A baixa política e o baixo jornalismo franceses geraram Valérie Trierweiler, uma cara bonita que aos 23 anos se agarrou com unhas e dentes (literalmente) à corda de ascender socialmente. Valérie era pobre mas aquilo não ía ficar assim. Ensombrada por essa infância de pobreza e por um casamento que não a tirou de lá, muito pelo contrário pondo no Mundo três filhos para criar, Trierweiler (nome do pai dos seus filhos, Massonneau de seu apelido de solteira) descreve no seu livro-vingança, escrito com a raiva do despeito, um começo de vida que evoca um famoso livro de Christiane Rochefort, Les petits enfants du siècle (1961): estimulado pelas ajudas estatais à natalidade, um casal em dificuldades esmifra-se por gerar a descendência que lhe permitirá comprar os electrodomésticos com que sonha. Despeito é a palavra que domina o livro, visando antes de mais François Hollande que, como a maior parte dos homens faz, trocou uma mulher na meia-idade por uma mais nova, mas talvez e sobretudo a mulher anterior: Ségolène Royal, mãe dos quatro filhos de Hollande a cujos poderosos calcanhares influentes Valérie tenta sem sucesso chegar.
Embora ciente da ironia do destino que expõe com crueldade o ciclo da infidelidade, a despeitada dedica longas passagens do seu livro-sensação Merci pour ce moment a desancar Ségolène. A actriz Julie Gayet, por quem Hollande se perdeu de amores, não está isenta de culpas, mas a pior de todas é Ségolène que, não satisfeita e tendo perdido a eleição presidencial anterior, se abalança em 2012 à presidência da Assembleia nacional de França, a câmara baixa do Parlamento francês. Supostamente em nome da defesa da separação dos poderes executivo e legislativo, Valérie lança no espaço do Tweeter 139 caracteres em defesa de outro candidato ao cargo, desafiando a paciência de Hollande que publicamente apoia Ségolène, «o símbolo supremo, a mãe, a intocável». Trierweiler também é mãe, «mas não a dos filhos do Presidente», e por isso não conta. Royal é uma espécie de Hillary Clinton, diz a dado passo a despeitada. O caso do tweet terá sido o começo do fim para Trierweiler.
Pelo meio, a best-sellerista vai descrevendo a sua triste vida privada de “First Girl Friend”, como lhe chamavam os norte-americanos por não ser casada com Hollande, e os encontros com este e aquele, no âmbito das responsabilidades de Estado que, como mulher de Hollande, teve de acompanhar. O dia em que se encontrou pela primeira vez com Angela Merkel, por exemplo, que a convidou para ir ao festival de Bayreuth.
Interessa-me pouco esta senhora, que não fosse ter uma relação com Hollande jamais teria saído do anonimato… Uma vez que não consumo literatura de bordel, perdão de cordel ou jornalismo cor de rosa, passo à frente.
O que mudou em França desde Mitterrand? Primeiro foi Sarkozy, agora Hollande…