Infantilidades?

“Uma resposta infantil não merece outra resposta infantil”

Falemos então de infantilidades e sobre como é que isto começou.

Antes do Natal, houve um acordo entre Democratas e Republicanos para financiamento do governo e evitar o shutdown. No dia seguinte, a Fox News, que mais parece o jornal oficial da Casa Branca, lançou uma campanha a picar Trump, dizendo que este estava a ser cobarde. E a seguir, Trump deu o dito pelo não dito e fez saber que não aprovaria o orçamento, o que levou o líder Republicano do Senado a dar um passo atrás, rasgando esse acordo.

Incitado por Rush Limbaugh e Ann Coulter, Trump faz uma declaração de última hora dizendo que ele não vai assinar a legislação republicana [portanto, do seu próprio partido] para manter o governo aberto e exige 5 mil milhões de dólares para fazer um muro na fronteira. A maioria republicana da Câmara dos Deputados aprovou uma lei que morre no Senado [republicano]. Trump culpa democratas pelo shutdown. [The Guardian]

A realidade é esta. Um presidente que faz o que faz em função do que ouve num canal de televisão.

Quanto à Pelosi, porta-voz da Câmara dos Deputados democrata, mostrou que tem poder. É um pouco diferente de infantilidade.

Sobre o tweet de Graham: “A primeira-dama Melania voa para a Flórida em jato do governo depois que Trump adiar a viagem da presidente Nancy Pelosi ao Afeganistão devido ao shutdown.” Infantilidade e mentira? Sem dúvida e percebe-se onde está.

Para quem não tenha acompanhado o tema, a história do muro é inacreditável, repleta de falsidades facilmente observáveis, não fosse a mentira uma marca de Trump. É um braço de ferro onde nenhum lado sairá a ganhar. Regista-se que quando os Democratas passaram a controlar a Câmara dos Deputados, Pelosi apelou a que a negociação não fosse feita nos holofotes da televisão, o que foi rejeitado no próprio momento pelo presidente. Este impasse acontece devido à personalidade dele próprio. Para Trump, não existe negociação. É como ele diz ou não é.

Se for para fazermos apostas, a minha vai para Trump usar o mecanismo da emergência nacional para aprovar o orçamento sem o voto dos Democratas, o que se traduzirá numa batalha legal onde o muro acabará por não ser construído na mesma, mas com Trump a satisfazer o seu eleitorado (quis fazer) e sem gastar o dinheiro (que não tem).

Entretanto, vamos ver no que dá toda a situação à volta do caso com a Rússia. Já há presos entre os próximos de Trump e a situação está cada vez mais bizarra. Uma coisa é certa, aquele povo é um poço de contradições. Depois do que foi a caça aos vermelhos, agora há um presidente que tem conversas a sós com Putin, exigindo mesmo que mais ninguém estivesse presente para além do tradutor. Como se este aspecto já por si não fosse estranho, em qualquer país, mas especialmente face ao contexto histórico das duas nações, Trump tomou posse das notas de tradução dessa reunião.

O que me leva a pensar na agenda escondida de Putin. Não me parece que este seja particularmente amigo de Trump, mas se ao colar-se a ele contribui para a fragilização da NATO, aliança que tem sido uma pedra no sapato para a Rússia, então melhor para ele. O que faz de Trump um fantoche.

A mentira como arma política sempre existiu. A diferença agora está na forma como ela é propagada e a indiferença com que esta é aceite colectiva e individualmente. Dada a forma como o contexto político tem evoluído em função destes disparos de letras, o mundo ficou um lugar muito mais perigoso de há uns anos a esta parte.

Mais uma vez se observa que a caneta é mais forte do que a espada. Para o bem e para o mal.

Comments

  1. j. manuel cordeiro says:

    Why Trump and Pelosi are caught in a bitter, petty game of one-upmanship
    The Trump v. Pelosi shutdown travel fight, explained
    https://www.vox.com/2019/1/19/18189462/trump-pelosi-shutdown-travel-state-union-fight