
Quando foi eleito deputado, o programa de André Ventura trazia consigo uma inovação que, seguramente, iria beneficiar as famílias portuguesas: desmantelar o Estado Social. Privatizar a Saúde, a Educação, privatizar tudo. Tudo. Mas como alguém foi lá ler o programa e denunciou o plano do Chega, André Ventura fez o habitual número Groucho Marx e, como as pessoas não gostaram das propostas, ele arranjou outras e mudou o programa. Pelas famílias, pois claro.
Outra grande demonstração de preocupação com a família, por parte da Unipessoal de André Ventura, reflecte-se na caça ao “subsídiodependente”, uma classe que, segundo a narrativa oficial da extrema-direita, incluiu todo e qualquer um dos 8 milhões de beneficiários do RSI, onde estão incluídos 6 milhões de ciganos, 10 milhões de afrodescendentes e 156 milhões de árabes, dos quais 290 milhões integram células terroristas ligadas ao Daesh ou à Al-qaeda. Mais milhão, menos milhão, é disto que estamos a falar.
No dimensão paralela onde se situa o país descrito pelo CH, o facto de um terço dos beneficiários do RSI serem crianças, não raras vezes provenientes de contextos extremamente delicados, foi censurado da narrativa. Se não interessa, corta, que pode haver ali alguém com sentimentos que se levante e diga “mas ó pá, estas crianças não estão no café a beber e a fumar. Estão na escola com um esforço descomunal daquela mãe solteira.
Na dimensão paralela a partir da qual é emitida a narrativa do CH, o subsídio atribuído à mulher e às filhas de Nuno Santos, de míseros 259 euros, conta como subsídio-dependência. Contudo, se lhes dissermos que se trata da mulher e filhas do funcionário da Brisa atropelado pela viatura oficial de Eduardo Cabrita, o subsídio reveste-se da mais elementar justiça e torna-se uma causa para o partido de Ventura. A família, como Deus e a pátria, é apenas um meio para atingir um fim. Ainda que existam algumas famílias que Ventura não ousa incomodar. A família DePaço, a família Vieira, a família do senhor dos helicópteros que lhe financia o partido com os milhões que ganha com contratos com o Estado e por aí fora. Há famílias e famílias, e há ofertas que, como afirmava Vito Corleone, não podem ser recusadas.
Tudo bem, João, mas creio que já é mais do que tempo de deixar arder o circo chegano e parar de lhe arranjar palco. Estamos a dar-lhe demasiada importância. Não está certo dar essa cavalaria ao caramelo. Já tudo foi esclarecido e desmascarado. Agora é dar o desprezo que tão bem merece.
O Mendes persiste no erro: começa bem – o pulha Ventura, lacaio de mamões, quer privatizar tudo – e acaba mal, a negar a realidade – muitos abusam do sistema. Grande parte dos ciganos abusam.
É por isto ser tabu, é por não se poder dizê-lo sem nos cair em cima a brigada woke que hoje passa por esquerda, que pulhas como o Ventura prosperam e até ultrapassam a esquerda.
Mendes, é simples: ou há moralidade ou comem todos. A sua mãe solteira é um exemplo bonito, mas demasiado conveniente. Não é dela que as pessoas se lembram; é dos abusadores. E enquanto houver abusadores e se não puder falar deles, só vai piorar.
O pulha Ventura um dia desaparece, quando garantir a mama. Mas este problema não vai desaparecer. Porque é real. Negá-lo é como tentar negar a relevância da pobreza relativa; não é só a absoluta que conta. Poucas coisas cortam tão fundo como a injustiça.
A mesma pergunta que ao grunho: quantos são?
Mais sum vómito do aldrabão de serviço.