De há uns dias a esta parte voltei a sentir-me sobressaltado com a memória do tratamento que Rui Rio infligiu a Isabel Alves Costa. Não porque não me lembre dela amiúde, talvez por a conhecer desde a adolescência, sim, mas particularmente pelo que deu ao teatro e, muito particularmente, à recuperação do Rivoli para a cidade do Porto.
Mas o que me buliu com as vísceras foi mesmo uma declaração de Rui Rio esta semana: “se se perder eleições ninguém morre!”
Talvez tenha razão, quem sou eu, mas se ganhar…?
Aquando da reabertura do Rivoli em 1993, Isabel Alves Costa aceitou o convite para ser directora artística do renovado equipamento. Desde então, o trabalho que desenvolveu foi reconhecido por se revelar como “fundamental na estruturação da vida cultural do Porto, tendo sido uma das programadoras mais activas do Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura, como responsável pela área das artes do palco”.
O Governo francês atribuiu-lhe a medalha de “Chevalier des Arts et des Lettres” em 2006 – foi estudar para Paris em 1963 e regressou em 1997 à Sorbonne para se doutorar em estudos teatrais.
Deixa a direcção artística do Rivoli em 2007, quando Rui Rio entrega, em regime de concessão exclusiva, o equipamento a Filipe La Féria.
Vindo a falecer em 2009 de doença súbita, importa relembrar o calvário a que Rui Rio a obrigou a percorrer. Sem nunca ter tido coragem para a demitir, Rui Rio foi cortando, paulatinamente, ano após ano, o orçamento já de si parco para a programação regular, chegando ao ponto do Rivoli deixar de ter qualquer evento programado, sendo o gabinete de Isabel Alves Costa o único espaço utilizado.
Saliente-se que, durante este processo de esvaziamento, Rui Rio nunca se coibiu de insinuar a insustentabilidade do Rivoli, atribuindo a Isabel Alves Costa a responsabilidade de o Teatro Municipal não ser uma fonte de lucro para a Câmara Municipal do Porto.
Sabemos que Rui Rio nunca usou a expressão de Goebbels, “quando me falam de cultura puxo logo da pistola”, preferindo afirmar “quando me falam de cultura puxo logo da máquina calculadora”!
Todo este processo ignóbil foi minando a saúde de Isabel Alves Costa, culminando com a sua saída quando La Féria toma conta do espaço, não sem antes Rui Rio ter gasto mais do que o que nunca deu a Isabel Alves Costa para cumprir com as exigências do concessionário.
O que Rui Rio infligiu a Isabel Alves da Costa está hoje inscrito como crime e penalizado no código penal mas, nesse tempo, nem nome tinha – assédio moral!
Em livro publicado, “Rivoli 1989-2006”, Isabel Alves Costa descreve minuciosamente todo esse processo hediondo.
Pois é, Dr. Rui Rio, pode ninguém morrer por perder, mas isso não prova que alguém possa morrer se ganhar!
Isabel Alves Costa, nós não te esquecemos, nem de ti nem do que fizeste pela arte e pela cultura!
PS: Deixo-vos um vídeo abaixo que montei à época sob o título “Rio, La Feria e super estares no Rivoli”, com música dos Bee Gees e imagens captadas e publicadas no site da Câmara por ocasião da festa privada, como lembrança da entrega do Rivoli a Filipe La Féria por Rui Rio.
Isabel Alves Costa, tal como como a conheci. Até sempre!
Para a direita, cultura é Broadway, Albert Hall, Salão Preto e Prata. Tudo o resto é despesa.
O que ele sabe, que cultura!
