Segundo o que é possível apurar a partir da leitura desta notícia, a freguesia de Atenor, no planalto mirandês, é afectada pela desertificação e tem uma população envelhecida e, em muitos casos, solitária. Até há pouco tempo, havia várias valências nos centros de saúde da região que desapareceram, “em nome da contenção de custos.”
A mesma notícia permite-nos ficar a saber que todas essas valências são, afinal, necessárias, mas, na mentalidade contabilistóide dos últimos governos, os desfavorecidos não contam como seres humanos e são apenas parcelas a abater, pelo que ficam entregues à sua sorte.
Fácil é concluir que há, portanto, trabalho para profissionais de saúde. No entanto, ali, os privados não estão interessados em apostar, porque meia dúzia de velhos não dão lucro, e o Estado está transformado num terreno para venda, prescindindo do dever de solidariedade, um dever mínimo num país que continua longe de ser um país civilizado.
Duas enfermeiras desempregadas – embora necessárias – resolveram oferecer três meses de trabalho voluntário, longe das respectivas casas e famílias, com o objectivo de conseguirem, no final, um emprego. Entretanto, não recebem ordenado, tendo direito a cama, mesa e roupa lavada, com o apoio da junta de freguesia e da população.
Resumindo e repetindo: há, no Portugal do século XXI, pessoas que precisam de cuidados de saúde e não têm como pagá-los. Nesse mesmo Portugal, há técnicos especializados que trabalham a troco de comida. Todas estas pessoas merecem os maiores louvores, por procurarem sobreviver e lutar num ambiente hostil.
Depois, descobri neste texto do João José que há uns rapazes muito giros e arejados, cheios de ideias modernaças e marialvas, que chamam empreendedorismo a uma situação que nasce do abandono, da miséria, da má gestão, da macroeconomia cega. É claro que, por esse prisma, não haverá imagem mais digna de ser considerada como empreendedorismo do que a de um sem-abrigo a procurar comida num caixote do lixo.
Mas a Troika só elogia – outros “gangs” internacionais