Uma tragédia, o Emplastro e um filho da Ribeira

Ninguém me tinha lembrado – nem um artigo na imprensa, uma curta peça de fim de telejornal – que se cumpria mais um aniversário da Tragédia da Ponte das Barcas e só porque estava sol e me apetecia um fino é que eu fui parar à Ribeira nessa tarde. Mas assim que cheguei deparou-se-me um cartaz a anunciar uma romagem às Alminhas da Ponte e pareceu-me uma coincidência feliz.

O cartaz anunciava uma “celebração da palavra”, coisa bonita, pelo Padre Jardim. Como costuma acontecer a quem é deixado crescer sem doutrinamento tenho a minha particular colecção de crenças, todas muito avessas à ordem das religiões. E não foi a intervenção de um clérigo, de resto muito respeitável, que me fez ficar, mas a evocação de uma história que me arrepia desde que pela primeira vez me contaram por que havia sempre velas acesas frente a um obscuro painel voltado para o Douro. Que se continue a lembrar, com a chama de uma vela que gerações sucessivas vão mantendo acesa, as vítimas que já ninguém conheceu, mas dos quais podemos ser todos descendentes – anónimos e esquecidos avós, porque os pobres não cultivam a genealogia e dos nossos antigos guardámos só uma foto amarelecida, uma colecção de chávenas esbotenadas, ou a cor das nossas íris – que se continue a lembrar as quatro mil vidas que a cidade perdeu nesse dia parece-me sinal de uma grandeza de alma que nem todos os lugares têm. [Read more…]

Túnel da Ribeira

Foto: José Magalhães

O túnel da Ribeira é curto, uns duzentos metros, se tanto, mas caótico, à maneira latina.

É um túnel de outro tempo, trânsito nos dois sentidos e corredores para os peões, por onde se caminha depressa para fugir aos tubos de escape, ao calor e às buzinadelas amplificadas. É por causa dos peões, e não pela vaga infracção de trânsito, que eu nem sempre buzino no túnel e se o faço não é mais que uma vez, mas buzinar no túnel da Ribeira é uma tradição da cidade, toda a gente sabe.

Na segunda passada – era 12 de Agosto e foi um dia aziago – entrei no túnel vinda da ponte, encandeada pelo sol baixo do fim da tarde, demasiado ocupada em não atropelar os magotes de turistas que desciam a cada instante o passeio e pousavam imprudentemente as pernas escaldadas na faixa de rodagem, alterada pelo caos da cidade e pelo meu, e foi como se entrasse por uma passagem desconhecida, para um outro mundo (paralelo? perpendicular?) onde as regras só podem ser outras. [Read more…]

Um dia não são dias…

Domingo, 13horas, Ribeira do Porto, Setembro de 2012.

As ruas, as esplanadas e os restaurantes cheios de turistas. Eram franceses (muitos), ingleses (alguns) e espanhóis (vários). Um dia de sol fantástico que convida a um passeio por todo este Património da Humanidade e que nos enche de orgulho e satisfação ao ver semelhante mar de turistas.

 

Manda a prudência evitar almoços de domingo em zonas turísticas na época alta. Eu sei. Não resisti. Fomos ao Chez Lapin, mesmo no olho do furacão turístico. A longa espera, fruto de um serviço fraquinho, permitiu assistir à invasão de um grupo de franceses, logo seguido de um grupo de italianos reformados. Fico positivamente surpreendido ao verificar que o restaurante tinha empregados que dominavam o francês e o italiano – o facto de a sopa que nos serviram ter regressado ao ponto de partida por estar azeda não me tirou a boa disposição. São coisas que acontecem…

 

Com afinco, os empregados procuravam impingir o bacalhau. Alguns italianos resistiram. Entretanto chegaram os nossos pedidos. Só não seguiram o caminho da sopa por verdadeira desistência. Em bom português, uma merda. Os meus filetes de polvo com arroz de feijão resultaram nuns filetes muito maus e quanto ao arroz, ainda espero sentado. As carnes em “vinha de alhos” dos restantes comensais (três) vieram acompanhadas de quatro meias batatas assadas. Quanto ao sabor e qualidade da carne nem vale a pena perder tempo a explicar.

 

Ao meu lado, os italianos sofriam. Desde confusão na entrega dos pedidos, reclamação pacífica sobre os mesmos – imaginem o que lhes entregaram: o bacalhau que não queriam. A água fresca solicitada resultou em natural. Quando os empregados não estavam por perto e dada a proximidade entre as mesas não foi difícil perceber os seus comentários. No início só elogios à cidade, a meio abundavam as críticas à qualidade dos produtos servidos.

 

Finalmente, as sobremesas. O meu bolo de chocolate deve ter sido bom e fresco três dias antes. Desisti. Pedi a conta e fui-me embora. Para nunca mais. Nem fiquei triste ou mal disposto por mim e pelos que me acompanharam. O meu desalento é outro.

 

Estamos todos a fazer um enorme esforço para manter o Porto no mapa de destinos turísticos de excelência. Todos. Entidades públicas da Região, privados, operadores, etc. Excelentes hotéis, fantásticos hostels, restaurantes cada vez melhores, mais formação e muito mais informação. Só que alguns ainda não aprenderam e querem ganhar tudo de uma vez só a curto prazo. Quando assim é, todos ficamos a perder.

 

Escrevo estas linhas por um pormenor que é pormaior: estes franceses e italianos não escolheram o Chez Lapin como eu. Aterraram nele levados por guias contratados (e devidamente identificados como tal). Eu escolhi o restaurante e por isso o erro foi meu. A estes turistas foi impingido. Logo, foram duplamente enganados.

 

Um dia não são dias. Espero que tenha sido só um dia menos bom.

Fotografia – Ribeira – Porto

Jardim nunca aceitará esta ajuda!

A Ordem dos Arquitectos e a Ordem dos Engenheiros pela escrita dos respectivos Bastonários, vêm dar uma série de conselhos técnicos a Alberto João no sentido deste não tornar a cometer as barbaridades de Urbanismo e Construção que cometeu no passado.

O drama da Madeira como já aqui escrevemos é uma oportunidade , como o Prof. Ernâni Lopes logo dois dias após, ensinou. O Turismo pode ser melhor, ter mais qualidade e mais-valias que atraem o turista que fica e consome.

Estes três técnicos credenciados colocam à disposição da Madeira e do seu povo conselhos que têm todo o sentido, até pelos resultados que, infelizmente, estão aí à vista de todos. Não se pode construir em leito de ribeira nem de cheia, não se pode construir em falésias que atraem o desastre, não se pode encher de betão uma ilha que se quer única para atrair turistas de qualidade e, sem medo da palavra, ricos!

Mas é certo e sabido que o Presidente da Região olha para esses conselhos como alguem que lhe quer tirar o poder de fazer sem olhar às consequências, são cubanos cheios de prosápia, mandem lá no “contenente” que na Madeira mandam os madeirenses, leia-se o Alberto João e os amigos! Quando saiu da toca, passada que estava a intempérie, aí estava ele para as televisões ouvir ” tudo túneis que foi o que se aguentou, não vou em conversas…”

Pois, o grande mal é não saber em que conversas deve ir…

Ribeira em Dia de Chuva

Apontamentos do Porto (6)

(Ribeira, Cidade do Porto)

Apontamentos do Porto (5)

(Ribeira, Cidade do Porto)

Apontamentos do Porto (3)

(Praça da Ribeira, Cidade do Porto)

Porto

Ribeira de Gaia