Um poema de Ricardo Araújo Pereira, sobre bafientos beatos.
Isaltino Morais e a censura do bem
A Câmara Municipal de Oeiras, liderada por esse cidadão e político icónico e exemplar que é Isaltino Morais, decidiu censurar este cartaz, violando, assim, a liberdade de expressão de um grupo de cidadãos que se decidiu manifestar desta forma. Com a total legitimidade que o Estado de Direito lhes garante.
Estranhamente, nada ouvi ou li ainda sobre socialismo, Venezuelas ou estalinismos, o que não me pareceu estranho. Isaltino cometeu crimes, pagou por eles na prisão e agora está, como sabemos, reabilitado. Um cidadão exemplar, renascido e reeleito. De maneira que, em princípio, foi censura do bem.
Este acto de censura, contudo, foi uma das coisas mais palermas que vi desde o início das Jornadas Mundiais da Juventude. Porque ao invés de abafar a iniciativa, deu-lhe ainda mais visibilidade, garantindo-lhe a cobertura mediática que não tinha. Uma proeza, considerando que o jornalismo monotemático atingiu, por estes dias, o zénite.
E o que sucede?
Sucede que, terminado o chinfrim, e dado o destaque mediático a um caso que só o era no Twitter, em parte da bolha de Lisboa e pouco mais, a CM de Oeiras restituiu o cartaz. O milagre da reposição da liberdade de expressão. Jesus no comando é isto.
Censura má, censura boa
Decorre este mês, em Vila Nova de Gaia, a Bienal Internacional de Arte.
Entre os vários artistas que ali expõem o seu trabalho está o cartunista Onofre Varela. Até aqui, tudo normal.
Acontece que o mesmo, depois de várias pressões por parte dos curadores da exposição e das críticas que a Comunidade Israelita de Lisboa lhe endereçou, decidiu retirar um dos seus cartoons em exposição. E que cartoon é este? Trata-se de uma obra que retrata o ditador nazi, Adolf Hitler, de suástica no braço e estrela de Davi ao peito, com o seguinte texto a acompanhar: “ISRAEL TRATA OS PALESTINOS COM O MESMO DESRESPEITO COM QUE HITLER TRATAVA OS JUDEUS.” (cartoon em baixo)
Primeiro, urge perguntar: por que é que uma comunidade de Lisboa se insurge contra uma obra exposta em V.N. de Gaia?
Segundo: percebe-se que a obra possa chocar; mas não é essa, também, um dos objectivos da arte, especialmente da arte de intervenção política e social?
Em terceiro lugar, mas mais importante: as críticas são perceptíveis – a verdade costuma aleijar. Não creio que o artista Onofre Varela tenha tido por objectivo “desvalorizar o nazismo” mas, por contrário, deixar a nu a brutalidade do regime neo-fascista de Israel e, consequentemente, chamar a atenção para a limpeza étnica levada a cabo pelo extremismo sionista e para o apartheid imposto aos palestinianos.
À censura imposta pela Bienal a pedido da Comunidade Israelita de Lisboa, a Câmara Municipal de Gaia diz não se rever em práticas censórias, mas aplaude a retirada do cartoon [sic].
A cartada do Holocausto, tão usada para justificar as atrocidades que o Estado israelita pratica nos Territórios Palestinianos Ocupados, já não cola (a não ser nos indefectíveis sionistas e nos incautos que acreditam que ter sofrido com o nazismo justifica práticas nazis por parte de quem sofreu com o nazismo).
Em suma, censurar tal obra, por contraditório que possa ser, coloca os censores mais perto dos nazis. E isso é um desrespeito para com os milhões de judeus espalhados pelo mundo.

A obra de Onofre Varela foi mandada retirar da Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Gaia, a pedido da Comunidade Israelita de Lisboa – aqui fica, para provar que atitudes censórias têm, por norma, o efeito contrário ao pretendido.
Pela criação de uma Entidade Reguladora da Charlatanice
Se estamos numa de apelar, queria aqui apelar à criação da Entidade Reguladora da Charlatanice, para supervisionar vendedores de curas milagrosas a troco de dízimos, personal coaches de cenas cósmicas, que garantem que ficamos milionários se quisermos muito, e burlões populistas com santos no calçado e lágrimas de crocodilo. São mais perigosos que a unipessoal do André Ventura. Porque André Ventura, honra lhe seja feita, diz ao que vem. Os charlatões são mais dissimulados. Todo o cuidado é pouco.
