Futebol, o verdadeiro dono disto tudo: o caso Pedro Adão e Silva

Futebol. Um conjunto de instituições de exagerado poder, com tentáculos na política local e nacional, há décadas a viver acima das suas possibilidades e em situação permanente de falência técnica, em particular as suas elites, a quem tudo é permitido, seja corrupção, sejam fraudes fiscais, sejam os mais variados abusos de poder, seja o que for. Vale tudo e está tudo bem.

Até no interior do Parlamento se faz o poder futebolístico representar, através dos poucos fóruns onde o unanimismo reina, que são as associações de deputados-adeptos dos principais clubes, onde podemos encontrar um deputado do CDS a brindar com outro do PCP, e que, não raras vezes, até recebem os seus presidentes e outros dirigentes para almoçar ou jantar.

O Ricardo já aqui falou sobre aquilo que une Pedro Adão e Silva e o Benfica, mas eu quero aqui acrescentar uma alegada declaração do próprio, esclarecedora sobre o fenómeno cartilheiro, que se normalizou mais rápido que o Ventura e que passou na polémica peça do Porto Canal, a propósito da tal cartilha:

O facto de o clube enviar informação sistemática é sinal de organização e profissionalismo.

E vou arriscar um pouco mais, até porque sou portista e tenho o Porto Canal em boa consideração. Mas, convenhamos, aquele opening statement de Tiago Girão, sendo todo ele baseado em factos verídicos e de difícil – para não dizer impossível – refutação, nunca teria acontecido caso o escolhido do governo fosse Pedro Marques Lopes.

E porquê Pedro Marques Lopes?

Porque Pedro Marques Lopes, tendo mais ou menos o mesmo protagonismo – talvez mais – mediático que tem Pedro Adão e Silva, com quem partilha o programa Bloco Central, na TSF, é portista. E não é um portista qualquer. É, tal como Adão o Silva o foi em tempos no Benfica, um portista próximo da direcção do Porto. Um portista que, em 2018, recebeu o Dragão de Ouro de sócio do ano. E se Costa o tivesse escolhido a ele? Teria o Porto Canal grelhado Marques Lopes como grelhou Adão e Silva? Tenho as minhas dúvidas.

Isto para vos dizer que o motivo que levou Pedro Adão e Silva à grelha não foi a sua escolha, a dimensão da sua equipa, a duração da sua missão, os valores envolvidos ou qualquer outro aspecto relacionado com questões políticas. Comparado com a Comissão dos Descobrimentos, para a qual Cavaco Silva também escolheu uma figura próxima do PSD, no caso Vasco Graça Moura, com custos bem mais elevados do que os que se perspectivam para esta, para não falar noutros fretes aos quais temos assistido ao longo dos tempos, a comissão Adão e Silva não traz nada de extraordinário, no que ao modus operandi deste país diz respeito.  O que levou Pedro Adão e Silva à grelha foi o facto de ser benfiquista, cartilheiro e potencial figura central do futuro pós-Vieira do Benfica. Se fosse uma questão política ou de transparência, estou certo que o Porto Canal seria mais determinado a escrutinar a corrupção e o tráfico de influências que grassam nas autarquias do norte do país.

Comments

  1. Woodpecker says:

    Eu, igualmente portista, concordo com o post

  2. Rui Naldinho says:

    ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
    “Caríssimo, onde é que queres que eu assine”

  3. Filipe Bastos says:

    A solução é tão óbvia quão difícil: o futebol profissional tem de acabar, pelo menos na sua forma actual. No mínimo é preciso controlá-lo e reduzi-lo a uma fracção do que é hoje.

    Os seus jogadores e treinadores mamões deviam ser taxados a 100% a partir de certo limite. Um milhão seria muito generoso.

    Os seus dirigentes e os agentes mafiosos como o Veiga devem ser tão vigiados como os pulhíticos deviam ser, e também taxados a 100% acima dum limite razoável. Acabam, como é evidente, todas as borlas fiscais, empréstimos e calotes insustentáveis.

    Até fazermos isto nada vai mudar, excepto para pior. Lambe-cus como o Adão e Silva são apenas uma pequena ponta do fatberg; tudo é contaminado pela máfia futeboleira.

    O pior de tudo: adormece a carneirada; normaliza a corrupção e a desigualdade extrema. Poucas coisas são tão nocivas como a bola.

  4. Paulo Marques says:

    O Porto canal quando se mete na política, dá merda. Mesmo quando acerta, como na figurinha dos secretários de estado. Ainda mais que os outros meios, acabam a só pensar no dono.

    • Carlos Almeida says:

      Sempre como a voz do dono, com certeza. Coincidências quando o dono, começou a criticar o Governo

  5. Estamos mesmo a comparar o Vasco Graça Moura com o Pedro Adão e Silva? Credo.

  6. O que realmente me preocupa aqui é aquele tique típico de se desvalorizar o conteúdo da mensagem para se atacar o mensageiro. Pedro Adão e Silva vai ganhar um valor obsceno para não fazer nenhum, num País à mingua que mendiga tudo a todos….

    • Paulo Marques says:

      Extraordinário que nada disso é verdadeiro.

      • Filipe Bastos says:

        Outra vez a branquear chulos e pulhas xuxas, Paulo?

        Já nem tentamos disfarçar?

        • Paulo Marques says:

          Eu nem falei do homem, nem, como de qualquer outro centrista, estou particularmente interessado no que tem a dizer.
          Mas nem o salário é obsceno, nem não vai fazer nenhum, nem o país está à míngua, nem o país mendiga; isso é conversa de quem quer que não haja estado social. Onde cada vez é mais óbvio que é o caso do Filipe.

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