Ortografia dentro das expectativas

Há tempos, descobri a mesma palavra escrita de duas maneiras diferentes no mesmo texto, cumprindo as instruções do AO90 e à vontade do freguês. Hoje, ao ler uma entrevista nessa instituição que é A Bola, acontece o mesmo à mesma palavra, com a vantagem de acontecer em poucas linhas. Acresce o facto de que essa mesma palavra, à luz do critério que norteia o AO90 e desnorteia a ortografia, deveria ter uma única grafia, como já tive oportunidade de notar.

A Bola é lida por milhares de leitores e, por ter adoptado o AO90, contribui para esta indefinição ortográfica, porque a aprendizagem da escrita é, também feita através de mecanismos quase inconscientes, passe o paradoxo.

Os erros de concepção do AO90, os disparates que decorrem da sua aplicação e os outros erros provocados pelas várias inseguranças criadas pelos dois primeiros factores destruíram o próprio conceito de ortografia, reduzido apenas a grafia, num caminho de retrocesso em direcção a textos (orto)graficamente caóticos.

Finalizemos, começando por um truísmo: há assuntos muito mais importantes do que a ortografia. Dito isto, a ortografia é uma coisa muito séria, com implicações na compreensão e na expressão de cidadãos que vivem numa sociedade em que a escrita é um instrumento fundamental. Quem defende o AO90 está, portanto, a brincar com a ortografia.