Quando um bom gráfico estraga uma má história

Tenho uma enorme admiração, um verdadeiro espanto, pela relação do Vítor Cunha com os gráficos em particular e a estatística em geral. Deixando para outra oportunidade explicar porquê, é uma cena poética, vejamos a sua última obra de arte:

pisa2012-portugal-vs-suc3a9cia-estrangeiros

O Vítor Cunha desenvolveu uma tese: os maus resultados da Suécia no PISA seriam uma consequência da imigração que por ali grassa, uma boa forma de contornar a realidade: os testes PISA demonstram que as coisas correm muito mal onde se privatizou o ensino.

Tal imigração, proveniente de países com um baixo nível sócio-cultural é que lhes anda a dar cabo dos resultados, uns suicidas, os suecos. Ora vamos lá ver quem de onde vêm os imigrantes na Suécia (dados de 2010):

  • Finland (163,867)
  • Former Yugoslavia (157,350)
  • Iraq (127,860)
  • Iran (65,649)
  • Poland (49,518)
  • Germany (48,731)
  • Turkey (45,085)
  • Denmark (44,209)
  • Somalia (43,966)
  • Norway (42,884)
Fonte

Temos então uma forte presença de malta subdesenvolvida e analfabeta, como a finlandesa, a ex-jugoslava, e depois lá aparecem os iraquianos (que por acaso até tinham um razoável sistema de ensino para a região, dinheiros do petróleo).

Ora considerando a proveniência da nossa imigração, maioritariamente brasuca-palopiana, mesmo descontando o que sobra da proveniente da Europa, temos de convir que a escola pública em Portugal faz verdadeiros milagres.  Ou como disse agora, perante a catátofre, o ministro da educação sueco* – eles deveriam era ter nacionalizado o que privatizaram.

Uma última nota: acho despropositado meter a xenofobia ao barulho nesta discussão. Se a estrutura sócio-cultural da família é determinante nos resultados obtidos, como se sabe desde Bourdieu, tal com a História da Educação de cada país, é óbvio que tendencialmente uma imigração proveniente de um país com uma maior taxa de analfabetismo e etc. etc. iria alterar os resultados num dado país.  O problema está em que, como o gráfico demonstra, uns com a escola pública conseguem, outros, privatizando, não.

*obrigado ao comentador anónimo que me deixou esta ligação.

Comments

  1. vitorcunha says:

    Faz milagres: um deles é nem ter que ensinar português a iraquianos.


    • Tão complicado como ensinar sueco a filandeses, por exemplo.

      • vitorcunha says:

        Ou inglês a portugueses.


        • Por acaso já tive de ensinar português a caboverdianos, ou explicar a uma sãotomense como os fusos horários que lhe complicavam os telefonemas para o primo nos States não eram uma mania dos políticos. E gostei da experiência, ainda bem que nunca trabalhei num colégio onde não teria tido tal oportunidade.

          • vitorcunha says:

            É uma opção: ninguém é obrigado a trabalhar em colégios. Nem na escola pública, já agora.


          • Não é só uma opção: os colégios não contratam ateus. Até têm regulamentos internos que obrigam os seus funcionários a participarem na oração matinal. Tudo gente livre, portanto.

  2. vitorcunha says:

    Também não contrata comunistas. Já viu o que seria, distribuir equitativamente as notas dos alunos? O “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades” só tem piada na retórica, não cabe na sala de aulas.

    • António Fernando Nabais says:

      Ui, ó Vítor, é bem verdade: não há nada pior do que essa esquerdalhada docente que anda pelo país a dar sempre a mesma nota a todos os alunos. Ainda bem que há pessoas como o Vítor que conhecem bem as salas de aulas e as escolas para explicar ao povo o que se passa lá dentro, porque estas coisas não passam cá para fora, como qualquer escandaleira que se preze. Se, pelo menos, se ficassem por aí, não seria mau, mas não: depois das aulas, é vê-los a dar injecções atrás das orelhas aos velhinhos e a comer criancinhas ao pequeno-almoço. Obrigado, Vítor.