Se as pessoas não estão dispostas a gastar dinheiro para ver uma qualquer actividade que outras pessoas designam de “artística”, esse dinheiro não deve ser-lhes extorquido para financiar essa actividade. É algo de tão evidente, de tão gritante, de tão chocante (face aos limitados recursos públicos, e ao desafogo financeiro dos interessados nessa oferta “artística”), que percebo os abaixo-assinados desesperados da gente que decide o que é “artístico” e vive desta extorsão. Gente que vive em circuito fechado, em que, num ano tu és júri e eu recebo o subsídio e/ou o prémio, e, para o ano é ao contrário, numa endogamia e nepotismo que faz meças às dinastias de Faraós (limitada, agora, apenas, pelas restrições reprodutivas de um relevante segmento desta elite). Este ano, o desespero foi tanto, que professos comunistas de todas as seitas apelaram ao voto no PS (!), pois manter aberta a torneira de onde jorra aquilo com que se paga os melões é muito mais importante que a ideologia (https://www.dn.pt/politica/antonio-lobo-antunes-e-joao-de-melo-assinam-manifesto-de-apoio-a-costa-14523801.html).
Do seu raciocínio podemos inferir que o Estado nunca devia ter salvado Bancos, ter dados borlas fiscais a grandes grupos económicos, … uma vez que não se deve obrigar o contribuinte a pagar os devaneios de banqueiros, bem como dos seus acionistas, e pior ainda, dar benefícios fiscais a negócios que não acrescentam nada ao que já existe na e inimiga, há décadas, como electricidade (EDP), combustíveis (GALP), auto estradas (Brisa), aeroportos (ANA), comunicações … os quais não passam de rendas fixas sacadas ao consumidor.
Talvez cumprindo-se todos esses requisitos, não chegássemos até aqui. Nem teríamos a dívida que temos.
Aliás, nem sei mesmo porque razão os agricultores quando chove querem apoios porque, dizem, há água a mais. Quando não chove, dizem, há água a menos.
Os outros têm lá culpa da chuva!
…ao que já existe na economia, …
Já viu que se não escrevesse “whataboutisms” não escrevia absolutamente nada?
Não é você que decide o que eu escrevo. Sou eu.
Temos pena.
https://aventar.eu/2021/04/29/v-excias-estao-equivocados-nao-me-parece/#comment-270064
Apelar ao PS para orçamentar a cultura deve ser para rir…
Mas, bom, se não pagamos a cultura, é melhor começar por não pagar pelo Aborto Ortográfico, que deve cair de podre naturalmente. E deixar de gastar recursos em proteger direitos de autor e quejandos, o estado não tem que se meter na cultura nem no mercado livre. E podem acabar os subsídios aos festivais para animar o turismo, que se amanhem. E as festas municipais e de ano novo, puro desperdício.
E a tourada, já agora.
Quem são as pessoas na última fotografia do post? EM que ocasião foi ela tirada?
Em 1974, aquando do regresso a Portugal de váriios exilados.
Da esquerda para a direita: José Jorge Letria, Zeca Afonso, Mãe do José Mário Branco, José Mário Branco, Isabel Alves Costa, José Duarte, Adriano Correia de Oliveira e duas jovens não identificadas. Na chegada ao aeroporto de Lisboa do avião dos exilados, entre os quais se encontravam alguns deles.
Isabel Costa foi casada e mãe de dois filhos (se não estou em erro) de José Mário Branco.
Fonte: http://www.facebook.com/FascismoNuncaMais/photos/grupo-de-cantautores-da-música-de-intervenção-na-resistênciada-esquerda-para-a-d/854415824667798/
Obrigado.
Muito obrigado pelo pronto esclarecimento a Balio, Pois.
De nada! Eu já conhecia a imagem de um documentário e, certamente, tê-la-ei visto publicada à época.
Reconheci alguns, é claro, mas “escapou-me” um dos ainda felizmente vivos: o José Duarte, homem do “jazz” e outras músicas. E humorista. E escritor de outras coisas também. Dos identificados, há ainda o José Jorge Letria, presidente da SPA.
É interessante a posição de quem diz que se as pessoas não querem apoiar uma qualquer atividade diretamente, ela também não merece o apoio do Estado. Quantos são os que visitam os museus, ou os monumentos nacionais? Deveremos deixar ruir ou esperar que se corroam todas essas obras de arte porque não há quem as apoie, seja através do mecenato, seja visitando-as?
