E se criássemos uma nova Humanidade?

Pensamentos sobre A Evolução da Espécie

Há anos que tenho esta reflexão presa na mente. Fui aludindo a ela um pouco por todas as coisas que escrevi, em todas as plataformas. Estão lá, directa ou indirectamente, todas estas questões e mais algumas. E a propensão que sinto para a escrita vem desta sensação de que a Humanidade está doente e precisa que pensem sobre ela.

Sim, acredito que a cura é o pensamento. A cura para uma espécie de estagnação dos valores humanos. Ou talvez não seja uma estagnação e apenas uma normal fase, como tantas outras. No entanto, sinto que, nestas fases, somos chamados a pensar-nos. A pensar A Evolução da Espécie, procurando um caminho mais positivo naquilo que nos é comum a todos: o ser-se Humano.

Não somos seres económicos

Uma das grandes razões pelas quais tudo isto me assola o pensamento é o facto de nos termos tornado, ao longo de séculos, animais económicos. Vivemos hoje alicerçados em conceitos económicos que são uma criação humana mas que a maioria dos humanos não compreende. Sobre essa não compreensão, falaremos mais abaixo.

Por agora, a economia. E o facto de continuamente ela provar não ser suficiente para satisfazer as necessidades da população. Dir-me-ão que um mundo sem uma estrutura económica é utópico, que é assim que funciona. Mas é assim que funciona porquê? A economia, a inflação, os juros, não são leis naturais. São conceitos humanos. Criados por humanos.

Pensemos na pandemia da Covid-19, que atirou milhões de pessoas para casa sem rendimentos ou com apoios insuficientes. Além de milhões de empresas que, sem processo produtivo, deixam de ter capacidade para pagar a fornecedores e empregados. O ciclo é vicioso. E as crises económicas fazem-se sentir com maior peso sempre nos mesmos bolsos: dos mais pobres ou das chamadas classes médias. Porque são essas pessoas que sabem quanto custa um litro de leite ou um quilo de carne. A partir de determinado rendimento, esses factores não entram em conta.

Porque têm de ser sempre os mesmos a sofrer as consequências das crises económicas que nunca são provocadas por quem mais as sente? A queda de um banco, um esquema de corrupção de colarinho branco ou uma guerra são decisões das mesmas elites que não sentem os efeitos das crises. Está na altura de pensarmos a sociedade de uma forma diferente.

Como? Talvez através do falado RBI, ou Rendimento Básico Incondicional. Que visa garantir os mínimos de sobrevivência a todos os cidadãos. Talvez existam outras soluções. Não assumo que sim, nem que não. Mas assumo a vontade em pensá-las, em discuti-las, sempre pronto a receber argumentos contra e a favor. Sempre com o objectivo de pensar, por consequência, A Evolução da Espécie.

Natureza Humana ou Educação Humana?

Muitos dos argumentos que tentam validar o estado de coisas e a forma como a sociedade está organizada baseiam-se na chamada “natureza humana”, como se fosse um conceito puramente científico. Os pensadores debatem-se há séculos sobre este tema, e mesmo as ciências sociais fazem as suas experiências com seres-humanos que já trazem consigo uma história, uma vivência, uma experiência. Não são folhas em branco.

Mais do que a natureza humana, devíamos pensar na educação humana. Olhemos casos como os do Daesh, Estado Islâmico, onde muitos dos que hoje defendem essa atrocidade foram assim ensinados desde crianças. Não nasceram com desejos de matar os “inimigos”. Essa ideia foi-lhes plantada através da educação. E quem fala nisto, fala em todas as outras religiões, muitas delas com a sua história manchada de sangue. Ninguém nasce religioso.

Então e se pegássemos nessa poderosa arma, a educação, e educássemos para a Humanidade? Para os valores que nos lembram de tudo o que mais nos une e nos torna semelhantes, precisamente o facto de sermos seres-humanos?

Acredito piamente que essa Evolução da Espécie com que sonho tem o seu maior alicerce na Educação.

O mundo não é a preto e branco (e ainda bem)

É, aliás, essa mesma educação que permite eliminar outro dos sintomas da doença que nos atinge: as absurdas divisões que vamos criando entre os Humanos. Longe de ser um conformista, porque acredito que a diferença é salutar – aliás, espero-a nas reacções a este texto – parece-me que a maioria das divisões que fazemos são nocivas. Ou que o são, pelo menos, quando essas diferenças se tornam dogmáticas e não conseguimos sair delas.

Penso, por exemplo, nas dicotomias políticas esquerda/direita, nas diferentes religiões, na noção de pátria. É natural que existam várias opiniões para a estruturação de um regime político, é natural que as ideias sobre o Universo e o que ele contém possam ser variadas, e as diferentes cidades, países e regiões tornam visíveis elementos culturais que só nos fazem bem quando os compreendemos melhor.

