Joe Right, professor numa próspera, embora pequena, cidade do Sul dos EUA, dirigiu-se à sua escola onde iniciaria mais um feliz dia de trabalho. Estava uma manhã quente, pelo que Joe estacionou o seu carro – um híbrido, claro, era preciso dar o exemplo – junto à pastelaria que havia ali, frente à entrada da escola. Saiu do carro, resistiu a acender um cigarro – estavam por lá alunos e alunas e o exemplo,não é…- e entrou. Pediu uma Coca Cola – diet, claro, o exemplo…- que acompanhou com umas bolacha sem glutém, sem açúcar, sem lactose – o exemplo…-, cujo gosto, suspeitava Joe, não seria muito melhor que o do cartão em que vinham embaladas.
Dirigiu-se à sua sala de aula. Os alunos e alunas – nunca esquecer de enumerar os dois géneros, pelo menos, lembrou, de si para si, Joe – enchiam a sala. Joe gostava deles e da sua profissão. Ultimamente sentia, porém, algum embaraço. Tinha-se preparado para abordar algumas obras literárias de que gostava, mas parece que, agora, não seriam admitidas por conterem elementos politicamente incorrectos.
Olhou para as suas notas: The Adventures of Huckleberry Finn; The Adventures of Tom Sawyer, de Mark Twain, To Kill a Mockingbird, de Harper Lee, estavam entre os novos livros malditos. Parece que falavam de racismo e alguns personagens tinham falas inconvenientes. Além da sua convicção sobre o mérito literário das obras, Joe sabia bem que nenhum dos autores era racista, pelo contrário. Eram conhecidas as posições ardentemente anti-esclavagistas e igualitaristas de Mark Twain. De Harper Lee nem valia a pena falar. Mas, por razões ponderosas, eram ambos considerados… maus exemplos. Depois de muito pensar, optou por falar aos alunos em Melville e no magnífico Moby Dick. Por hora ainda não tinha sido questionado, mas o facto de se especificar que a baleia era branca não augurava nada de bom. Assim, tirou o livro da pasta e abriu-o sobre a secretária.
Retirou ainda da pasta a sua a sua Magnum 44 – “a arma mais poderosa do mundo”, garantia Dirty Harry – e depositou-a ao alcance da sua mão direita – nunca se é demasiado cauteloso. Então, garantidas a segurança e a democracia – sempre o tal exemplo! -, começou:
– “Call me Ishmael…”
Nada como o teste da realidade.
Autoridades e as escolas, democraticamente, escolhem o seu perfil: com ou sem Magnum 44.
Depois é só esperar um tempito.
As estatísticas mostrarão, preto no branco, quantos alunos sobreviveram incólumes nas com, e nas sem, Magum 44.
O mesmo brilhante método se pode aplicar às armas nucleares. Serão elas necessárias para um país se defender? É só uma questão de esperar um tempito.
As estatísticas mostrarão, preto no branco, quantos países sobreviveram incólumes nas com, e nas sem, arsenal nuclear. Não sei é se haverá alguém para tirar conclusões, mas isso é certamente um problema secundário.
É irrelevante. Preto no branco.
https://www.vox.com/policy-and-politics/2018/2/24/17048720/florida-shooting-law-enforcement-gun
A sociedade americana é a sociedade americana.
Eles próprios encontrarão o seu caminho com mais ou menos armas. Isso é um assunto deles. Nós temos de cuidar dos nossos assuntos.
Como sabem, os EUA nasceram do caldo dos aventureiros, dos desgraçados da vida na Europa que rumaram aquelas terras e limparam o sebo aos nativos. O resto são cantigas ó rosa.
O problema é que eles também querem cuidar dos nossos problemas, e quem achar que não deve ser assim pertence ao eixo dos maus.
Os proximos maluquinhos que decidirem atacar numa escola vão, á cautela, abater os professores em primeiro lugar. Mesmo os que, ops, não transportem consigo arma nenhuma.
Ora aí está! Nem mais! Ou os polícias “cobardes” que experimentem feitos tolinhos confrontá-los com armas muito inferiores…
Só é pena o “…Por hora ainda não tinha sido questionado”. Ele há horas… infelizes
Meninos loucos são meninos loucos. Não são parvos.
Se sabem que naquela escola há pessoal armado preferem ir a uma cheia de flocos de neve.. É um alvo mais rentável e seguro, para ele.