Vítor Rua: o que ser músico significa

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Imagem daqui

A TSF tem uma rubrica chamada «A Playlist de…» (e a palavra playlist estraga logo tudo). Toda a sorte de mais e menos famosos entregaram já nas mãos da TSF as suas preferências musicais, confidenciando na rádio as histórias e razões ligadas às escolhas que compõem a dita … playlist, assim chamam na TSF à música da vida das pessoas. A ideia – pôr no ar música escolhida por quem a ouve e gosta dela, pelas razões particulares que nos ligam às coisas – é em si boa. É o tipo de programa que fica sempre bem numa rádio que quer ser o espelho da sociedade a que as suas emissões se destinam. É também um dever de pluralidade e de memória, em favor da música de diferentes gerações. A música que cada um ouve é uma parte de si. Para aqueles que não se importam de a partilhar, uma rubrica assim vem a calhar – e sortudos os que possam ouvir com agrado, e se possível empatia, essa música de razões subjectivas que a rádio transmite.

Mas a música que cada um ouve é também uma caixa de mistério, uma escolha que em princípio não responde a nenhuma razão mercantil, e que habitualmente não passa na rádio. Isso é bom, uma lufada de ar fresco na névoa pesada e repetitiva da música para grande consumo com que constantemente nos moem o juízo (mas não foi sempre assim). Claro que melhor ainda seria a rádio deixar-se justamente de playlists, que não servem nem a música nem os verdadeiros músicos (que também os há falsos, em grande número até), mas os interesses intermediários e parasitas da criação musical e das indústrias que gravitam em torno dela. Sucede que a dado passo também as rádios sucumbiram aos imperativos dos mercadores de discos, concertos e cervejas, e estragaram tudo (mas a XFM existiu mesmo, e não é possível esquecê-la).

Vem tudo isto que já vai longo a propósito da entrevista que Fernando Guimarães, homem da rádio e também do Aventar, fez a Vítor Rua, uma pessoa que aposto que jamais aceitaria participar numa rubrica chamada «A playlist de…». Quer-me parecer que só pelo nome recusaria. Mas não só, porque há coisas a que ele não se dispõe mesmo (felizmente não andamos todos ao mesmo). Uma grande entrevista (longa, sumarenta, e excelentemente editada), em que Rua diz verdadeiramente o que pensa sobre o que é ser um músico num país onde ser um artista continua a não ser lá muito normal – caminho certo para a marginalização e a miséria, induzidas por todos os que não percebem (a maioria, raios) por que razão haveriam os artistas de ganhar a sua vida fazendo o que mais gostam e melhor sabem.

Comments

  1. Obrigado Sarah <3

    • Sarah Adamopoulos says:

      Obrigada eu, por dizeres o que mais ninguém se atreve.

      • Eu agradeço mas se calhar era preferível para mim, não ser assim: hoje seria comendador e teria um morro no Alentejo… Assim, não sei se tenho trabalho amanhã… Mas prefiro assim!… Podem-nos tirar tudo menos a dignidade. Beijo do Vítor

  2. Luis Vieira says:

    Grande Vitor Rua!

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