O cabotino populista e a censura
Aqui há dias, André Ventura disse tudo o que queria dizer na Assembleia da República. Santos Silva, Presidente da Assembleia da República, interrompeu para deixar um reparo, tendo o dito Ventura retomado o seu discurso para dizer tudo o que quis dizer.
Enquanto dizia tudo o que quis dizer e depois de dizer tudo o que queria dizer, André Ventura fez-se de vítima, erguendo um queixo queixinhas e cabotino, pior do que o pior actor de um western spaghetti. Queixou-se – depois de ter dito tudo o que queria dizer – de que tinha sido alvo de censura e chegou, até, a invocar o 25 de Abril.
Ainda estão vivas pessoas cujos textos foram censurados e cujos livros foram proibidos. André Ventura sabe isso muito bem, mas não é um português de bem. Mesmo não merecendo o 25 de Abril, tem direito à liberdade de expressão.
Gabriel Mithá Ribeiro, o doutorado útil do Chega, explicou, por assim dizer, que o racismo acabou com a dissolução formal do Apartheid na África do Sul, em 1994 – ou seja, num dia, havia racismo e, no dia seguinte, a partir de uma determinada hora, já não havia (sim, isto é afirmado por alguém que usa o título de historiador). Pela mesma razão, a censura, a partir do momento em que foi legalmente abolida, também não pode existir. Mithá Ribeiro, que é o doutorado útil do Chega, deveria explicar isso ao chefe.
O Chega é uma trupe de maus comediantes com sucesso, o que é preocupante, especialmente pelo que diz de quem vota neles.
Finalmente, fazer-me ficar do lado de Santos Silva é praticamente um milagre. Chego a ter medo de vir a contribuir para a canonização de Ventura. Felizmente, existe a memória.
Pensamento único? Sei lá o que isso é!
O pessoal que questionava a política contra pandemia ou os cientistas, quando falavam sem ciência que os apoiasse, eram achincalhados. O pessoal que duvidava daquela eficácia de 90 e tal % das vacinas e da imunidade de grupo, eram apelidados de chalupas. Os que no início da invasão, antes de todas as matanças que temos visto, aconselhavam empenho aos políticos mundiais para pôr termo à guerra através de negociações conducentes a uma paz digna, eram censurados. Canais de tv ou rádio que difundam propaganda pró-russa foram silenciados, porque o povo, coitadinho, é burrinho. O PC, porque pensa diferente, deve ser eliminado. Cavaco Silva escreveu um artigo num jornal que pratica censura e é vilipendiado.
Mas eu, um dia, prometo, ainda hei-de descobrir o que é isso do pensamento único.
Rui Moreira – atitude anti-democrática deplorável
Confesso que, apesar de não ser votante de Rui Moreira, fui surpreendido pela atitude persecutória que constituiu a não autorização da cedência do Rivoli para um Concerto promovido pelo “Conselho Português para a Paz e Cooperação” apoiado pela CDU, vulgo, PCP.
Também não sou votante do PCP, mas sinto-me indignado pela atitude anti-democrática, persecutória e censora da opinião diferente, da Câmara do Porto, ao justificar a não cedência pelo facto de, nas palavras de Rui Moreira citadas pelo JN, “o Município não pode aprovar que, ainda por cima, é promovida sob a égide de um partido político que tem vindo a branquear o hediondo ataque da Rússia”.
Isto é instigação ao ódio, é a não aceitação de opinião diferente em Democracia, opinião essa que em nada belisca a nossa Constituição, é uma atitude arbitrária de um déspota eleito, que passa agora a decidir quem pode ou não aceder a espaços públicos com base na opinião!
Esta gente pretende fazer [Read more…]
Alexandre Guerreiro: o erro em fazer dele uma vítima
Fui o primeiro, aqui no Aventar, e dos primeiros nas redes a “malhar” no Alexandre Guerreiro. E continuarei a malhar no que tiver de malhar sobre as suas opiniões se com elas não concordar. Dito isto, é um erro fazer dele uma vítima e esta atitude da FDUL noticiada pela Visão é exactamente isso, fazer dele uma vítima. E é de uma hipocrisia sem nome. Alexandre Guerreiro nunca escondeu ao que vinha, sobretudo nunca escondeu da FDUL, basta ler a sua tese de doutoramento produzida, defendida e aprovada pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 2016 e não ontem…
Esta decisão é um erro crasso. Igual ao erro de calar as televisões russas ou censurar a cultura russa. Um erro e uma estupidez. A nossa diferença é essa, a da defesa intransigente da liberdade de expressão.
