Crónicas do Penedo II – Pere de Portugal

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Enquanto tomava um café (chamar a esta sopa de água tingida café…) e fumava o meu primeiro cigarro do dia descubro que o governo das Baleares investiu a módica quantia de 55 mil euros para adquirir duas moedas mandadas cunhar por Pere de Portugal (Coimbra, 1187 – Maiorca,1258) personagem que governou as Baleares e que mesmo sem autorização do Rei decidiu cunhar moeda própria (1232-1244) tendo numa das faces as armas portuguesas e na outra as da Catalunha. A notícia foi lida no diário Ultima Hora (página 61).

Fiquei curioso. Pere de Portugal? Esta coisa dos nossos vizinhos terem várias línguas conforme o seu território deixa qualquer um confuso. Qual Pere qual quê! Estamos a falar de Pedro Sanches de Portugal, segundo filho do nosso Rei Sancho I e de Dulce de Aragão. Um tipo que andou sempre metido em várias confusões. Reza a história que começou por tomar partido das irmãs mal Sancho I, seu pai, faleceu contra o seu irmão mais velho, o Rei Afonso II. A coisa correu mal e zarpou para Leão. Mais tarde seguiu para Aragão (1229) para ajudar o Rei Jaime I de Aragão e casou com a Condessa de Urgel. No ano seguinte ajudou o Bispo de Tarragona a conquistar Ibiza aos Mouros (os mesmos que anos antes ajudara) e em 1231 o Rei Jaime I de Aragão entrega-lhe o domínio feudal do Reino de Maiorca (Maiorca, Ibiza, Menorca e Formentera) tornando-o Senhor das Baleares até à sua morte em 1258. Isto de forma muito resumida e tendo sempre presente que boa parte das fontes foram colhidas na internet, com todas as limitações e riscos que se conhecem. Já agora, para que não se confundam com as datas, ele foi Senhor das Baleares entre 1231 e a sua morte em 1250 e governou as ilhas só entre 1232 e 1244. Está feita a advertência.

Este nosso conterrâneo que foi “Senyor de Mallorca” é mesmo uma personagem estranha e que cumpre religiosamente a velha máxima lusitana de não gostar de cumprir as regras. Reparem, desde cedo começou por tomar partido contra o legítimo herdeiro da coroa, Afonso II, seu irmão. O que motivou a sua partida para Leão, o reino do seu cunhado, Afonso IX, casado com a sua irmã Teresa. A seguir foi para o Norte de África combater ao lado dos Mouros (sim, não me enganei, ao lado/serviço dos Almohades), anos mais tarde regressa à península e vai servir a coroa da Catalunha e o Rei Jaime I. Casa com a catalã Condessa de Urgell em 1229. Dois anos depois morre-lhe a mulher e ele passa a Conde de Urgell. O Rei Jaime I não gostou e tratou de negociar uma troca e é assim que Pedro Sanches de Portugal passa a Pere de Urgell e daqui a Pere de Portugal aceitando passar a ser “Senyor de Mallorca” que, curiosamente, tinha sido conquistada dois anos antes aos….exactamente, Almofades, os mesmos que Pedro/Pere serviu antes. Como se não bastasse, apanhou-se como “Senhor” das Baleares e toca a contrariar o Rei cunhando moeda contra a vontade deste. Ora, é aqui que reside a importância do investimento patrimonial feito hoje pelo governo das Baleares.

A questão da moeda de “Pere de Portugal” era considerada por muitos historiadores como um mito. Sempre se julgou que ele tinha acabado por não a produzir. Estes dois exemplares agora adquiridos vieram comprovar que Pedro Sanches de Portugal cunhou mesmo uma moeda local. Citando uma frase que é todo um resumo, de Juan Ramón Picornell: “Parece claro que Pere se atribuyó unos derechos que no le correspondían”. Ou seja, algo muito português.

 

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Muito interessante este artigo.
    Permita-me um pequeno paralelo. Parece ser que Peres de Portugal há por aqui uma chusma que hoje se caracterizam por usar bandeirinhas coloridas na lapela.
    Contudo relativamente ao genuíno Pere de Portugal que … ““Parece … que se atribuyó unos derechos que no le correspondían”, os actuais usam e abusam de direitos que infringem as regras da Democracia. E continuam por cá…

  2. Orlando Sousa says:

    Era irmão da D. Mafalda, a do Mosteiro de Arouca. O pai deixou a herança para todos os filhos (igualmente repartida). No entanto o irmão mais velho, D. Afonso II reverteu essa herança, ficando com os direitos de tudo. E daí esse fez-se à vida, a D. Mafalda foi para o Convento de Arouca, onde chegou a Abadessa sem nunca ter professado.

  3. Carrie says:

    Estamos a falar da história de Aragão e da Catalunha ( governados pelos condes de Bacelona), não da história de Espanha ( cuja designação existe apenas desde o seculo XVII). Não percebo porque considera ‘estranho’ que o nosso D. Pedro deja ‘Pere’, pois ainda hoje é esse o seu nome em catalão. Isto não tem nada a ver com Espanha (Castela), por muito que os livros espanhóis digam o contrário.

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