Desorientação sexual

Há, com certeza, razões ancestrais para que as pessoas se preocupem tanto com a vida sexual das outras pessoas ou com a vida sexual mesmo sem pessoas: o medo do animal que vive em certas partes do corpo, o medo do corpo que vive em certas partes do animal, o medo de que outro corpo leve o corpo de que gostamos, o medo de não sabermos tudo sobre a vida dos outros, o medo de que a vida dos outros seja melhor do que a nossa, o medo da infelicidade dos outros.

André Ventura, por exemplo, um dos fugitivos do PSD, propõe-se criar um partido que tem como uma das bandeiras acabar com o casamento dos homossexuais. Sim, é verdade que não é o mesmo que querer acabar com os homossexuais, mas está lá o mesmo medo do desconhecido, o medo de que haja gente a usar um instrumento social para ser feliz, eventualmente sempre metidos no quarto (ou na sala, meu Deus!, ou na cozinha, que nojo!) a fornicar contra a natureza, contra a moral e contra os bons costumes.

(Na realidade, o casamento é, consabidamente, uma das melhores maneiras de dar cabo da vida sexual das pessoas, pelo que permitir o casamento dos homossexuais pode ser a melhor maneira de acabar com a homossexualidade, porque pode ser a melhor maneira de acabar com a sexualidade e pronto.

Por outro lado, arriscaria uma outra proposta para os conservadores mais preocupados com a taxa de divórcio: é proibir o casamento. Portugal passaria a ser o único país do mundo em que o divórcio ficaria oficialmente extinto.)

Entretanto, ao que parece, numa escola do Porto, foram distribuídos inquéritos sobre “orientação sexual” a alunos de quinto ano.

(Há muitos anos que me divirto com a expressão “orientação sexual”. Imagino sempre que é um desporto – eventualmente olímpico – que obriga os atletas a descobrir pistas sobre a sua sexualidade. Não vou entrar em pormenores, mas garanto que as provas seriam cansativas.)

A sexualidade, sereia voraz, não escolhe idades, é verdade, mas parece-me excessivo – eufemismo para “idiota” – pedir a crianças que saiam de um armário no qual não sabiam que tinham entrado. Faz tanto sentido como perguntar-lhes por que razão são adeptos de um determinado clube ou se gostam mais do pai ou da mãe.

Circulam imagens de um inquérito a um aluno ou a uma aluna com nove anos. Apesar de, não sei precisar quando, me ter acontecido este problema da heterossexualidade, devo confessar que, com nove anos, tinha uma preferência óbvia por rapazes, porque queriam jogar à bola e suar muito e falar de porcarias como cocó e xixi. As raparigas eram, já naquele tempo, criaturas detestáveis que queriam que uma pessoa se sentasse e desse a mão.

Poderia escrever algumas coisas razoáveis sobre o tema, mas, para já, limito-me a um conselho: tirai as mãozinhas do sexo dos outros, até porque nunca se sabe por onde é que aquilo andou.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    “tirai as mãozinhas do sexo dos outros, até porque nunca se sabe por onde é que aquilo andou”

    Apetecia-me rematar em tom de brincadeira:

    A Georgina que o diga!

    Concordo com o seu texto.
    Até porque eu “pobre rapaz” de 60 anos, ainda me lembro da minha primeira professora de História, do então chamado Ciclo Preparatório dos Liceus, em África. Ela foi durante os primeiros anos da minha puberdade, o meu modelo de mulher e de erecção. Aquilo era tudo bom. Para além de dominar os assuntos, ficávamos a olhar para ela, como o cachorrinho olha para a dona, ensalivando todas aquelas curvas. A minha memória fotográfica não me engana.
    Ela tornou-se mais tarde uma mulher feita, mãe e esposa. E eu fiz-me homem, tal como estava escrito no livro do destino. Cada um seguiu o seu caminho.