O Putin da RFM
Lembro-me de uma polémica com a Rádio Renascença lá para os finais dos anos 80 do século passado (não, antes que me perguntem, ainda não tenho 100 anos).
Descobriu-se, nessa altura, que a emissora católica tinha uma lista de músicas proibidas, porque contrárias à Fé católica. Como o «Menino do Bairro Negro» do Zeca (Frase fatal: «Bairro negro / Onde não há pão / Não há sossego»); «Cálice» do Chico Buarque (Frase fatal: «Pai / Afasta de mim esse cálice (Pai) / De vinho tinto de sangue»); ou o «Vídeo Maria» dos GNR (Frase fatal: «Por parecer latina/ Suponho que o nome dela é Maria / É casta, eu sei, se é virgem ou não / Depende da tua fantasia»).
Recordo, a propósito, a forma ousada como o PSR, nos Tempos de Antena para as Legislativas, através da voz de António Macedo, emitia essas músicas precisamente na Renascença, acompanhada das denúncias ao comportamento da Emissora.
Décadas depois, a RFM, chancela da Renascença para um público mais jovem, refinou o lápis azul da censura. Agora, censuram também as músicas estrangeiras mas de forma subtil. Quando chega a altura do palavrão, ouve-se um silêncio tão rápido que só dá pela putinice quem estiver atento e conhecer bem a música. [Read more…]
Que se foda Putin e que se fodam os controleiros

Fruto do brutal policiamento da linguagem em curso, que atingiu proporções inimagináveis (e estupidificantes) desde o início da invasão da Ucrânia, vivemos hoje dias orwellianos, caracterizados por sucessivos fatwas dos jihadistas que garantem o cumprimento da nova sharia, que ordena que toda e qualquer análise dos acontecimentos que não esteja alinhada com a narrativa dominante e com os cânones do políticamente correcto deve ser chicoteada, torturada e abatida.
Ultimamente, tenho escrito amplamente sobre a situação na Ucrânia, de várias perspectivas, nas várias redes que utilizo. Neste meu cantinho no Aventar, onde me dedico a analisar os factos, na minha perspectiva e com as minhas limitações, recorrendo a factos, condicionais contrafactuais e outros aspectos relacionados com o que se passa de facto na Ucrânia, tenho sido acusado, amiúde, de estar alinhado com a propaganda de Vladimir Putin. A essas pessoas, com muita franqueza e com todo o respeito que me merecem, queria dizer-lhes o seguinte:
- Ide-vos foder.
Dicionário de Guerra: Português – Correctês
À medida que a invasão de Putin avança, aperta-se o cerco da liberdade de expressão. Mas esse cerco, lamentavelmente, não se resume à trincheira do tirano russo. Aqui pelo Ocidente, à caça às bruxas está ao rubro. De maneira que quem não debita a narrativa oficial é pró-Putin, quem questiona os antecedentes da invasão é pró-Putin, quem ousa debater qualquer variável que coloque em causa a narrativa simplista imposta pelo novo politicamente correcto é pró-Putin. Assim estamos.
Ciente dos riscos que corro, decidi lançar esta pequeno dicionário, onde pode. Os ver algumas expressões correntes e o seu equivalente em correctês. Para ir actualizando.
[Read more…]Ao cuidado daquela malta que acha que o Facebook é uma entidade pública eleita por sufrágio universal
Acho muita piada, muita piada mesmo, à malta que se queixa da falta de democracia do Facebook, quando a plataforma restringe ou censura um conteúdo. Como se o Facebook fosse uma entidade pública eleita por sufrágio universal. A coisa torna-se ainda mais engraçada quando este tipo de críticas parte daquela malta que defende, com unhas e dentes, a liberdade absoluta das empresas privadas de fazer o que lhes dá na real gana. Pois bem, meus amigos, não sei se já deram conta, mas o Facebook é uma empresa privada. De maneira que, se não estão bem com as regras do tio Zuck, a minha sugestão é que fechem a conta e mudem de rede. Não é que não se passem as mesmas coisas nas outras redes, também elas – preparem-se para o choque – propriedade de empresas privadas, que decidem em função dos seus interesses, não da democracia ou do bem comum, mas sempre dá aquele arejo virtual. Agora misturar democracia, liberdade de expressão e decisões racionais feitas por empresas privadas no sentido de maximizar o lucro é só parvo.
