É um grunho, mas é nosso grunho

Ontem, Sérgio Conceição foi, mais uma vez, expulso do banco, mostrando, novamente, uma total falta de autocontrolo. Segundo parece, a explosão ter-se-á dado, no momento do segundo golo, em resposta a uma provocação que teria saído da boca do treinador do Portimonense, aquando do empate.

A adrenalina, como se sabe, não é boa conselheira, e o cérebro reptiliano ainda cá está, cheio de memórias do tempo em que descemos das árvores e em que éramos impelidos a atacar os nossos semelhantes porque pertenciam a uma tribo diferente e vinham apagar-nos a fogueira e roubar-nos as mulheres ou a comida ou as duas. O futebol, visto ou jogado, acorda o australopiteco que vive dentro de nós.

Apesar de tudo, esperançado no efeito civilizador da evolução, tenho a convicção de que, por respeito aos grunhos que eram os nossos antepassados, devemos ser melhores.

Chegado aqui, não me espanta que Sérgio Conceição continue a não conseguir controlar o grunho que também é, porque a sua personalidade, no meio da gasolina que é o mundo do futebol, só poderá ser assim. Neste momento, já nem sequer tem a desculpa de ainda ser um jovem em formação. Na verdade, já tem, como é costume dizer-se, idade para ter juízo.

Também já não me espanta, embora me preocupe, o facto de haver quem veja no descontrolo de Sérgio Conceição as virtudes essenciais do portismo. Os argumentos são variados: o quem não se sente não é filho de boa gente; o as pessoas do Norte são mesmo assim; o somos Porto, contra tudo e contra todos; o isto é a luta contra o centralismo lisboeta que nos oprime; o futebol não é para meninas. E milhares de adultos, incluindo pais de família, independentemente das habilitações literárias ou da classe social, exaltam as tristes figuras em que o treinador do Porto é useiro e vezeiro. Se uns querem deitar fora o bebé e a água do banho, estes defensores de Sérgio Conceição acreditam que a banheira, o bebé e a água do banho são um só e têm de ser conservados.

Note-se: esta defesa cega do grunho por ser o nosso grunho não é um exclusivo portista, evidentemente, mas está na ordem do dia. E porque me preocupam todos estes sinais? Porque não é um problema apenas futebolístico, mas social. Faz lembrar a frase atribuída a Roosevelt, acerca do ditador da Nicarágua: “Somoza may be a son of a bitch, but he’s our son of a bitch.” É perigoso e há crianças a ver – embora não explique tudo e não desculpe nada, num mundo onde há tantos grunhos, é natural que apareçam bestas.

Comments

  1. jorge paulo sanches da cruz says:

    é a cultura do FCP, nada de novo…

    • Francisco Figueiredo says:

      É a cultura de ir a Londres para jogar os quartos da Champions. Cuidado com a cabeça.

  2. Filipe Bastos says:

    Todo o futebol profissional é mafioso, nocivo e alienante, mas o FCP, como diz o Jorge Cruz, tem uma ‘cultura’ particular.

    Não é só o Conceição; é ao contrário: o Conceição só podia ser do FCP. E o FCP só podia do Porto. É mesmo cultural.

    Claro que há portuenses esclarecidos que não se revêem na bola, ou no jeito abestalhado e ordinário que identificamos com o Porto, ou no bairrismo pacóvio atiçado por mafiosos como o Pintinho; mas parecem uma minoria bastante silenciosa.

    A maioria parece identificar-se com o ‘orgulho’ parolo, a guerrinha permanente contra Lisboa e o mundo. Grunhos e sarrafeiros como o Conceição, o Paulinho Santos ou o Fernando Rocha são como medalhas para eles. Quanto mais rascas melhor.

    • Francisco Figueiredo says:

      O choro é lindo. O choro é lindo.

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Agora que já comi as tripas e enquanto não como a sopa, venho aqui dar o meu contributo como portista e portuense inculto: Ó Lipinho, vai-te encher de moscas

  3. Filipe Bastos says:

    As respostas habituais. Classe e wit a rodos.

