Ai os meus ricos critérios jornalísticos!…

televisões
Reina um histérico pânico nas televisões – não tanto nos jornais, honra lhes seja -, subitamente preocupadas com a liberdade de informação – sejam bem-vindas – e com o que dizem ser um assalto à sua liberdade editorial. Tudo porque a Comissão Nacional de Eleições, no estrito cumprimento das suas funções, lembrou a legislação que, desde 2001, rege, entre outras coisas, esta questão.

A CNE, valha a verdade, não diz nada de especialmente novo quando chama a atenção para a necessidade de tratar com igual disponibilidade informativa todas as candidaturas. Isso já acontecia antes e sempre levantou problemas mais complexos nas eleições autárquicas, como é natural. Tais problemas, com mais ou menos queixas e protestos, sempre foram superados. Porquê tanto nervosismo agora? O que justifica esta operação – perpetrada pelo conjunto dos canais televisivos – de redução do parecer da CNE a uma caricatura, atribuindo-lhe determinações que lá não estão ou, pelo menos, não com o sentido que se lhe pretende atribuir? E porquê só nestas eleições, uma vez que a lei é de 2001?

É que estas não são quaisquer eleições autárquicas, como facilmente se compreenderá se tivermos em conta a situação do país. Nunca o resultado global de uma eleição deste tipo teve tal significado na leitura do sentir das populações em relação ao governo e ao(s) poder(es) em que se suporta. O que está em jogo é muito mais que a presidência de algumas câmaras. Por isso, os patrões das televisões deram ordem de ataque. As munições desta guerra são sempre as mesmas: aicaredo que o principio da igualdade de tratamento das candidaturas afogará a nossa – deles – liberdade editorial; aijasus que não pudemos fazer a cobertura da campanha na base dos nossos critérios jornalísticos; aibalhanosdeus que se entrevistarmos o sr. António Costa vamos ter que entrevistar os “outros” também! E por aí fora.

Ora, as tvs fariam bem em meter a mão na consciência. Todos sabemos o que entendem por “critérios jornalísticos” e, sempre que alguém lhes dificulta a operação de lamber botas aos do costume, dificultando-lhes o regabofe, todos lhes conhecemos os tiques. Até o Sindicato dos Jornalistas, solicitado a entrar no baile, se demarcou com prudência. Claro que o Grande Regulador Carlos Magno, com o seu ar altaneiro, alinhou na dança ao serviço dos donos. Os vários canais televisivos ameaçam fazer um boicote à informação eleitoral. Não sei se se perderá grande coisa. Mas é bom sentir que, por uma vez, o medo está do outro lado.

Comments

  1. Inteiramente de acordo.
    Para eles o que lhes interessa são os critérios editoriais.
    Para nós cidadãos o que nos interessa é conhecermos o programa de todos os partidos.

  2. E, como dizia Brecht, “não há nada mais parecido com um fascista do que um burguês assustado”, aí os temos, sempre tivemos, agora sem disfarce.

    mário

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