Deus morreu, Marx também e o Benfica não se sente muito bem, diria Woody Allen, se fosse benfiquista e não hipocondríaco. O atropelamento sofrido pelo clube da Luz em Basileia deixou sequelas e o facto de Rui Vitória ter interrompido inopinadamente uma conferência de imprensa pode ser uma manifestação dessa dor, porque, na verdade, é difícil articular quando se está magoado.
Sendo eu benfiquista, ou por ser benfiquista, como qualquer adepto de qualquer clube, tenho sempre a secreta esperança de que amanhã tudo pode melhorar e lembro-me de derrotas copiosas que até acabaram em campeonatos. Enfim, a esperança é a última a morrer, enquanto for matematicamente possível, não podemos baixar os braços e temos de levantar a cabeça.
Mas há quem esteja pior do que o Benfica. Se a dor de Basileia ainda está presente, a verdade é que ainda é possível sentir o cheiro a tetracampeão, entre outros odores vitoriosos e, lá está, nunca se sabe se o primeiro milho será de outros animais da selva, podendo a águia vir a debicar o quinto campeonato seguido.
Há, dizia eu, quem esteja pior do que o Benfica. A ortografia, em Portugal, é um dos exemplos. Desde que uma pequena clique maquiavélica e deslumbrada impôs o chamado acordo ortográfico (AO90) a um país inteiro, deixou de haver ortografia e nasceu o caos gráfico. Sim, há escrita, mas há cada vez menos regras, ou seja, a ortografia vai definhando.
Sem querer desculpar completamente quem escreve, a verdade é que, diante de um instrumento tão deficiente, confuso e gerador de confusões, há profissionais da escrita que não sabem o que hão-de fazer a algumas consoantes, o que os leva, à cautela, a fazê-las cair, porque a força da gravidade é demasiado poderosa, não a descoberta por Newton, mas a inventada por Malaca Casteleiro.
A página em que ficamos a saber que Rui Vitória interrompeu “abrutamente” uma conferência de imprensa já foi lida e partilhada por milhares de pessoas, o que (se) transformará “abruptamente” num erro.
Há vários factores que podem e devem ser analisados, face a este disparate, mas há uma pergunta que qualquer pessoa séria deve fazer: erros destes existiam antes da imposição do AO90? A mesma pessoa séria não deveria limitar-se a responder que isso também aconteceu com ortografias anteriores.
Termino com uma adivinha: qual é a diferença entre o Benfica e o AO90? Para o Benfica, ainda há esperança.
E qual é a semelhança? Fazem os dois parte do sistema por muito mal que façam.
Mas sim, o AO é uma desgraça, ninguém o segue, ao menos. 😛
Infelizmente, a “m***a” vai-se espalhando, deixando o seu cheiro nauseabundo. Ainda ontem, no canal TVC1 (que pertence à NOS) num trailer a anunciar um filme que vai estrear no cienma, se podia ler “baseado em FATOS reais”.
Assim mesmo: FATOS. E não têm desaculpa de ser uma tradução mal feita, porque se tratava de um “trailer”, não de legendas. Será que esta gente andou na escola?
Mas enfim, “fatos” e “contatos” no DR são a esmo, por isso…
Obviamente, ante do AO90 estas questões não se colocavam, e ninguém teria dúvidas sobre como se escreviam estas e outras palavras – até porque cada palavra só admitia UMA grafia.
Estas pulémicas ortorgráficas são desencandeadas pela falta de cuidado dos jurnalistas. Por esemplo se este tivesse escripto, em vez de “abrutamente”, “à trolha” o fato não teria registrado estas porporções de veras lamentaveis.
Se era para ter piada, pela minha parte foi um acto complatamente falhado.
Por outro lado, não aceito “faltas de cuidado” num profissional.
Era o mesmo que um polícia andasse com a arma carregada e sem patilha de segurança, a sacasse e. por “falta de cuidado” alvejasse alguém.
Pesso desculpa, mas “complatamente”, não asseito. E tamém não entendi eça rabola do pulícia. Pra qué cum pulícia quer uma arma? Nã me diga quaqui à putenciais bãodidos?
Creio que a solução está em tomar o poder pela força e recomeçar a escrever como deve ser. Eu assim o farei… Vou retornar ao antes do AO.