Oportunismo, incompetência e uma suposta prioridade que continua a não o ser, em directo de Monchique

Fotografia via Região Sul – Diário Online

Acabo de assistir à conferencia de imprensa na qual participou o Secretário de Estado da Protecção Civil, a propósito do incêndio na serra de Monchique, que continua a lavrar sem dar tréguas, com a fúria a que já estamos habituados. Felizmente, ainda não morreu ninguém. Ainda.

A conferência de imprensa resume-se de forma simples: por um lado o governo, que se esquiva como pode das perguntas dos jornalistas, e que tenta justificar as lacunas que ainda persistem, apesar dos incêndios de 2017. Por outro um grupo de jornalistas, com ordens para não sair dali sem uma manchete polémica. A certa altura, há uma jornalista que alega ter feito um percurso alternativo à N266, afirmando ter visto muita lenha pelo caminho. O que é que isso significa? Que o governo se desleixou e deixou postos de abastecimento para as chamas ao longo das zonas criticas? Parece ser essa a intenção, apesar da falta de objectividade da jornalista, empenhada na busca da polémica que lhe garanta o máximo de clicks possível. Podia tal lenha pertencer a indivíduos ou entidades privadas, e estar empilhada no interior de propriedades privadas? Podia, mas o sensacionalismo e a indignação rendem sempre mais uns trocos. 

O governo, contudo, não fica muito melhor na fotografia. O Secretário de Estado esforça-se por defender o trabalho feito pelo governo e pelos portugueses, que fica sempre bem acrescentar os portugueses à equação, mais não seja para lhes massajar o ego, apesar da irresponsabilidade com que muitos ainda tratam a limpeza e manutenção dos seus terrenos florestais, mas dá respostas vagas, plenas de achismos, das quais a única conclusão a que consigo chegar é a de que governantes e autoridades continuam às aranhas. Sorte a deles, e nossa, tivemos o mês de Julho mais frio dos últimos 30 anos.

Um ano depois da tragédia do Verão passado, o combate aos fogos florestais continua a não estar no topo das prioridades deste governo, como nunca esteve no de governo nenhum. O financiamento de bancos falidos, as rendas clientelares pagas ao sector privado por motivos que ninguém percebe muito bem ou outros fretes que se vão fazendo à grande corrupção público-privada continuam a levar as fatias de leão daquilo que sobra, depois de pagos os juros da dívida impagável com a qual armadilharam o nosso futuro. Mas nem tudo são más notícias: um deputado de natural de Pedrógão Grande, que vive em Lisboa desde que se lembra e que só mete os pés na sua terra natal a cada cinco anos, ainda consegue sacar boas ajudas de custo ao erário público. Nem tudo está perdido.

Comments

  1. Carlos Almeida says:

    O incêndio de Monchique que começou num eucaliptal no lugar da Perna da Negra, continuou por hectares e hectares de eucaliptais até atingir a Vila de Monchique

    Novamente essa praga a provocar a destruição e miséria. E nenhum governo tem coragem para assumir, que enquanto houver a concentração de eucaliptos que existe, continuarão os fogos e as desgraças. O lobby do papel diz que é uma árvore como as outras, mas que curiosamente só existe nesta concentração em Portugal

    Agora em Monchique, amanhã noutro lugar qualquer. De resto dos eucaliptos que arderam em 2017, já renasceram milhões de novos rebentos que daqui a 4 ou 5 anos vão matar mais gente.
    Para constatar isso, basta sair do conforto do ar condicionado dos gabinetes e andar nas Estradas Nacionais no Distrito de Viseu ou noutros locais onde arderam eucaliptos em 2017. Para alem das novas plantações.

    Gastam-se fortunas a limpar as ervas à borda da estrada, mas uma medida de fundo que era erradicar ou limitar fortemente os eucaliptos, não há coragem.

    Claro que os incêndios lavram em qualquer floresta, mas as grandes concentrações de monocultura é estar a dar o ouro ao bandido.
    Quantas centenas de infelizes terão que morrer neste País para que a politica florestal que favorece as empresas papeleiras seja travada.

  2. Fernando Manuel Rodrigues says:

    É só inteligentes por estas bandas. Desde a “limpeza das matas” (pergunto quantos daqui já andaram a apanhar mato) até ao ataque aos eucaliptos, o “politicamente corecto” é mato (e esse ninguém o limpa).

    Goastaria que me dissesse se, em vez de eucaliptos estivessem lá pinheiros, se não arderiam. E se estivesses outras árvores quaisquer? Sabe o que não arderia? Terra nua – eeesa não arderia. Por isso é que nos desertos não há incêndios, apesar do calor.

    Quanto ao “combate aos incêndios” – é preciso ser muito ingénuo para pensar que a conversa fiada sobre os meios de combate resisitira a um incêndio de grandes proporções.

    Read my words: NADA RESISTE A UM INCÊNDIO DE GRANDES PROPORÇÕES. Não há combate que valha. É deixar arder. A única maneira é impedir que comemcem. Mas para isso era preciso ir para lá, e andar por lá, às centenas, aos milhares. Em vez de se porem para aqui a “aventar”.

    Valha-nos o S. Pedro, que já mandou vir um pouquinho de humidade. Foi o suficiente para permitir controlar o incêndio. Porque, convenhamos, – o que nos safou até agora foi que o Verão estava de férias.

    • Bárbara Antunes says:

      Fernando Manuel, parece ser muito chique-esperto o senhor.
      Experimente atear fogo a um carvalho que ele “diz-lhe”… fará agora a hectares de carvalhos ou sobreiros… enfim.

    • Carlos Almeida says:

      Parece que não sabe a diferença entre os eucaliptos e os pinheiros e outra árvore qualquer. No caso falei dos eucaliptos e das industrias do papel, que estão por trás, porque no caso trata-se mesmo de uma mata cerrada dessa árvore. Basta ir ao Google Earth mesmo o domestico, para verificar. Os pinheiros também arderiam logicamente se estivessem em matas cerradas como no caso de Monchique
      Mas estou a ver que o lobby do papel tem muitos defensores, não se pode tocar no “sagrado eucalipto”, que aparece logo gente a chamar estúpido a quem acha que a limitação dos eucaliptais era uma boa ideia. Os eucaliptos são colocados em Portugal em proporções que não existem em qualquer país da Europa.

      Mas com outras árvores como o carvalho ou castanheiro a coisa é completamente diferente. Conheço matas de castanheiros perto de Coja em Arganil, a quem os do costume já tentaram pegar fogo varias vezes e a mata ainda la esta, renova-se sempre.
      Mas os carvalhos e os castanheiros não interessam aos papeleiros

      Politicamente correcto são frase que toda a gente sabe: Nada resiste a um incêndio de grandes proporções

  3. Carlos P says:

    Já agora por onde anda António Costa? Se calhar de férias. Se foi de férias, este ano foi mais tarde. Já ficamos a saber que ao primeiro grande incêndio vai de férias. Tratar das sondagens, como é óbvio. O amanuense Marcelo lá anda a cumprir o que lhe foi ordenado. Este ano mais por telefone e bem longe da ação.