We ordinarily obey a rule according to which anyone who finds an empty seat first is entitled to that seat.
— Jesse PrinzIn the literature on the phonological complexity of listening input, contracted forms (e.g., can’t) have been proposed to have a potentially negative impact on decoding auditory information, because the recognition of lexical items and syntactic constructions might pose a greater challenge due to decreased phonological information (e.g., Rubin, 1994).
— Brunfaut & Révész (2014)
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Há muitos anos, ao volante da minha excelente Volkswagen Passat azul — mas azul à Benfica, note-se — , algures na B 419 alemã, ali pertinho do Mosela, ouvia frequentemente o ‘adagio sostenuto’ do concerto para piano n.º 2, em dó menor, do Rachmaninov, sempre na expectativa (e na esperança) desse all by myself avant la lettre e muito mais interessante do que o próprio. Aliás, já algo de semelhante me acontecera, muitos anos antes, no 35, a caminho da Rua do Heroísmo. De facto, quando saiu o não posso mais do Pedro Abrunhosa, houve ali um breve momento who pays the price dos INXS. Depois, a sensação passou. Anteontem, enquanto estudava, ouvi o início deste excerto do danúbio azul e lá veio a gran partita. Recentemente, estive envolvido numa violenta discussão sobre um caso quase tão bem conhecido como o de Rachmaninov & Eric Carmen, o do pour some sugar on me dos Def Leppard e do we will rock you do Axl Rose (sim, pois, OK, dos Queen).
Resta acrescentar que não estamos a falar nem, por um lado, de homenagens implícitas (tvmural para tvc15), explícitas (submissão para sub-mission), cómicas (sol da caparica para california sun), hilariantes (bué de baldas para baggy trousers), esforçadas (judgement day para while my guitar gently weeps), esforçadíssimas (universal para o navio fantasma), trágicas (jorge morreu para damaged goods), auto-referenciais (hangar 18 para the call of ktulu, [1] a 4.ª sinfonia para o evgeni onegin ou the hands para i don’t believe in love), confessadas ([2] the phoenix para i wanna be your dog [a prever o Iggy Pop no new york city?] e californication para carnage visors), [3] deliciosas por abrandamento (Quebra-Gelo para London Calling), nem, por outro, de carreiradas (l’idiot, city of new orleans…). Também anteontem, antes de dedicar uns minutos da hora de almoço à defesa Cunningham, pus-me a ouvir o i want you (she’s so heavy) dos Beatles e, logo no início, lá estava um dos meus momentos predilectos dos Mötley Crüe. Entretanto, voltei a preocupar-me com as diferenças entre a Lisboa de Madonna e a Lisboa de Letterman.
Adiante.
O fim-de-semana está à porta. Isto significa que acaba hoje mais uma série de dias úteis de vergonha para o Governo de Portugal e para os seus cúmplices. Efectivamente, desta vez, além dos exemplos habituais no sítio do costume
e alhures,
tivemos a bonita homenagem da RTP a Augusto Santos Silva, o indiferente Ministro dos Negócios Estrangeiros (Nuno Pacheco chama-lhe “kaiser do Acordo Ortográfico”), a quem os tiros ortográficos saem frequentemente pela culatra:
- quando Santos Silva afirma que Portugal aguarda “serenamente“, a própria Secretaria-Geral do MNE não só pede o contato,
como dá contatos;
- quando Santos Silva anuncia a adopção do Acordo Ortográfico, na prática, nem por isso,
- quando vemos Santos Silva sempre disposto a defender o AO90, a RTP presta-lhe esta merecida homenagem
— e aproveito para agradecer aos Tradutores Contra o Acordo Ortográfico e a Carla Moreira este belíssimo momento simbólico da actual situação ortográfica em Portugal.
Desejo-vos um óptimo fim-de-semana.
Actualizações:
[i] (26/2/2020): Aditamentos de Tchaikovsky (4.ª sinfonia & evgeni onegin) e Queensrÿche (the hands & i don’t believe in love).
[ii] (30/5/2020): Aditamentos de Iggy Pop/The Stooges (I wanna be your dog) para The Cult (the phoenix) admitido por Duffy e The Cure (carnage visors) para RHCP (californication) admitido por Frusciante. Curiosamente, o californication da hiperligação começa com um diálogo entre Flea e Frusciante, numa variação do tema do the prisoner pois… tally ho!
[iii] (1/7/2020): Aditamento de The Clash (London Calling) para GNR (Quebra-gelo), porque estava a experimentar uma linha do baixo.
[iv] (1/9/2020): Último aditamento, anunciando a criação de uma lista actualizada e a actualizar.
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Tadinho deste Chico ortográfico. Tão melómano, tão pinot gris…é o nosso Beria da gramática. Deve ser lá do Porto. A província descamba nestas manias. A uns dá-lhes para a gramática, à maioria cai-lhe o alho porro.
E a ti dá-te para dizer merda …
Que te caiu na tola. Já podes lacar a cara.
Eu tenho tola e cara. Tu tens uma fossa de onde só sai merda
Que devoras com gosto.
Tens cara? Não sei… Talvez de bacalhau da Noruega; ou do homem elefante.
Correcção
Não é uma fossa. É uma ETAR das grandes
Isso é que babar-se pela coprofilia.