Isaac Pereira
É um erro habitual na forma de falar, sobretudo na região de Lisboa, e em especial, ali para os lados da Assembleia da República. Mas a forma de falar também já se transpôs para a escrita. Frequentemente faz a sua aparição nos jornais e nas têvês, e agora também nos sítios “on-line”.
Isto sim, é a língua no seu esplendor mais virulento.
A expressão “à séria“, possui requintes de modo “chique-burlesco”, e é tão risivelmente paroquial e provincial que até faz um asno cantarolar. É uma espécie de modinha ou coisa que o não valha, assim, como dizer, tão “fin de siécle”, não achas ó Ramalho Ortigão?
Só escrevo isto para que te previnas. Quando leres ou ouvires alguém dizer que “isto” ou “aquilo” é uma coisa “à séria“, passa um raspanete à senhora membrana auricular e, para não chorares, esfrega a retina dos teus meninos olhinhos.
“Á séria”, sim, porque era uma suposta qualidade das senhoras “da alta”. As “mulheres do povo” eram, como se sabe, todas meretrizes.
Já há muito tempo que o vernacular lisboeta foi transposto para a escrita. Não é raro hoje em dia ver-se escrito “descrição” em vez de “discrição” e outros erros de escrita provenientes da pronúncia lisboeta.
Descrição e discrição são duas palavras de significado diferente.
Só o parolismo lisboeta é que explica que coisas como “espetador” e “expetativa” tenham ido parar ao famigerado AO. Em mais lado nenhum ouvi alguma vez dizer “espetador”.
O “c” da palavra “espectador” foi sempre pronunciado. Da mesma forma, sempre ouvi pronunciar “expeCtativa”. Pois não é que o ilustre “abencerragem” que foi negociar o dito “acordo” em nome de Portugal achou que a “pronúncia culta” era “espetador” e “expetativa”?
Onde ser reforça a ideia de que basear a ortografia numa coisa mutável, permeável e altamentew regional como é a oralidade só podia dar “m…..”.
Vamos ver bem as coisas. Temos, em certos casos e situações – não só em Lisboa – aquele que apenas vê (o mirone) e aquele que espeta (o espetador). Nunca por nunca o mirone (aquele que retira o prazer apenas pelo observar) se irá assumir como aquele que espeta. Até porque nestas questões, se há alguma importância na oralidade, esta advém sempre da forma como se utiliza e aprofunda a língua que, tanto poderá ser obra do mirone como do espetador. Também, por vezes, existem aqueles que esperam que – neste jogo entre mirone e espetador – lhes calhe alguma coisa. Pois, juntem-se aos mirones e que esperem – a vida está boa é para o espetador, que o diga o “AO”.