  2. Ainda sou do tempo em que o casamento era considerado intrinsecamente mau e opressivo e se pregava o “amor livre” como o único digno das almas progressistas.
    De resto, o século XIX tinha proclamado, de Lisboa a Moscovo, de Eça a Tolstoi, passando por Paris e Flaubert, a perversidade da instituição. E com alguma razão, pois o casamento, herdado em toda a Europa, em maior ou menor grau, do matrimónio romano, centrava-se na figura do “pater familias”, com o intento de assegurar a perpetuação da sua pessoa e património no seu herdeiro, no seu sucessor – que, esmiuçado o latim, vai dar “aquele que vem depois” (para o seu lugar) – estabelecendo o ordem e disciplina necessárias para que, quem lhe sucedesse fosse mesmo seu filho, e assim o perpetuasse, como se fora apenas um imortal “pater familias” ao longo de gerações. Um pequeno sucedâneo da eternidade – onde o amor entrava apenas ocasionalmente (e o melhor era que não entrasse mesmo).
    A disciplina rígida do matrimónio (mesmo do que resta dele hoje) é o exemplo perfeito daquilo que hoje se chamaria “normatividade heterossexual”. Talvez por isso, seja o menos adequado para abrigar o amor de duas pessoas do mesmo sexo que teriam direito a desejar algo mais adequado para protegerem legalmente a sua ligação.

    • Paulo Marques says:

      A questão é que o casamento mudou um bocadinho, e hoje pouco mais é do que um acordo antecipado de como resolver questões materiais. Isso e uma maneira de reduzir o IRS.

      • Se assim fosse, não se compreendia muito todo o barulho à volta não era?

  3. A questão é que, para lá de um parvoíce, isto é um crime (aliás, vários), pelo que vamos ver de, desta vez, e ao contrário do que aconteceu quando a senhora directora de uma escola da linha de Sintra decidiu filmar à socapa uns alunos, para mostrar ao mundo que eram uns gandulos, o Ministério Público faz o que tem de fazer.

  4. JgMenos says:

    O casamento dos homossexuais é a resposta de uma sociedade de anormais para quem tudo o que é natural é normal.
    Só falta chamar normal a malucos e psicopatas.
    Dessa pretensa normalidade chegaram ao casamento homo para a seguir se montarem na razão fundadora do casamento para querem pôr as crianças com dois machos ou duas fêmeas como pai e mãe.

    É a cretinice progressista no seu habitual registo fracturante/idiota.

    • António Fernando Nabais says:

      Se esta é uma sociedade de anornais, a norma será ser anormal. Por isso, o menos é normalíssimo. Aproveite, junte-se ao André Ventura e peça o Bolsonaro em casamento: não tenha medo de ser feliz, querido menos.

    • ZE LOPES says:

      Mas, mas, mas…é incrível! JgMenos acaba de receber mais um título! O homem está imparável! DTN (Dono de Toda a Normalidade)! Será normal?

    • ZE LOPES says:

      “Só falta chamar normal a malucos e psicopatas.”
      Tá bem! Reconheço, JgMenos: V. Exa. é normal!

    • Paulo Marques says:

      “Só falta chamar normal a malucos e psicopatas.”
      O Menos elogia Drumpf, Bolsonaro, Passos e demais empreendedores, por isso, sim, é normal.

  5. B Loge says:

    Caro,
    acho que seria de bom tom esconder o nome da criança na imagem.
    Cps

    • António Fernando Nabais says:

      Peço desculpa, mas não consigo ler o nome da criança em lado nenhum. O nome que aparece é o da escola.

  6. JgMenos says:

    O caso do inquérito vai agora ser pasto de uma caterva de analistas, grupos cívicos, propagandistas esquerdalhos e paizinhos confrontados com o corretês.

    O lobby gay vai promover que desde já sejam preparadas as futuras gerações para considerarem as oportunidades que estão dispostos a proporcionar-lhes, a caminho da normalidade do todos com todos.

    Cambada de fdp!

    • Paulo Marques says:

      Não se preocupe, continua a não haver ninguém que queira sensualizar o Menos. Só de pensar nisso tenho que ir lavar os olhos com lixívia.

    • ZE LOPES says:

      Realmente o lobby gay é muito perigoso e está por todo o lado! Segundo me disseram são eles que estão por trás do aumento da temperatura em setembro,e outubro, para continuarem a pouca vergonha de andar em pelota nas praias, o que está a causar a ruína dos vendedores de castanhas classe que, como todos sabem, é especialmente odiada por gays. Já alguma vez viu um par de gays abraçados junto a um carrinho de castanhas? Pois aí está!

  7. luis says:

    Mais uma grosseira manifestação de heterofobia.

    • ZE LOPES says:

      Está a responder a quem? E a propósito de quê? Se é do problema dos vendedores de castanhas, diga já! Não quero confusões!

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