A Repsol e as bicicletas

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Será que a Repsol se esquece que a grande maioria dos ciclistas têm também automóvel, onde muitas vezes fazem centenas de quilómetros com a bicicleta no seu interior para participar em eventos desportivos, tendo de o abastecer? 

 Rui Sousa

Durante muitos anos, quer em Portugal quer na Europa, a prioridade foi o automóvel.
Para ligar as principais cidades, construíram-se auto-estradas e vias rápidas que permitem agora viajar em segurança e com maior rapidez. Dentro das cidades, ao maior aumento do uso do automóvel, as autoridades locais responderam com vias rápidas, auto-estradas urbanas, parques de estacionamento em altura ou subterrâneos, grandes rotundas e uma complexa rede de semáforos geridos centralmente.
Os rendimentos das famílias aumentaram e o automóvel felizmente deixou de ser um bem acessível apenas a uma minoria abastada.

Mas nas cidades o limite foi atingido. Com cada vez mais carros a circular, já não é possível criar mais estradas, mais parques de estacionamento, mais rotundas. Por mais inteligentes que sejam os semáforos, não conseguem lidar com carros que vêm de todos os lados. Para ter mais carros, é preciso tirar espaço às pessoas. E sem pessoas, não serve de nada ter carros.

Poluição sonora, visual e atmosférica. Horas perdidas em engarrafamentos. Peões convidados a não circular a pé. Crianças proibidas de brincar na rua. Milhões cobrados em impostos para gerir um sistema viário cada vez mais caro, mais inútil e perigoso.

A partir dos anos 70 do seculo XX, as pessoas que antes tinham votado em quem construía estradas, começaram pedir mudanças. Primeiro apenas em alguns países, mas pouco a pouco as suas ideias e modo de vida foi-se espalhando por toda a Europa.

Portugal viveu algo idêntico ao período pós-guerra europeu apenas na década de 80. Depois desses anos e com algum atraso, também cada vez mais gente percebeu que é preciso devolver as cidades às pessoas, ao mesmo tempo que se acaba indirectamente por dar melhores condições a quem precisa mesmo de usar ao automóvel nas cidades.
A aposta é cada vez mais em melhores passeios, ciclovias e transportes públicos. Andar a pé, de bicicleta e de transportes públicos, exactamente por esta ordem, deve ser a prioridade de na gestão das cidades.

A indústria automóvel começa a acordar para esta nova realidade. Se quer sobreviver, tem de mudar o foco da sua comunicação.

As cada vez mais pessoas que dão prioridade a andar a pé, de bicicleta ou de transportes públicos, vão continuar a comprar carros e a utilizá-los. Muita da publicidade actual já nada lhes diz. Vão querer comprar (ou partilhar) carros ecológicos, económicos, silenciosos, com sistemas de segurança para os ocupantes e demais utilizadores das ruas e fáceis de conduzir. As marcas históricas que compreenderem isto vão sobreviver. As outras vão ficar para trás em poucos anos.

Face a este contexto, é com alguma surpresa que se olha para um outdoor que a empresa petrolífera Espanha Repsol colocou na rua nos últimos dias.

Nesse cartaz aparece a foto de um grupo de ciclista, a ocupar toda uma estrada, no que parece ser uma prova desportiva, com o trânsito condicionado. Por baixo a legenda “Há coisas que não vai querer prolongar”.

Ou seja, segundo a Repsol, as bicicletas são as culpadas das horas intermináveis que os seus clientes perdem parados nas estradas, a queimar inutilmente o combustível que vendem. Deviam ser retiradas das estradas, para que os seus clientes possam circular à vontade.

Quando em Portugal e especialmente em Espanha, se discutem e tomam medidas sérias para melhorar a segurança do número crescente de utilizadores de bicicleta, a Repsol tem a oportunidade e os meios para apelar a uma melhor convivência entre todos. Mas prefere, de uma forma pouco subliminar, aumentar a hostilidade dos automobilistas contra os ciclistas.

Será que a Repsol se esquece que a grande maioria dos ciclistas têm também automóvel, onde muitas vezes fazem centenas de quilómetros com a bicicleta no seu interior para participar em eventos desportivos, tendo de o abastecer? E que esses ciclistas têm amigos e familiares a quem podem pedir para não abastecer na Repsol?

Será que na Repsol sabem que é muito difícil ganhar clientes com publicidade, mas é muito fácil afasta-los durante muito tempo com um mau anúncio? Um anúncio de uma empresa da dimensão da Repsol não é testado e visualizada por muita pessoas, antes de ser publicada? Como foi possível um erro destes?


Comments

  1. Os rendimentos das famílias aumentaram e o automóvel felizmente deixou de ser um bem acessível apenas a uma minoria abastada.!

    Esta está divertida 😆

    O que se modificou foi a facilidade de as vastas MANADAS de escravos boçais terem acesso à EMISSÃO DE DIVIDA junto dos terroristas financeiros, vulgo bancos! Se assim não fosse coordenado entre bancos e construtores não haveria mercado nem os tão desejados milhões de milhões de LUCROS!

    Se assim não fosse, faz lá as contas (de cabeça) e partilha o resultado de tal conclusão… ou não!

    😎

  2. 😆 outra…
    Será que na Repsol sabem que é muito difícil ganhar clientes com publicidade, mas é muito fácil afasta-los durante muito tempo com um mau anúncio?

    Não subestimes a capacidade quase ∞ que a MANADA tem para cagar de alto para tretas destas!

    Ou já te esqueceste disto?

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