
Em Itália, sem grandes surpresas, a extrema-direita triunfou. A única surpresa foi ver órgãos de comunicação social portugueses, alegadamente sérios, a referir-se à falange de Meloni como “coligação de centro-direita”. Que é mais ou menos a mesma coisa que dizer que entre a Lega de Salvini, os Fratelli di Italia de Meloni e o PSD da São Caetano não existem diferenças. Bem sei que estes últimos se têm esforçado por normalizar a extrema-direita, mas ainda existe uma diferença considerável entre normalizar e ser.
Dito isto, recordo que vivemos num país onde, frequentemente, nos é dito que a imprensa bate continência à esquerda, em particular os OCS do Grupo Impresa. Curiosamente, foi a SIC Notícias quem ontem insistiu na ideia de que uma coligação entre Salvini, um fascista de créditos firmados, Berlusconi, um populista corrupto, e Meloni, uma admiradora de Mussolini com o slogan Deus, Pátria, Família representa o centro-direita. Em nome do rigor jornalístico, seria de bom tom que a SIC Notícias dissesse a verdade. E a verdade é esta: sempre que o centro-direita cede à extrema, é comido e desaparece. Foi isso que aconteceu em Itália, em França e na Hungria. Não aconteceu na Alemanha porque Merkel aprendeu as lições da história e soube gerir a situação, quando, por exemplo, preferiu entregar o poder ao Die Linke, na Turíngia, ao invés de governar a região com o apoio da AfD.
Contudo, é preciso ser claro: quando a extrema-direita destrói o centro-direita, a primeira não passa a ocupar lugar do segundo. O que acontece é que o segundo desaparece. A extrema-direita será sempre extrema, mesmo nas situações em que o espectro a tem apenas a ela.
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