PSD e PS ou o festival das falsas equivalências

Já se sabe que o Chega é um conjunto heteróclito de descontentes e/ou de oportunistas que, independentemente de tudo, não apreciam o jogo democrático e nem sequer o disfarçam, grunhindo ameaças sob a capa de uma alegada frontalidade politicamente incorrecta que é só vontade de bater em quem tem ideias contrárias.

Os melhores amigos da cheganada estão no Partido Social talvez Democrata e no Partido dito Socialista. As últimas letras das siglas parecem andar a perder força. O PSD continua a namorar o Chega, não vá dar-se o caso de os dois copularem e conceberem maioria; o PS continua a viver dos rendimentos que o namoro dos outros lhe proporciona, esvaziando uma esquerda que não sabe por onde subir.

Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, esteve na convenção do Chega e sentiu-se na obrigação de se justificar. Foi fácil: disse que o Chega estava para a direita como o Bloco de Esquerda estava para a esquerda, uma gente radical e barulhenta. Antevê-se o milagre: o PS aliou-se com o Chega de esquerda? O PSD aliar-se-á com o Bloco de direita.

António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, apresentou no Parlamento um país que parece estar melhor do que as pessoas (nota-se aqui um aroma a Montenegro?). Quando Mariana Mortágua criticou a ausência dos problemas salariais no discurso do ministro, este acusou-a de ser retrógrada, inimiga das tecnologias, no exercício velhinho de confundir alhos com bugalhos.

Por outro lado, Costa Silva tem alguma razão: no mundo em que vivemos, um partido que se preocupe com os rendimentos das pessoas só pode ser retrógrado, porque isso não está na moda.

A direita, que inclui muito PS (ai esse S, marotos!), tem um ódio profundo à esquerda, um ódio apaixonado, atribuindo-lhe todos os defeitos. Costa Silva teve, aliás, uma tirada magnífica e habitual, ao acusar a deputada inimiga de acreditar que era dona da verdade, considerando que estava quase sempre errada, o que quer dizer que o próprio Costa Silva se considera dono da verdade, o que, de qualquer maneira, é um problema que nos afecta a todos – a minha opinião é sempre melhor do que a opinião contrária.

No futuro, o PSD já Chega poderá vir a governar. Por outro lado, para impedir tal possibilidade, haverá muita esquerda assustada a dar uma maioria absoluta ao PS. Entretanto, a esquerda, segundo a direita que nos governa há anos, manda nisto tudo.

Comments

  1. JgMenos says:

    E em final, tudo fica na mesma:
    A esquerdalhada a falar de rendimentos ignorando a produção que lhe dá origem.
    A direita a falar da estupidez da esquerdalhada mas a cuidar de não lhe denunciar o vocabulário centrado no rendimento, tornado fruto de uma qualquer fé.

  2. João Mendes says:

    Excelente!

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