É evidente e inquestionável, pelo menos para mim, que o respeito absoluto pelo Estado de Direito tem obrigatoriamente que ser condição sine que non, não para ter acesso ao bailout pandémico da UE, mas para integrar o projecto europeu. É até mais importante, mais indispensável para a pouca cola que ainda une este espaço de democracia liberal, onde a liberdade de expressão, o direito a exercer jornalismo livre ou a possibilidade de pertencer a movimentos associativos e sindicais são direitos invioláveis e inalienáveis. Não é coisa pouca, e basta olhar à nossa volta para perceber isso mesmo. Vivemos numa bolha de privilégio. Um privilégio pelo qual devemos lutar. Por nós e pela sua expansão a outros povos.
Costa não esteve mal. Esteve, parafraseando Costa em momento algo idêntico, repugnante. Foi de longe um dos piores momentos do seu percurso político. Queria fazer diplomacia em Budapeste, no interesse de um acordo melhor para a periferia explorada, podia fazê-lo sem pôr em causa o Estado de Direito. Fazer um frete destes ao execrável Orban não era necessário. E foi uma vergonha. Eu senti-me envergonhado. Não pode valer tudo. Não em democracia.
Se uma certa direita, que até conviveu amigavelmente com Orban não vai muito tempo, quer fazer malabarismos, cá e nas reuniões do PPE, é lá com ela. Mas o líder de um partido de matriz social-democrata não pode, em momento algum, fazer cedências na defesa do Estado de Direito. Não é negociável. Não há realpolitik que se sobreponha à democracia.
Costa pode escudar-se em tecnicalidades e artigos de opinião cuidadosamente escritos por uma taskforce. Mas uma mancha destas não sai com facilidade. E a esquerda, que tanto criticou Passos Coelho e a passividade/colaboracionismo do PSD e do CDS no PPE, perante os abusos do autocrata húngaro, não pode assobiar para o lado. Antes de mais, a atitude do primeiro-ministro é uma afronta a todos nós. Pelo menos àqueles que defendem a democracia como única alternativa possível.
Eu não disse que o PS não era um partido confiável?
Claro que não!
Este episódio não me é estranho. Já vi muito disto nos últimos vinte anos. Este foi o momento Tony Blair, de António Costa. Sempre que for necessário, há que venderes a alma ao diabo.
No entanto, este miserável comportamento do nosso Chefe de Governo, oportunista, não pode ser confundido com o do PSD e do CDS, nem governo são, tentando branquear todos os dias a postura autocrática é anti democrática do líder Húngaro, apenas porque pertence ao mesmo grupo político.
O que seria com eles no Governo?
O Dr. Poiares Maduro, insuspeito de ser de esquerda, já teve o cuidado de chamar a atenção para este pequeno pormenor, na direita europeia.
Esta é a União Europeia que tanto critica Nicolas Maduro por ter um comportamento não muito diferente do Sr. Orbán, mas não se inibe de manter a Hungria dentro da CEE.
Em que ainda acredito no pai Natal, nunca compraria um carro em segunda a mão ao Costa e à sua tralha.
Repetindo Henrique Neto para com Sócrates. Somos assim?
Ingovernáveis, com a casta tribal-partidária no comando.
José Monteiro
Já eu pergunto se não é altura de deixarmos de ficar bem na foto. Já que é cada um por si dentro da “União”, e que esta cambada não vê alternativa no o vasto espaço entre isto e a jangada de pedra, se há possível entendimentos comerciais, e só comerciais, há que aproveitá-los.
Afinal, já fazemos pior com estados genocidas, escusamos de dar ares de santinhos e limitarmo-nos a comer a sopa de Bruxelas. A crítica ao regime pode continuar amanhã.
Ainda não perceberam que Portugal na Europa, é como a Guiné – Bissau em África.
Imagino o que diriam se o Costa fosse visitar o Putin, ou o Maduro, ou o gajo de Cuba de quem não sei o nome!
A não ser que tudo seja a bem da obediência à UE…
Imagina se tu imaginasses como as pessoas normais?
Os países liderados politicamente por Putin, Maduro ou gajo de Cuba que tu não conheces, não estão inseridos em nenhuma organização de Estados, em que a Democracia, aquela coisa que te faz tanta confusão, tal como: eleições livres, direitos humanos, liberdade de imprensa, etc, etc, estejam nos cânones da fundação dessas organizações. Já a Comunidade Económica Europeia tem nos seus estatutos, qualquer coisa parecida com aquilo o que acabei de citar.
Não é por acaso que existem umas eleições europeias e um parlamento europeu.
Òh menos !
Não sabes o nome, porque és um quadrúpede…
Hmm, estou-me a lembrar o que disseste sobre a visita do feirante à Venezuela… Negócios, não era? Qual seria o problema?
“O Estado de Direito não é negociável”… Sem problema! Afinal de contas isso também não existe.
Pois é!
E V. Exa, por modéstia, também não!
Qual é a surpresa?
Não se esperava outra coisa de alguém que, para governar, se aliou a partidos que sonham com regimes totalitários.
Quais? Angola? China? Arábia Saudita? Há regimes totalitários bons e regimes totalitários maus e onde está a lista?
A BOA diplomacia é isso mesmo, negociar com todos. Se uns são contra, outros são a favor. O país, na situação económica em que se encontra provocado pela pandemia, não se pode dar ao luxo de escolher parceiros que o ajudem nesta emergência. Contrariar este tese é fazer o jogo dos ultras.