de Azueira e Sobral da Abelheira, em 2013, sobre atestado [pdf, p. 10]:

Exactamente:

documento público, escrito, de carácter informativo, relativo a factos, situações ou qualidades ou estados de pessoas determinadas, que são do conhecimento dos membros da Junta de Freguesia, ou que representam a sua convicção. Este documento não tem força probatória material, podendo o seu conteúdo ser contestado e contrariado.

A União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão, em 2018 (aliás, foi mesmo ontem, no sítio do costume, obviamente), sobre atestado:

Efectivamente:

documento público, escrito, de caráter informativo, relativo a fatos, situações ou qualidades ou estados de pessoas determinadas, que são do conhecimento dos membros da Junta de Freguesia, ou que representam a sua convicção. Este documento não tem força probatória material, podendo o seu conteúdo ser contestado e contrariado.

***

As rendas excessivas da EDP no país da imprensa comunista

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Fotografia: Paula Nunes@ECO

António Mexia é o exemplo acabado de um homem de sucesso em Portugal. Deu aulas, foi para a política, daí para organismos e empresas públicas, com a passagem da praxe pelo BES, e regressou à política, de onde em bom rigor nunca chegou a sair, para integrar o executivo Santana Lopes, entre Julho de 2004 e Março de 2005. Dai seguiu directo para a cadeira de presidente do Conselho de Administração da EDP, onde continua, hoje sob a batuta do regime chinês. Em 2014 recebeu de Cavaco Silva a mais alta condecoração da Ordem de Mérito Empresarial. Três anos depois, foi constituído arguido no caso relacionado com as rendas excessivas da EDP. Aquele percurso clássico.  [Read more…]

PPD-PSD

Imagem via Daily Cristina

A forma como ele o entoa, como nunca ousa deixar o PSD órfão do PPD, é algo que me fascina. Isso e a insistência em esbarrar-se eleitoralmente. Mas ainda há esperança, caso Rui Rio ganhe as próximas Legislativas e seja chamado para servir em Bruxelas a meio do mandato. E poucas coisas seriam tão belas como ver Marcelo dissolver a Assembleia da República. Karma can be a bitch. O problema é se sai dali outro Sócrates. E outro Passos a seguir.

Santana Lopes perdeu as eleições

E agora? «Agora facto é igual a fato (de roupa)».

Pedro Santana Lopes não acredita em Pedro Santana Lopes

Fotografia via ECO

Depois do que passei, em 2004, 2005, depois do que aconteceu, com mais culpa minha ou não, acho que se concorresse a primeiro-ministro não tinha possibilidades de ganhar as eleições. Não tenho dúvida nenhuma sobre isso, nem que o vento mudasse 10 vezes

Pedro Santana Lopes, CMTV, 2013