Existem enormes paralelismos entre um eucaliptal e a banca. Desde logo, ambos secam tudo à sua volta, a água no primeiro caso, o dinheiro dos portugueses no segundo. Registam o pico de ocorrências no calor da época veraneante de Agosto, como se constata com o incêndio do BES, a 3 de Agosto de 2014, e com as labaredas à vista na CGD, a 25 de Agosto de 2016. E é quando tudo arde, na floresta e na banca, que se ouve o chamamento pelo salvamento público e se descobrem miríades de peritos com diagnósticos e soluções que, quando apenas sobram cinzas, logo caem em esquecimento. É ainda neste período de desgraça que se constata que aqueles com a responsabilidade para prevenirem a catástrofe não o fizeram, apesar dos sucessivos sinais de perigo.
O incêndio BANIF começou com um caso de fogo posto na CGD, graças ao acumular de combustível debaixo do tapete da Caixa, em Janeiro de 2013, e acabou como fruto de um incêndio com ignição retardada, em Dezembro de 2015, pelo efeito dos ventos provenientes do quadrante da possível mudança eleitoral. Também neste banco se regista o paralelismo com a mata de eucaliptos a arder, na qual a casca em combustão explode, projectando fagulhas que rapidamente propagam o fogo. Incluir o BANIF no banco público foi só uma forma de fazer as chamas a ele chegarem, somando-se à queimada em curso criada pela resolução do BES. Como se sabe, terra queimada vende-se ao desbarato e pouco faltou para que a Caixa Geral de Depósitos completasse a transformação em terreno barato para novos plantadores de eucaliptos. Era para aí que conduziam as opções tomadas durante o reinado da troika.
Já o BPN faz lembrar a herança de bons terrenos de cultivo que uns quantos transformam em ouro verde, mas que rapidamente se descobre apenas ser cobre com verdete venenoso. Tal como nos incêndios, os pirómanos continuam à solta e alguns, como Dias Loureiro, até são elogiados como exemplares. E o Finibanco, Montepio, BCP, BPI, Estado, BdP, CMVM e os governadores do Banco de Portugal? Parecem, à vez, os Canadair, as beatas acesas e o feno seco. Neste contexto de incúria e crime, há sempre o papel dos incendiários que se vêm mostrar surpreendidos por as matas de facto terem ardido.
A recapitalização da Caixa Geral de Depósitos é a replantação dos eucaliptos bancários, em terra queimada ao longo do percurso de diversos governos. É a reeucaliptização da banca.
Referências
- Comunicado do Banco de Portugal sobre a aplicação de medida de resolução ao Banco Espírito Santo, S.A.
- Bruxelas aprovou recapitalização da CGD que pode ir até 4,6 mil milhões
- As falhas do Banco de Portugal nas quedas do BPN, BPP e BES
- Nacionalizar a banca? Já o fizeram desde 2011
- Os responsáveis pela morte do 7º banco português
- Banif: preste atenção, este é um caso muito sério
- Tal como o BPN, também o BES foi nacionalizado
- Passos não exclui privatização da Caixa Geral de Depósitos
- Ninguém sabe dos fundos europeus
- A grande conspiração por detrás da OPA de 341 milhões do Montepio ao Finibanco
- Passos elogia, “de uma forma muito amiga e especial”, Dias Loureiro
- CDS quer Governo no Parlamento para explicar recapitalização da CGD
- Passos acusa Centeno de ter passado a pasta das más notícias à nova administração da CGD
- Como foi possível fazer isto ao país? A nacionalização do BPN
Extraordinário poster este que bem personifica o que é o capitalismo selvagem em pleno seculo XXI.
Isto é bem pior que o fascimo.
Desgraçada humanidade que de humana já tão pouco tem.
Bem haja por escrito porque o despertar das consciências é necessário.
“Se não tens pais ricos, nem ganhaste a lotaria vem ao BES”
Muita gente foi, e agora exigem que sejam os contribuintes portugueses que não foram ao BES, a pagar o roubo de que foram alegadamente vítimas.
Na verdade não foram vítimas, porque pensavam que iam receber juros disparatadamente altos, que mais nenhum banco oferecia.
Na verdade foram vítimas da própria ganancia, e receberam o que mereciam.
Quem não acreditou nos gatunos é que não merece ser agora castigado.
Primeiro, é a lei.
Segundo, as pessoas não são muito inteligentes com questões económicas e financeiras: se fossem, não diziam que sim à austeridade, entre outras coisas.
Diz-se que à banca cabe a função de financiar a produção nacional e a economia. E diz-se que para isso precisa de ter capital.
1
Mas se a banca privada não tem capital (porque o desbaratou em negócios danosos e fora da lei, e porque o desviou para contas privadas em paraísos fiscais, para fugir ao fisco e aos tribunais), porque têm os cidadãos que suportar o roubo desta gatunagem, em nome da produção e da economia nacionais?
2
Se a banca privada é comprovadamente incapaz de cumprir essa função do interesse nacional, e pelo contrário, em cada coisa que faz, procura prejudicar o interesse nacional, pela fuga aos impostos, pela agiotagem, pela especulação, e pelos tráficos a que se dedica.
3
Porque não pode a banca nacional (fiscalizada por um governo patriota e competente), financiar a produção e a economia nacionais?
Muito bem, Jorge. Esta é uma forma brilhante de ensinar quem o lê. Nada que chegue à verdade servida pela criatividade. Parabéns!