Quando o cavaquismo censurou Herman José
O ano era 1996, o primeiro-ministro António Guterres e a Igreja Católica ainda não tinha vergonha de demonstrar publicamente o seu enorme poder e influência. No olho do furacão estava o sketch “A última ceia”, integrado no programa Herman ZAP, alvo de tentativa de censura pelas forças alinhadas à direita. Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD e da oposição, juntou-se ao coro de críticas da restante direita e da Igreja Católica, num esforço conjunto de cancelar o pai de todos os humoristas, mas a direcção da RTP, na altura liderada por Joaquim Furtado e Joaquim Vieira, não cedeu e deixou o episódio ir para o ar.
Desfecho diferente teve um episódio idêntico, em 1988, quando um sketch de outro programa de Herman José, Humor de Perdição, foi censurado em directo. O primeiro-ministro de então chamava-se Cavaco Silva e o controle da RTP tinha sido por ele entregue a Coelho Ribeiro, um operacional fascista da máquina da censura do Estado Novo, que o cavaquismo reciclou e colocou em posição de poder, onde teve a oportunidade de regressar à actividade censória, que, pelo menos nest caso, executou com distinção.
Cavaco Silva, que colocou um alto quadro da ditadura salazarista a controlar a RTP, não tem autoridade nem moral para falar em ataques à liberdade de expressão ou à democracia, na medida em que foi directamente responsável por alguns episódios de censura e de algumas tentativas de amordaçar a democracia. Já tem é idade para ter juízo, deixar de ser hipócrita e não fazer estas figuras.
Censura está de regresso 49 anos depois de Abril
A Assembleia da República, com os votos a favor do PS, exceptuando 4 deputados, do Bloco de Esquerda e do PAN, aprovou a primeira Lei de censura após 49 anos de liberdade de expressão que o 25 de Abril nos concedeu.
Apelidaram a Lei n.º 27/2021 de Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, não curando saber que a internet foi o maior passo que demos para a liberdade de expressão em todo o mundo, mesmo para os opositores nas ditaduras, uma vez que ela não se circunscreve à liberdade dos jornalistas!
A liberdade de expressão é uma dos Direitos constitucionais e é protegida pelo Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que transcrevo:
“Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.”
Repare-se que não [Read more…]
Junta de Boys ou a Intolerância Política à Lactose
Em 2018 um conjunto de bracarenses criou um programa de autor na RUM – Rádio Universidade do Minho, chamado “Junta de Boys”. Sublinhe-se a originalidade do nome para um programa divertido com o fito de analisar a realidade local. Segundo sei, um (ou mais) dos seus autores pertenceram, nos idos de 90/00, ao blogue “Avenida Central”, um dos melhores blogues locais/regionais da época e que foi uma enorme dor de cabeça para a Câmara Municipal de Braga liderada, à época, por Mesquita Machado (PS). Aliás, sobre isso, cito um dos autores:
Já não é primeira que um projeto de discussão da política local em que participo é objeto de censura súbita… O primeiro caso teve a ver com as Conversas Desbragadas, do ProjetoBragaTempo, em 2001. O objetivo era debater a cidade de Braga com especialistas, de forma informal, com entrada livre e participação do público. Parece simples mas gerou – e ainda hoje geraria – imensa animação que foi bem aproveitada pelos muitos jornais que tinham sede ou delegação em Braga em tempos de cinzentismo mesquitista. As Conversas realizaram-se no salão do Ferreira Capa e, no dia da 3ª Conversa, avisaram-nos que seria a última. Claro que as Conversas não pararam e mudaram-se logo para o antigo Nosso Café [que nunca pôs quaisquer entraves]. Muitos anos depois foi a vez da Revista Rua. Com o propósito assumido da polémica nascia a rubrica Avenida da Liberdade. Eu escrevia à esquerda e o Rui Moreira à direita. Escrevemos o que entendemos sobre o mesmo tema durante várias edições até que a direção nos pediu uma pequena pausa… Até hoje! Coincidência: logo depois, a Rua entrevistou com grande destaque o Presidente da Câmara e passou a celebrar contratos com o Município… (Luís Tarroso Gomes, Junta de Boys)
Ora, nestas coisas o poder político lida sempre muito mal com a crítica. E nestas matérias, nenhum partido é virgem. O mesmo Luís Tarroso Gomes explica: “A origem da censura também é difusa, e normalmente, radica em interesses económicos indiretos. Por exemplo, a Câmara de Braga não dá dinheiro à imprensa, através das mais diversas vias e contratos, para que a imprensa se cale. O que faz é dar quantias suficientemente generosas para que esses órgãos de comunicação, frágeis pela quebra de receitas publicitárias, fiquem agarrados a esse apoio. E por sua vez estes tornam-se mansinhos para assegurar a renovação do apoio assim pondo em causa a fiscalização democrática. Se fosse num governo seria um escândalo. Mas a nível local pode fazer-se quase tudo sempre em perfeita impunidade“. Nesse aspecto, o chamado “Poder Local” aplica a censura com uma facilidade impressionante. O caso de Braga não é único nem novo. E nem tão pouco é distinto do que se passa em autarquias rosa, laranja, azuis ou vermelhas.
