o debate desencontrado da greve de 24 de Novembro

a greve do 24 foi a maior dos últimos tempos

Como sabemos, as duas centrais sindicais de Portugal uniram-se para o protesto contra as felonias dos nossos legisladores. O Orçamento de Estado continua a levantar dúvidas entre os que querem aumentar os impostos e os que procuram na Assembleia alternativas para não ser a maior parte de Portugal a pagar as dívidas do Estado.
A intenção dos legisladores é conhecida por todos, leia-se um jornal num quiosque qualquer (quem pode comprar jornais hoje em dia?) e, de imediato, fica-se a saber quais os aumentos que estão projectados para os bens alimentar, para os fármacos, os impostos extras por escalão, a redução dos ordenados, o despedimento de trabalhadores da função pública e todas as outras doenças que aguardam a nossa estabilidade e divertimento fora de horas de trabalho.

O debate é aceso. Há a versão das centrais sindicais que diz que três milhões de trabalhadores aderiram à greve; há a conveniente do Governo, que fala em 28%. Mas, os que

andámos na rua apercebemo-nos da realidade; nem um transporte público, nem carros privados (a gasolina está cada vez mais). As crianças tiveram que voltar para casa… a pé, como tinham ido. A greve teve uma forte adesão entre educadores. Contudo, vários dos meus colegas, por causa da sua ideologia, apareceram para leccionar, mas não havia estudantes. Porque foram? Não consigo entender. Como defendem os seus direitos a um ordenado que os consiga manter de forma digna, comprar textos necessários para ler, ou o material informático para escrever e investigar sobre a temática da aula antes de a proferir? Ou será que nada preparam? Duvido, especialmente entre os melhores cientistas da nossa academia que estão sempre a estudar e conhecem os seus direitos e apoiam o operariado, os reformados e os mais desfavorecidos socialmente.

Estou certo que quem ler este texto, deve pensar ter sido escrito por um malfadado ideólogo marxista. E tem razão. Foi Marx, como outros socialistas ingleses e alemães, quem teve a ideia da greve para combater os capitalistas, todos referidos no meu livro Marx, um devoto luterano, de 2009.

Fico com a impressão que os legisladores que mal nos governam, não têm lido a lei sobre as greves, ou, se têm, ignoram-na. Esta greve foi uma guerra civil de um dia entre os ultrajados operários, os seus patrões, representados no parlamento pelos seus partidos, partidos de direita e que nada disseram no dia da greve, excepto atacar o governo. Não podiam defender a greve, é contra os seus princípios, muito embora se são representantes do povo, e o povo é atacado pelo capital, não pelo governo, uma certa argúcia deveria aparecer nas suas mentes, procurando debater com os seus representados, os capitalistas e investidores de capital que, normalmente, investem fora do país. Como sabemos quem e como, nem vale a pena insistir. Como Marx dizia, o capital é um modo de produção internacional e é impossível derrubá-lo: tem ao pé dele as Forças Armadas, excepto em Portugal, tem o poder de demandar, a magistratura diz que a lei é cega, mas, de facto, bem sabemos que a cegueira, na sua maior parte, é para as leis de protecção dos produtores.

É preciso voltar a lembrar a lei de protecção da greve, bem mais cumprida que o excerto que sempre cito, dentro de um país pouco habituado a esta medida de defesa. É evidente que antes do 25 de Abril de 1974 houve paralisações de trabalho, reprimidas como na Comuna de Paris de 1870: a sangue e fogo das metralhas. Temos muitos heróis assassinados nos tempos da Monarquia e da ditadura, louvor para esse arriscados lideres e orientadores da defesa do povo.

A lei de greve, 65/77 de 26 de Agosto desse ano, diz no artigo 2:

Artigo 2º
Competência para declarar a greve

1 – O recurso à greve é decidido pelas associações sindicais.

2 – Sem prejuízo do direito reconhecido às associações sindicais no número anterior, as assembleias de trabalhadores poderão decidir do recurso à greve, por voto secreto, desde que na respectiva empresa a maioria dos trabalhadores não esteja representada por associações sindicais e que a assembleia seja expressamente convocada para o efeito por 20% ou duzentos trabalhadores.

3 – As assembleias referidas no número anterior deliberarão validamente desde que participe na votação a maioria dos trabalhadores da empresa e que a declaração de greve seja aprovada pela maioria absoluta dos votantes.

Esta lei foi cumprida. Os defensores do capital na Assembleia encontram apenas um inimigo: o governo, que tenta organizar esforços inacreditáveis para salvar ao País da falência.

Como socialista que sou, espero e estimo bem que sejam capazes e se temos de viver em tempo de guerra, a melhor solução será apertar o cinto para a ganhar.

Causa-me imensa tristeza ver a nossa Assembleia dividida entre os capitalistas e os defensores do povo, também sem soluções, excepto arremeter contra o governo não se juntando a ele para novas ideias. Tudo, por causa do nosso Governo se apoiar num partido capitalista para encontrar soluções, que ainda não aparecem….

O debate sobre a greve do 24 é um debate desencontrado!