Passa-se a mesma coisa com os bens culturais imateriais, uma boa parte dos quais faz aliás parte da nossa memória como povo, que a Direita diz querer preservar (mas só se não custar dinheiro).
Não há clientes para o Frei Luís de Sousa ou para as obras de Shakespeare, mas há para os musicais do La Feria (nada contra eles, já agora), por isso não se apoiam os primeiros?
Sabe, JPT, o poeta cristão americano Dana Gioia escreveu uma vez: ‘Aesthetic pleasure needs no justification, because a life without such pleasure is one not worth living.’ Ainda bem que pessoas como Isabel Alves Costa nos proporcionaram e proporcionam esse prazer, e pela minha parte vou continuar a votar para que o Estado as apoie.
E é uma pena que o potencial próximo PM pense o contrário, porque já se está mesmo a ver o que acontecerá ao MC se ele ganhar as eleições.
Mas pior, o que este episódio revela é também a mesquinhez de Rui Rio, algo que quem vive aqui no Porto conhece bem. Claro, pode ser que os portugueses não se importem de ter um PM assim, mas desconfio que se ele acabar em São Bento, eles não se importarão durante pouco tempo.
Se queres conhecer um vilão, põe-lhe uma vara na mão, diz bem o povo, provérbio que se aplica na perfeição ao homem que acha que a presunção de inocência é muito boa exceto quando se aplica aos adversários políticos ou às suas inimizades…
P.S. E se me vier falar dos defeitos de AC, garanto-lhe que leva com a mesma resposta que deu ao Rui Nadinho 🙂 …
Os museus conservam memórias e o seu património é uma valor a preservar.
Uma peça de teatro é preservada em livros, e para tal há bibliotecas.
Pôr bandos de indigentes a declamar, uma e outra vez, as memórias que entendem, em cenários sempre renovados, a que meia dúzia de gatos vão assistir, e reclamarem dinheiros públicos para um tal efeito, é matéria bem mais discutível. O mesmo para cinema.
E a tónica é só a expressão artística e o subsídio.
A boa audiência é quase vista como sinal de vulgaridade…
Uma piroseira!
Porra, assumir assim a falta de cultura? Se uma peça de teatro é preservada em livros, porque não preservar a música em partituras? Vai dar ao mesmo. E a história em colecções de cromos, poupava-se imenso em papel.
Ámen!
Segundo o amigo de cima, o teatro serve para ser deixado nos livros, não para ser representado. Eu pensava que uma peça se chamava peça e não conto ou novela porque serve justamente para ser levada à cena.
Os anglo-saxónicos têm um nome para este tipo de pessoas: filisteus…
Deve aliás ser por isso que menos faz parte do seu cognome…
Cultura é humanismo quem não se preocupa por temos um povo inculto é porque isso lhe interessa, os tecnocratas sempre acharam que a cultura era secundária na vida dos povos desde que a classe dominante possa manter os privilégios à custa da ignorância da grande massa populacional e para isso os lá férias de todos os matizes servem bem o sistema de desigualdades em todos os aspectos da vida em sociedade, nunca os que defendem os cortes na saúde pública para privilegiar os negociantes da doença privada assim como a escola pública a favor dos privados que condenam o apoio à cultura, mas defendem a tourada e até lhe chamam a essa actividade bárbara de actividade cultural,,,é porque de facto isso serve os seus objectivos de dominação secular e Rui Rio além de ser culturalmente analfabeto e não ter capacidade para entender uma obra de arte seja de que tipo de arte seja, teatro, música, pintura etc, etc, compreende que se tivesse pessoas cultas a ouvi-lo não teria nem um voto porque toda a gente compreenderia que o objectivo dele a governar é continuar a infernizar a vida da maioria dos portugueses como fez o seu correligionário que governou até 2015.
Mais um culto!
Os cretinos vão ver uma peça do Brecht e arvoram-se em élite cultural.
Dispensam-se de saber porra nenhuma de tudo o mais, desde que saibam desdenhar de tudo que contrarie o corretês.