A sério que é à séria?

lingua_portuguesa_televisaoIsaac Pereira

É um erro habitual na forma de falar, sobretudo na região de Lisboa, e em especial, ali para os lados da Assembleia da República. Mas a forma de falar também já se transpôs para a escrita. Frequentemente faz a sua aparição nos jornais e nas têvês, e agora também nos sítios “on-line”.
Isto sim, é a língua no seu esplendor mais virulento.

A expressão “à séria“, possui requintes de modo “chique-burlesco”, e é tão risivelmente paroquial e provincial que até faz um asno cantarolar. É uma espécie de modinha ou coisa que o não valha, assim, como dizer, tão “fin de siécle”, não achas ó Ramalho Ortigão?

Só escrevo isto para que te previnas. Quando leres ou ouvires alguém dizer que “isto” ou “aquilo” é uma coisa “à séria“, passa um raspanete à senhora membrana auricular e, para não chorares, esfrega a retina dos teus meninos olhinhos.

Comments

  1. ZE LOPES says:

    “Á séria”, sim, porque era uma suposta qualidade das senhoras “da alta”. As “mulheres do povo” eram, como se sabe, todas meretrizes.

  2. Luís Lavoura says:

    Já há muito tempo que o vernacular lisboeta foi transposto para a escrita. Não é raro hoje em dia ver-se escrito “descrição” em vez de “discrição” e outros erros de escrita provenientes da pronúncia lisboeta.

  3. Anasir says:

    Descrição e discrição são duas palavras de significado diferente.

  4. Fernando Manuel Rodrigues says:

    Só o parolismo lisboeta é que explica que coisas como “espetador” e “expetativa” tenham ido parar ao famigerado AO. Em mais lado nenhum ouvi alguma vez dizer “espetador”.

    O “c” da palavra “espectador” foi sempre pronunciado. Da mesma forma, sempre ouvi pronunciar “expeCtativa”. Pois não é que o ilustre “abencerragem” que foi negociar o dito “acordo” em nome de Portugal achou que a “pronúncia culta” era “espetador” e “expetativa”?

    Onde ser reforça a ideia de que basear a ortografia numa coisa mutável, permeável e altamentew regional como é a oralidade só podia dar “m…..”.

  5. Bento Caeiro says:

    Vamos ver bem as coisas. Temos, em certos casos e situações – não só em Lisboa – aquele que apenas vê (o mirone) e aquele que espeta (o espetador). Nunca por nunca o mirone (aquele que retira o prazer apenas pelo observar) se irá assumir como aquele que espeta. Até porque nestas questões, se há alguma importância na oralidade, esta advém sempre da forma como se utiliza e aprofunda a língua que, tanto poderá ser obra do mirone como do espetador. Também, por vezes, existem aqueles que esperam que – neste jogo entre mirone e espetador – lhes calhe alguma coisa. Pois, juntem-se aos mirones e que esperem – a vida está boa é para o espetador, que o diga o “AO”.

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