No seu artigo no Público de sábado, Pacheco Pereira entende as mentiras do Primeiro Ministro e a densidade que o mesmo concede à sua própria palavra como fruto de uma geração de políticos que se caracteriza por um “amoralismo que não é um pragmatismo”, nem sequer “um oportunismo”, mas “uma ignorância e uma indiferença, um egoísmo obsessivo, mas de muito pouco alcance”. Mais tarde, salientando que a sua vigarice vocabular não é sequer muito sofisticada e que “o dolo é muitas vezes grosseiro”, conclui que é obsceno e imoral o Primeiro Ministro tratar assim as pessoas.
Pacheco Pereira é um esteta e a sua insuficiência enquanto político nesse simples facto radica. A geração de políticos a que se refere quando pensa no Primeiro Ministro não é propriamente amoral porque a ideologia que subscreve é todo um programa de vida que se tece numa extensa rede de cumplicidades. Passos Coelho e os seus acólitos obedecem a um preciso código recheado de imoralidades, nos termos do qual os fins justificam os meios e os meios justificam qualquer fim,independentemente da vítima e mesmo do resultado.
Mas a honestidade que tão descaradamente repudiam não é só um princípio moral. Na primeira cadeira que fiz na Faculdade de Direito aprendi que o primeiro dos três preceitos jurídicos com base nos quais seria possível articular a vida em sociedade, tal como enunciados pelo jurisconsulto Ulpiano, era o “honeste vivere”, a que se seguia o “alterum non laedere” (não prejudicar o próximo) e o “suum cuique tribuere” (dar a cada um o que é seu).
Actuar fraudulentamente para se fazer eleger e manter um discurso onde a falsidade é o motor de atuação não é apenas uma conduta imoral, é uma conduta contrária ao direito, ilícita e, na circunstância, danosa. Viola o contrato social, as expectativas e confiança democráticas, o princípio da soberania popular. Mas também, nos seus resultados, os direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana.
Está descansado, primeiro falsário, havemos de lá chegar…
Esse Pacheco parte de uma frustação para uma embirração e, aí chegado, pega na abundante bibliografia moralista e desp+eja-a num território em que se enterrou a moral política há 40 anos, em nome da democracia e da resultante exigência de haver esse jogo sem regras designado por ‘luta política’!
No entanto, sabe não poder impoôr o receituário a todos sob pena de que o tomem por estúpido, pelo que se recreia a zurzir o objecto da sua embirração.
Parabéns pelo texto! Espero sinceramente que lá cheguemos e que os primeiros falsários deste país paguem um preço elevado pela “ramboia” em que andaram. Para já estão bem protegidos pelas suas clientelas e pelo seu exército de boys jotinhas sem cérebro mas há que manter a esperança num futuro melhor onde as ovelhas se limitem apenas a ser ovelhas!
Obrigado. É de facto preciso insistir na tosquia…
Ouviu dizer que um politico até podia mentir, vai daí,e olha que o gajo é bem bom