No entanto, o que vemos é um permanente conflito agressivo perante estas diferenças. O diálogo saudável tornou-se uma raridade, sobretudo porque a tecnologia veio cimentar uma perigosa noção de turba que apela aos nossos piores instintos.

Dir-me-ão que estou a ser exagerado. Respondo pensando na Ucrânia e em todos os locais que vivem assolados por conflitos armados: na hora da possível morte, as diferenças esbatem-se e o instinto de sobrevivência e a essência humana vêm ao de cima. Fazem indivíduos outrora toldados pela diferença serem cúmplices, aliados, irmãos. Sabem que mais? Sempre o foram. Viviam simplesmente, até ali, toldados precisamente por essas complicadas diferenças que fomos criando para nos rotular e diferenciar, esquecendo-nos no processo do que somos verdadeiramente.

E é voltando a pensar no que somos verdadeiramente que podemos pensar, ao mesmo tempo, na Evolução da Espécie.

Uma conclusão e um desafio ao leitor

Mais argumentos poderiam acrescentar a esta reflexão. Mas penso que, por ora, a ideia de não sermos seres económicos, a importância da Educação e a tentativa de disciplinar as nossas diferenças para que não nos façam delas ser escravos, são um bom ponto de partida para uma reflexão séria sobre a Humanidade.

Deixo, em jeito de conclusão, o repto a quem ler este texto. Que tente, em vez de apostar no insulto ou na crítica fácil de uma frase ou outra, ser construtivo. E construtivo é apresentar um ponto de vista diferente para um ou mais dos argumentos que apresentei. Enviem-me livros, artigos científicos, reportagens ou ensaios, que toquem num ou mais pontos deste texto. Vamos pensar juntos. Pensar A Evolução da Espécie.

Comments

  1. É muito interessante ver como o César questiona o mundo (imundo), os caminhos, orientações e resultados, mas nunca por nunca ousa questionar o sistema responsável por tudo isso. Prefere refugiar-se na psicologia dos personagens, da educação e na teoria do “homem novo”. Porque será????

    • César Alves says:

      Caro José,

      Primeiro. Que sistema é esse que eu não ouso questionar, na opinião do José?

      Segundo. Porque é que a Educação e a Teoria do Homem Novo são refúgios e não podem ser estruturas base de uma reflexão?

      Aguardo as suas respostas.

  2. J. M. Freitas says:

    “Então e se pegássemos nessa poderosa arma, a educação, e educássemos para a Humanidade?”
    Qual é o sujeito do verbo pensar nesta frase? Quem é que vai pensar e quem é que vai educar? Ou seja, quem domina neste momento? Sei calhar quem domina e, portanto, vai educar não tem os objectivos preconizados neste artigo. O resultado pode ser contraproducente, educando para outros fins.

    “com seres-humanos que já trazem consigo uma história, uma vivência, uma experiência. Não são folhas em branco.”
    É aí que bate o ponto. Não podemos partir do que imaginamos mas sim do que encontramos e daí pensar em como chegar ao nosso objectivo.

    “No entanto, o que vemos é um permanente conflito agressivo perante estas diferenças.”
    Como resolver esse conflito? Pregando moral, dizendo portem-se bem? Ou tentar tarnsformar esse conflito? Como e quem transforma?

  3. JgMenos says:

    Pesquisei quatro palavras em tão visionário texto:
    carácter, responsabilidade, esforço, trabalho

    ZERO

  4. Joana Quelhas says:

    Pensar uma nova humanidade ?
    Eu começaria por um pouco de humildade intelectual. Quanta arrogancia intelectual é necessária para se julgar capaz de querer fazer uma nova humanidade ? O meu caro quer assumir um papel de deus ? Quer corrigir aquilo q se vem aperfeiçoando desde à milenios com a criação de um direito positivo ? Tenha lá paciencia, se pensar um refletir um bocadinho mais a sério logo verá q todos os ditadores responsáveis pelos miores crimes contra a humanidade tinham o objectivo comum de criar uma sociedade perfeita um paraiso na terra. Não muito obrigado mas essa visão messianica só poder trazer mal ao mundo

    • Começando logo no título, o César falou sempre no plural. Convidou-nos a tidos, incluindo a Joana, a pensar essa nova humanidade. Mas compreendo que o colectivo seja um conceito estranho e difícil de entender para quem só sabe olhar para o seu próprio umbigo.

  5. J. M. Freitas says:

    “desde à milenios”
    Não acredito bno que vejo.

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