
13 mil milhões de euros dariam para 20 hospitais (um por distrito e região autónoma), 4 submarinos, 2 campeonatos do Euro (futebol), 1 ano de RSI e 1 ano de Educação – tudo junto.
13 mil milhões desapareceram do bolso dos portugueses ao longo de 9 anos, desde que a moda pegou com o BPN. 7% do PIB. Temos consciência de estarmos perante muito dinheiro. Mas vemos estes números na comunicação social e o que é que eles significam mesmo? É preciso encontrar termos de referência para percebermos.
Comecemos por alguns valores conhecidos.
- Um hospital novo, de raiz, como o de Cascais, custa 100 milhões de euros (referência).
- Os dois submarinos, comprados em 2004, custaram 820,7 milhões de euros (referência).
- O director geral do Euro’2004 revelou que os 10 estádios portugueses custaram 665 milhões de euros (referência).
- Os custos da alta velocidade (TGV), dos eixos prioritários (Lisboa-Porto, Porto-Vigo e Lisboa-Madrid) representariam um investimento de quase 9 mil milhões de euros (referência).
- OE2017: Governo destina quase 379 milhões para Rendimento Social de Inserção (referência).
- A despesa com a educação no OE2017 é de 6 mil milhões de euros (referência).
Com 13 mil milhões de euros é possível realizar qualquer um dos seguintes itens:
- 130 hospitais;
- 15 submarinos e 7 hospitais;
- 20 campeonatos europeus de futebol;
- Rede de TGV (Lisboa-Porto, Porto-Vigo e Lisboa-Madrid) e 40 hospitais;
- 34 anos de RSI e 1 hospital;
- 2 anos de orçamento para a educação e 10 hospitais.
Podemos, alternativamente, compor um cabaz com estes elementos. Assim, 13 mil milhões dariam para um novo hospital em cada distrito e região autónoma (20 hospitais, ou seja, 2 mil milhões de euros), mais metade da rede TGV (4,5 mil milhões de euros), mais um ano de RSI (379 milhões de euros) e um ano de educação (6 mil milhões de euros). E ainda sobrariam 121 milhões de euros para o que bem nos apetecesse. Ou então, preferindo submarinos e futebol ao TGV, os 13 mil milhões de euros dariam para os 20 hospitais, 4 submarinos, 2 campeonatos do Euro, 1 ano de RSI e 1 ano de Educação.
13 mil milhões não é apenas um número. É, de facto, um enorme potencial que não se realiza. E, no entanto, assistimos a este roubo – usemos o termo correcto – sem que o país esteja em alvoroço. Nos comentários que se ouvem até se regista um tom de normalidade em frases como “olha, o Montepio é o próximo”. Como é que se construiu esta normalidade? Nos partidos, principal representação do país junto do poder, pouco se passa, mesmo naqueles habitualmente mais contestatários. Subindo ao nível supra-nacional, os países vêm os seus bancos sorverem-lhes os recursos, sem que se organizem para parar a sangria. É uma tendência global, possível porque, a nível local, as populações não reagem, por indiferença, ou por se sentirem incapazes.
Perceber a transformação que levou as pessoas aceitarem o roubo implica questionar o que damos por inquestionável. Por exemplo, vivemos de facto em crise, quando a abundância e saúde atingiram níveis sem precedentes? A segurança é um problema, ou as pequenas notícias são amplificadas pelos novos meios de comunicação globais? É factual que há muitas pessoas, mesmo muitas, a viver pior do que há uns anos, na exacta proporção em que alguns viram a riqueza aumentar, sem que ordem social esteja beliscada. E que há sinais preocupantes no equilíbrio de forças mundiais.
A reacção das pessoas resulta da avaliação individual quanto a um conjunto diverso de factores, como a percepção de segurança e o risco de ficarem numa posição pior. O panorama mediático, muito negativista, e um conjunto de mensagens sistematicamente repetidas, mudam o fiel desta avaliação, o que, não sendo o único factor, poderá ajudar a explicar porque se acomodam as pessoas.
Quanto à questão principal, o dinheiro não desapareceu e hoje há um pequeno grupo de pessoas que viram a fortuna crescer no valor de 13 mil milhões de euros. Porque, repita-se, o dinheiro não se evapora. Os Estados, ou seja, as pessoas que fazem o Estado, precisam de retomar o controlo da finança. Sabemos que só a acção concertada dos Estados poderá resultar em mudanças reais. Mas isso só acontecerá se, individualmente, as pessoas acharem que tal é necessário e se estiverem dispostas a se organizarem para fazerem valer a sua vontade. É neste campo que começam as dificuldades. Construir uma alternativa ideológica à mensagem dominadora é um pequeno passo, com efeito a longo prazo apenas, mas é a base para o resto. Para ilustrar a ideia, imagine-se que na próxima eleição autárquica só poderiam votar homens. É algo impensável agora mas foi uma realidade até há 43 anos. Uma ideia simples, a de igualdade entre géneros, que teve que percorrer um longo caminho, esteve na base desta profunda transformação.
Este post já vai longo e muito mais haveria para escrever, começando desde logo pelas mudanças no plano individual. Fica para uma próxima ocasião. Para já, fica registado que uma enorme fortuna foi roubada aos portugueses e que estes não reclamaram por isso. Para isto ter acontecido, algo de muito errado existe na nossa sociedade.
Não se evapora. Muda de bolso.
Já é tempo de o eleitorado perceber que votar é entregar a alguém um cheque em branco.
Como o Primeiro Ministro vai mandar preencher o cheque só depende da sua vontade de sobrevivência como PM e dos interesses do seu partido.
Jorge, esses números são teus? É que 13 mil milhões dá para 34 anos de RSI, não para 1.
E é o que está no post. 34 anos de RSI e um hospital.
Melhorei a legenda – talvez induzisse em engano.
Pois, o Estado já gastou essa pequena fortuna com bancos, e penso que não ficará por aqui.
O nível de imparidades é aterrador. Só que anda lá dentro é que sabe, e eles não nos dizem porque até estão amedrontados com eles próprios. Ou melhor, dizem só em surdina. Negócios ruinosos, em especial no imobiliário, essa roleta americana, a especulação, que até há bem pouco tempo fazia as delícias de não sei quantos patos bravos, com o dinheiro fácil da classe média e até das classes mais baixas, com aqueles juros baixissimos, para enganar o freguês, aos clubes de futebol, e, vejam lá, os grupos empresariais detentores de meios de comunicação social. Alguém já se questionou como é possível os jornais deverem tanto à banca e ainda assim não falirem?
Investimentos super ruinosos, que nos fazem perguntar como foi possível, ninguém dar por nada?
É simples. Eles sabiam e sempre acreditaram que não seriam os únicos a perder, se é que perderam alguma coisa? O Senhor Joe Berardo já ficou sem a coleção de arte? Já teve de vender a Quinta da Bacalhoa?
Todos eles sabiam que o calote seria pago por todos. O problema deste país após o resgate, foi mais uma espécie de passa culpas, orientado de forma cirúrgica, em que ninguém queria contar-nos a verdade, empurrando o ónus da irresponsabilidade sempre para cima dos mesmos.
Salvar bancos? E eu a pensar que era tudo álcool e mulheres…
E não sobrou mesmo um bocadinho para “fazer-lhes” uma cadeia novinha em folha? É que coitadinhos são tantos os que já estão presos e em tão más condições…feli(z)mente que eram bancos privados, olha se eram públicos!