O Index e a nova Inquisição
Quem nunca ouviu aquela boa velha linha, que vai mais ou menos assim: “só dás valor às coisas quando já não as tens”? Eu já ouvi, várias vezes, em vários contextos e por vários motivos. A propósito dela, da boa velha linha, há algo que, em certos países, se está a perder. Um algo ao qual talvez não estejamos a dar o devido valor, e que, suspeito, estamos em risco de perder. E não é um algo qualquer. É o jornalismo, um dos pilares que sustenta o edifício das sociedades democráticas. Mais ou menos independente, a morte do jornalismo profissional é uma tragédia para a democracia. E está a acontecer. Aqui e agora, na União Europeia dos direitos humanos e da liberdade de expressão.
O jornalismo pode morrer de muitas maneiras. A mais comum e eficaz é a morte por autoritarismo. Chame-se o que se lhe quiser chamar: autoritarismo, nacionalismo, democracia iliberal ou totalitarismo. Ou o bolsoliberalismo evangélico, subespécie alternativa e ainda pouco estudada, que destrói o jornalismo ao mesmo tempo que cria páginas no Facebook e no Twitter, com pastores evangélicos que pregam o criacionismo e a teologia da prosperidade, através da qual burlam a ignorância e compram bons helicópteros. Com mais ou menos porrada, mais ou menos exploração, vai tudo dar – literalmente – ao mesmo. [Read more…]
Censura fake em Viana do Castelo (com o alto patrocínio de Nuno Melo)
O grande incêndio do passado fim-de-semana, no mundo paralelo das nas redes sociais, foi o vídeo de uma escola de dança de Viana do Castelo, alusivo às festas de Nossa Senhora da Agonia, alegadamente censurado pelo Facebook, devido a denúncias de racismo.
Fui ver o vídeo, que me chegou via WhatsApp, sem ponta de racismo por onde se lhe pegasse, e, quando dei por mim, o incêndio já consumia centenas de hectares virtuais no Facebook e Twitter. Impulsionada pela extrema-direita, nas suas versões oficial, dissimulada e “still inside the closet“, a narrativa era objectiva: a extrema-esquerda antifa e anti-católica havia desferido um violento e ignóbil ataque contra as bicentenárias festas minhotas. A intolerância, o comunismo, a Venezuela e até o Estaline tinham subido à Terra para censurar as jovens bailarinas. Mais um episódio de cancel culture, marxismo cultural e mais não sei o quê. [Read more…]
André Ventura ARRASA LIBERDADE DE EXPRESSÃO e PROMETE CENSURA nas redes sociais
Se for eleito, André Ventura promete acabar com a “bandalheira” que é o Twitter. Uma bandalheira onde Ventura chafurda diariamente, como tantos porcos fascistas, e que o deputado de extrema-direita pretende monitorizar a censurar, caso vença as próximas Legislativas. Está ficar crescido, este aspirante a Estaline. Será que já começou a apagar os dissidentes das fotos?
