Aqui estou pelos santinhos
A versejar a preceito
As musas dão-me beijinhos
P’ra que faça obra de jeito
Estão murchos, os manjericos
Que os ares andam pesados
Andam contentes os ricos
E os pobres andam lixados
Mas até os Santos notam
Que se há muitos que dão luta
Há muitos outros que votam
Naqueles filhos da p****
Este governo é um colosso!
Está- se a cagar p’ro povinho
O Paulo a cagar fininho
O Pedro cagando grosso
Pôs-se S. Pedro a caminho
Pelas bandas de Massamá
Dá o Passos um gritinho:
“O meu santinho está cá!
Também sou Pedro, o Coelho
E governo este país”
“Chega-te p’ra lá, fedelho
Ou parto-te esse nariz!
Só de ver este tinhoso
A minh’alma fica enferma”
Grita o Santo furioso:
“Pedros há muitos, palerma!”
S. António milagreiro
A política foi ver
Viu o ouro e o chiqueiro
Por de tudo isto haver
Ficou muito transtornado
Olhando p’ro desacato
Tinha-se o caldo entornado
Entre os Antónios do Rato
Também, confessava o Santo
Não me vou incomodar
António por cá há tanto
Cada qual seu paladar
De Antónios há tal sortido
Desde o santinho ao ladrão
Que até um do inferno ungido
Há em Santa Comba Dão
Já S. João passeava
Pelas ruas do Cais Sodré
E o que via o espantava
Era diferente o banzé
Dantes era debochado
E agora diferente é
É finório e apinocado
Tem restaurantes gourmet
O Mercado da Ribeira
Está também muito mudado
Já que em vez da chinfrineira
Há pessoal refinado
Há croquete e caturreira
P’ro jet set falido
E a Caneças, que é foleira
Mija o que tinha bebido
S. João fica espantado
Que a Ribeira que ele estima
Não fica daquele lado
Mas no Porto, mais acima
E decidiu desta sorte:
“Vou cuidar do meu conforto
Só se está bem lá no Norte
Vou pirar-me para o Porto”
Porém, antes de partir
Foi ter c’os outros santinhos
A fim de se despedir
E provar os belos vinhos
E entre eles constataram
Quão triste estava o país
E p’la saúde brindaram
Daquele povo infeliz
Que quando pode votar
P’ra acabar com o castigo
Em vez de se libertar
Vai votar no inimigo
“Eu por mim já decidi
Este governo sandeu
Pode mandar por aqui
Mas ai se chegam ao céu!
Dou-lhes na tromba primeiro
E depois castigo eterno
E com um chuto no traseiro
Despacho-os p’ro inferno!”
E agora vamos à festa
Que nos cabe nesta vida
Que a alegria que nos resta
Bem merece ser vivida
Vamos ao vinho e às sardinhas
E a dançar o solidó
Cantando belas modinhas
Vai na marcha ó fulambó!
Supimpa
Estas quadrinhas (parabéns ao versejador, tão versado nessas métricas e rimas!) podiam ser as da Marcha do Aventar!