    Admito que não gosto do Porto. Nem da cidade – suja, deprimente, insignificante – nem de pessoas por lá. Encontrei falta de ética, de nível, de noção, de muita coisa. A princípio pensei que fosse azar. Mas parece demasiado azar. Parece mais um padrão.

    Dirão que sou um lisboeta parcial e preconceituoso. De todo: detesto certa Lisboa ‘típica’, untuosa, cheia de manias e peneiras. Conheço óptima gente em Braga, Guimarães, em Trás-os-Montes, nas Beiras… nada tenho contra o Norte, pelo contrário.

    Só contra o Porto. E a zona à volta (parece contágio): Matosinhos, Gaia, Espinho. Tem gente boa e má? Claro, como em todo o lado. Mas a média é fraca; e aquele jeito do Porto é mesmo rasca.

    Até as tripas – e gosto de tripas – me parecem sobrevalorizadas. Até a francesinha me sabe melhor em Aveiro. Que resta?

    Por aqui é o que se vê. Do Chico e do Moreira de Sá, só adolescentes tricas futeboleiras. Cornos, cornudos, toma toma!, tu é que és!, etc.

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Beijinhos Lipinho, beijinhos.

    • Orlando Sousa says:

      Já não vais a tempo ó Filipe!

      Admito que não gosto do Porto.

      sem crise

      Nem da cidade,

      sem crise

      – suja, deprimente, insignificante,,

      sim, somos feios, porcos e maus

      – nem de pessoas por lá. Encontrei falta de ética, de nível, de noção, de muita coisa. A princípio pensei que fosse azar. Mas parece demasiado azar. Parece mais um padrão.

      eu diria o mesmo de muitos sítios, Lisboa então……

      Dirão que sou um lisboeta parcial e preconceituoso. De todo: detesto certa Lisboa ‘típica’, untuosa, cheia de manias e peneiras.

      tu lá sabes

      Conheço óptima gente em Braga, Guimarães, em Trás-os-Montes, nas Beiras… nada tenho contra o Norte, pelo contrário.

      há mais cidades no norte, estuda geografia

      Só contra o Porto. E a zona à volta (parece contágio): Matosinhos, Gaia, Espinho. Tem gente boa e má? Claro, como em todo o lado.

      e?

      Mas a média é fraca; e aquele jeito do Porto é mesmo rasca.

      jeito? de quê?

      Até as tripas – e gosto de tripas – me parecem sobrevalorizadas.

      Até a francesinha me sabe melhor em Aveiro.

      deves ter comido uma francesinha num shoping

      Que resta?

      iluminados como tu !

    • Fernando Moreira de Sá says:

      Ó Lipinho, então e a Maia? Pior, esquecer Gondomar, Ermesinde e a Areosa? A Areosa Lipinho? A Areosa! Que vergonha. Agora vai mas é comer um preguinho ao Elefante Branco que isso passa.
      Não é prego, carago, é bitoque…Rais parta estes morcões do Porto que não percebem nada disto. O que seria de nós sem o Lipinho, carago…

    • Daniel says:

      Bem… fiquei na duvida se isto é ironia, ou se é mesmo “trauma”!…
      Já não vou ao Porto há algum tempo mas, ou Porto e arredores mudaram completamente nos últimos meses ou o problema está do outro lado… pode mais um caso de síndrome do condutor em contra-mão na Autoestrada!…

  4. RUI SANTOS says:

    O S.C. é boa pessoa. Se fosse segurança em período nocturno em grande superfice (muito pouco contacto humano) era um tipo pacifico.

  5. Paulo Marques says:

    Ainda continua? Pensei que já tinham escolhido vencedor em Janeiro pela quantidade de cartolinas a pedido.
    Engraçado que aldrabices e penas diferentes já não sejam más lições; os portugueses têm é que se contentar com o lugar designado e comer e calar. Bem aprendido.

  6. LUIS COELHO says:

    Ser grunho ou não é problema de quem tiver que o aturar!
    O espectáculo que esse “grunho” deu é impróprio e grunhos desses deviam ser proibidos de entrar em recintos desportivos e outros, a não ser açaimados e com trela curta!

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  1. […] O Lipinho andou a destilar ódio contra o Porto clube, as gentes do Porto, o Porto cidade (e Espinho, Matosinhos, […]