O imparável *contato

Acabo de saber, através dos Tradutores Contra o Acordo Ortográfico, que o Jornal de Notícias decidiu perguntar, há cerca de um mês, se “faz sentido que Portugal continue a liderar o Novo Acordo Ortográfico ou estamos a falhar os objetivos [sic] e o Acordo deveria ser suspenso?”.

É absolutamente extraordinária a resposta dada por Joaquim Azevedo, “diretor [sic] da Escola das Artes da Católica Porto”:

O Acordo deve prosseguir o seu rumo, é um processo imparável, mormente por ter entrado inteiramente em todo o sistema nacional de educação.

Convinha que Joaquim Azevedo se debruçasse sobre alguns dos textos escritos na instituição que dirige, para se pronunciar com alguma exactidão acerca das actuais condições ortográficas do “sistema nacional de educação”.

UCP

O insignificante mercado interno

Da forma mais simplificada possível, o que é a política de austeridade? Eu que não sou académico vejo a coisa assim: o estado reduz drasticamente o investimento na economia interna, aumenta os impostos, corta nos salários, pensões e apoios sociais e despede trabalhadores para ter dinheiro para cobrir o défice e reequilibrar as contas públicas. Sim, eu sei, é uma explicação muito limitada, mas é aquela que a maior parte das pessoas conhece.

Acontece que as contas continuam fraquinhas e isto não está com aspecto de melhorar. Se calhar a austeridade não funciona. Já há algum tempo que andam por ai uns perigosos radicais de esquerda (que até têm uns prémios Nobel), que dizem mesmo que a boa da austeridade ainda piora a situação. Mercado interno, espiral recessiva blá blá blá… Fundamentalistas. Incitam-nos a dizer não a mais austeridade!

Mas os gajos que mandam nisto insistem que é mesmo por ai. Austeridade para a frente! E no meio de tudo isto, o “insignificante” mercado interno vai desaparecendo nas brumas da espiral recessiva. Ficam os hipermercados e as exportações. God save PSI-20 and the Netherlands!

Viva Matic!

Sim, conseguiu. Agora, força e encore.

O povo dos talões

A medida da nossa mansidão, ocorreu-me há dias, está também no zelo quase religioso com que usamos os talões de desconto.

Somos gente que conserva com desvelo de coleccionador os talões de desconto na carteira, para logo desenrolá-los como pergaminhos de cada vez que chegamos à caixa do supermercado. Só um povo paciente como nós é capaz de conservar talões na carteira durante semanas, ou mesmo meses, para que nos descontem vinte cêntimos num pacote de arroz ou nos ofereçam um pacote de leite a juntar aos seis que levamos. É preciso um povo assim para aguardar, serena e solidariamente, que quem está à frente no caixa use todos os talões que juntou – o cartão de desconto, o vale que só dá para a embalagem de meio quilo de asinhas de frango, os pontos que se acumularam do material escolar do puto – sem bufar, sabendo que aqueles cêntimos fazem uma grande diferença no orçamento daquela família. [Read more…]