  3. Eduardo says:

    A estupidez e a mesquinhez desta discussão é própria de pessoas insignificantes e torna insignificante quem com ela se preocupa. Toda a conversa se resume à ideia de que este governo ou o anterior têm alguma responsabilidade na matéria, o que é falso. Até o mais idiota sabe que o sucesso escolar (ou o insucesso) decorre de inúmeros factores e de um enquadramento espacial que abarca os jovens desde o seu nascimento e os seus pais. É, pois, resultado de DÉCADAS e não mérito súbito de um determinado governo coetâneo.
    Xiça, que até apetece esbofetear esta elite comentadeira e bem paga, com empregos e vidas confortáveis, mas que parece não ter mais do que serradura no lugar dos miolos. É esta mesma ignorância e a presunção de saber de tudo que caracterizam os nossos políticos e são a primeira causa da crise infinita em que caímos


    • Não por acaso, e sobre o PISA, prefiro discutir esta vertente a perder tempo com as imbecilidades socretinas que por aí andam. Uma questão de higiene perante a ignorância, precisamente.

  4. nightwishpt says:

    Esta direita mete nojo e não percebe nada de nada.Infelizmente, grande parte dos portugueses também prefere desligar o cérebro e acreditar em “factos” que simplesmente não existem.


  5. Ó João José, aí os privados também já começaram a contratar “professores” – perdão, “auxiliares educativos”, i.e. “teaching assistants” – com o 12o. ano, pagar-lhes metade do salário dos professores estagiados ou pô-los em “contratos de zero horas”, e depois atirá-los ao charco com 7 e 8 e 10 turmas e sem formação – e isto porque entretanto, com os cortes e poupanças da praxe, metade dos professores, ou seja, os a sério, com habilitações e formação pedagógica e estágio, i,e,, licenciatura de ensino [ou licenciatura + PGCE (pós-graduação em ensino)] e QTS (Qualified Teacher Status), foram despedidos…? E já se começou a exigir que os professores, seja de que disciplina forem, se prestem a dar aulas seja do que for quando tal seja necessário ‘para tapar buracos’ – por exemplo, um professor de matemática dar aulas de geografia, ou drama, ou francês, ou história? Sabendo que se o não fizer será avaliado negativamente e tornar-se-á automaticamente o primeiro em fila de espera para o novo surto de despedimentos?

    E vamos a ver, daqui a uns anos, quando pelas terras da sua majestade (e creio que pela mesma altura, mais coisa menos coisa, também por Portugal) começarem a chegar ao PISA os frutos destas “reformas”, ou seja, as criancinhas totalmente educadas debaixo deste sistema… ai, aí é que vai ser! O que eu sei é que, pelos meus círculos pelo menos, até ficámos bem admirados do nível que a Inglaterra atingiu, porque sinceramente toda a gente que eu conheço ligada ao ‘secundário’ acha que os alunos estão bem aquém dos resultados, e os que nos chegam ao primeiro ano da universidade… enfim.

    Espere(mos) para ver. Assim como assim, é absurdo (e há muito que deixou de ser hilariante ou mesmo só anedótico) o modo como Portugal e a Inglaterra (e não só…) parecem andar a jogar ao apanha em termos de políticas desastrosas… E já agora: porque é que anda certa gente tão caladinha sobre os EUA (onde se não me engano as tais ‘políticas’ foram introduzidas algum tempo antes das nossas) …? Será que é de repente invisível, esse paraíso neo-liberal aspiracional?

  6. UI10 says:

    Não tem de agradecer o link, caro João José Cardoso.

    Os resultados dos estudos PISA, apesar de válidos, não podem ser tidos como a derradeira ou a única forma de análise do ensino. A “qualidade” ou a “competência” são conceitos de uma mais complexa dimensão. E essa é a perversidade dos rankings, apesar de estes não serem um atentado à mais elementar metodologia científica (como acontece com o dito “ranking” das escolas)

  7. frety says:

    Este vitor faz justiça ao nome. Deve ter uma bela cunha para que lhe paguem uma avença a escrever textozinhos, comentariozinhos. Ah e a jogar futebol, a julgar pelas vezes com que chuta para canto. E agora nem empresta a bola dele se os outros mininos nao jogarem como ele quer. Rapaz, és mesmo menino, mas nao brilhante. Fica bem, que ja nao te incomodo mais.


  8. Sempre ouvi e cada vez penso que encerra muita sabedoria a frase de que se é mau juiz em causa propria. Como se pedeem todas as areas transparencia e escrutinio claro e constante, só posso atribuir a tanta narrativa e pouca substancia os comentarios sobre avaliação e educação. Ao repetirem as mesmas letras tanta vez até se autoconvencem que dizem coisas importantes.Sejam humildes e aceitem que sejam os outros a julgarem dará uma imaagem mais aproximada do que tem que mudar.

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  2. […] Electrotécnica, com fotografia e tudo. Quero desconfiar que quem escreveu barbaridades a este nível, ou este, ou se espalha na matemática desta forma, a ensinar engenharia electrotécnica das […]


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