Sem surpresas, André Ventura continua a imitar as piores práticas de Donald Trump, referência máxima dos neofascistas portugueses, a par de Salazar, Bolsonaro e Hitler. Apesar de inexistente no panorama político internacional, Ventura sonha já com o fact checker do Twitter, a sinalizar as fake news que debita diariamente, no processo contínuo de tratar os chegófilos como otários acéfalos, o que, em bom rigor, não anda muito longe da verdade. [Read more…]
Humor e liberdade
A decisão anunciada pelo New York Times de pôr fim à publicação de “cartoons políticos” é provavelmente o melhor indicador do estado geral de indigência a que chegou a democracia norte-americana sob a gestão de Donald Trump.
Na origem desta atitude está a publicação, em Abril passado, de um desenho de António – porventura o artista gráfico português mais conhecido e reconhecido internacionalmente – satirizando a relação subserviente do presidente dos EUA para com o primeiro-ministro de Israel. [Read more…]
Ide ler sobre as maravilhas do artigo 13.
Ganhou o lobby das editoras. Os tótós dos autores acham que foram eles que ganharam.
Quando vir um autor mostrar a fortuna, ou uns trocos, até, com a nova lei da rolha, garanto que como um chapéu (*).
Directiva dos direitos de autor é aprovada numa vitória para as indústrias de conteúdos
Como votaram os eurodeputados portugueses na nova directiva dos direitos de autor? Um enganou-se
Por exemplo, com a nova lei, para publicar os links em cima, o Aventar teria que pagar uma comissão ao Público. O que vai acontecer? Aqui no blogue não temos receitas, isto é mantido por carolice, pelo que se chegar a vias de pagamentos, bye-bye links (é a minha opinião e não a do Aventar – ainda não discutimos o assunto). Quanto aos gigantes, como Google e Facebook, farão, muito provavelmente, aquilo que o Google já fez em situações semelhantes. Adeuzinho hiperligações.
Quanto aos tais filtros, quem já tentou contactar o Youtube ou o Facebook sabe perfeitamente que do outro lado não há ninguém.
Contra a censura na rede
Durante todo o dia de hoje, a Wikipédia em língua alemã esteve desactivada como expressão de protesto contra a proposta de nova directiva de direitos de autor na UE. “A nossa rejeição resulta de sabermos o que significa o facto de tudo o que, de algum modo, tenha relação com conteúdos externos, ter de passar por filtros e provar a sua legalidade antes de poder aparecer”. “Haveria sempre ‘overblocking’.”
O foco das críticas são os chamados filtros de upload, programas que verificam previamente se o utilizador carrega material protegido por direitos de autor. O que vai representar o fim da Internet tal como hoje a conhecemos.
Passando por cima dos fortes protestos em torno do artigo 11.º e do artigo 13., e após longas negociações, o Conselho Europeu, o Parlamento e Comissão acabaram por chegar a um acordo em favor da nova directiva. “O PE defende que as gigantes tecnológicas passarão a ter que partilhar com os autores parte das receitas obtidas pela partilha desses conteúdos.”
Não, não estou nada a ver que isso vá funcionar. O que estou a ver é os lobbies em acção e bloqueamentos por tudo e por nada.
Para sábado estão previstas manifestações em toda a Europa e a petição pela preservação da liberdade na net, já com mais de 5 milhões de assinaturas, pode (e deve ser) assinada aqui.
No próximo dia 26 de Março, em Estrasburgo, a partir das 12:30h, os 751 deputados do Parlamento Europeu irão decidir entre apoiar uma directiva que obriga a “filtrar a Internet” ou rejeitá-la e exigir uma revisão equilibrada do texto, em benefício dos cidadãos e dos criadores.
Redes
Os senadores da opinião, com banca montada há décadas na sala-de-estar do cidadão distraído, não gostam das redes sociais.
Não foi sempre assim: Pacheco Pereira, por exemplo, alimentou durante anos o Abrupto, até 2016. E não deve ter sido apenas a decadência da blogosfera (que não medi; é uma observação impressionista) a afastá-lo, mas antes a constatação de que todo o cão e gato pode fazer, e faz, blogues.
Miguel de Sousa Tavares espumava há tempos de raiva contra o Facebook. E não é possível ler as caixas de comentários dos jornais on-line sem um sobressalto, tal o primarismo das opiniões, a violência das soluções defendidas para problemas reais ou imaginários, a ausência de gramática ou um módico de cultura geral, e o intenso ódio que se manifesta a propósito da indignação da semana.
Depois, Trump foi eleito com o subsídio do Twitter (uma rede especializada em espirros opinativos) e Bolsonaro do WhatsApp (semelhante grosso modo ao Facebook, com grande difusão no Brasil). E estes dois, Trump e Bolsonaro, carregam o ferrete ignominioso de não serem de esquerda, nem da direita que a esquerda tolera por não ser de direita – navegamos em pleno escândalo.
(Nota: Antes destes dois já Obama tinha sido eleito com grande campanha no Facebook; a esquerda, na altura, orgulhou-se, achou muito “moderno” e “despojado” e “popular”, mas agora está com amnésia). [Read more…]
Entre a censura e o negócio – Objectivo: O controlo total
Esta semana a plataforma (FB) bloqueou o acesso à ProPublica, um serviço noticioso de investigação que se especializa na investigação da qualidade cívica e que já ganhou um Pulitzer de Serviço Público. O que a Propublica fazia era um ato de transparência: expunha aos utilizadores a forma como os seus perfis eram utilizados no Facebook e que anúncios chegavam a quem, permitindo o escrutínio e forçando a transparência que são essenciais nas sociedades liberais.”
O modelo de negócio das grandes empresas digitais assenta na recolha e utilização da maior quantidade possível de dados pessoais, frequentemente de forma ilegal e certamente anti-ética. E depois usa esses dados com um determinismo sócio-tecnológico que nega o reconhecimento do indivíduo.
A Amazon, que alberga a grande maioria da internet no seu negócio de servidores, tem contratos de milhares de milhões com os serviços militares e de segurança do governo americano; a Google, que domina o negócio das nossas personagens digitais (desde as pesquisas na internet ao conteúdo dos emails) faz o mesmo e negoceia individualmente com governos vários o acesso a informações sensíveis.
A vigilância transforma-se rapidamente em controlo de formas que são cada vez mais cinzentas, como já acontece em França numa parceria entre o Eliseu e o Facebook para policiar o discurso de ódio. Some-se a isto as tecnologias de reconhecimento facial e de voz e temos todas as características de um estado policial em formação.” [Read more…]
Nossa Senhora da Censura
Isto sim, tresanda a estalinismo e fascismo por todos os lados
Imagem: Fernando Pessoa – Heterónimo, 1978, óleo sobre tela de António Costa Pinheiro
Vivem-se tempos de polarização, de radicalizações mil, marcados pelo regresso de fantasmas de outros tempos, que procuram usar a democracia e a liberdade de expressão na tentativa de as suprimir.
Fruto deste extremar de posições, que alimenta discursos cada vez mais carregados de ódio e ignorância, termos como “fascista” ou “estalinista” são usados e abusados, e servem hoje para tudo e mais alguma coisa. O governo português, por exemplo, é estalinista. Os conservadores, por seu lado, são fascistas. Hitler, segundo algumas almas perdidas que deambulam pelas redes sociais (e em alguns projectos políticos travestidos de jornais), era socialista, porque o nome do seu partido incluía o termo. Qualquer dia, ainda nos tentam convencer que a República Popular Democrática da Coreia do Norte é uma democracia. [Read more…]
O Wuant descobriu o artigo 13
Wuant, um fenómeno do Youtube com uma enorme legião de fãs, que se traduz nos seus mais de três milhões de subscritores e nos milhões de visualizações, partilhas e retweets acumulados, descobriu por estes dias o artigo 13, que – surpresa! – irá condicionar o negócio do seu estabelecimento virtual
Vai daí, o youtuber fez uso do seu poder mediático para lançar o pânico junto do seu público-alvo, pânico esse que, como seria de esperar, rapidamente se tornou viral. Pena que só agora se tenha apercebido do que aí vem. O Jorge já nos anda a avisar há mais de um ano, mas o Wuant, como a maior parte do jovens da sua idade, não deve ter tempo ou paciência para ler blogues. Ou jornais. Como é seu direito. [Read more…]
Os bufos: a propósito de Ana Caroline Campagnolo
No dia em que Bolsonaro foi eleito Presidente do Brasil, a deputada estadual Ana Caroline Campagnolo publicou a abjecção que se pode ver mais acima e que está ao nível dos delatores da Inquisição ou dos “bufos” da PIDE: o medo, a delação anónima que pode nascer de motivações pessoais, a imoralidade (mesmo que legal) de filmar às escondidas, enfim, um conjunto de circunstâncias que não podem fazer parte de uma democracia civilizada. [Read more…]
Comentários Recentes