A evasão fiscal de Isabel II, a Caloteira

O mundo ficou por estes dias a conhecer um novo conjunto de papéis, 13 milhões de conjuntos, para ser mais preciso, sobre malta empreendedora que faz uso dos chamados paraísos fiscais para levar o seu dinheiro de férias e evitar a maçada dos impostos.

Entre as vítimas deste violento atentado à privacidade contam-se antigos e actuais colaboradores de Donald Trump e Justin Trudeau, oligarcas ligados a Putin, gente simpática da Líbia, da Rússia e do Irão, que chumbou em auditorias governamentais que colocam em causa os seus procedimentos de prevenção de branqueamento de capitais, tipos que faziam negócios de armamento com o saudoso Saddam e mais uma série de indivíduos recomendáveis onde se incluem fundos de capital de risco e bancos, que como sabemos é malta que prima pela transparência e pelas melhores práticas. 

Mas há mais. Entre os muitos empreendedores, traficantes de armas e droga e vedetas do desporto e do showbiz, que habitualmente se movem nestes meios caribenhos, os Paradise Papers contam uma presença muito especial: Sua Majestade, a rainha Isabel II. Segundo informações reveladas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, a monarca investiu num fundo sediado num dos offshores do qual é proprietária, as Ilhas Caimão, tendo esse fundo, por sua vez, investido num outro fundo que controla a BrightHouse, uma locadora muito criticada por especialistas e deputados britânicos devido a práticas usurárias.

Um porta-voz de Sua Majestade veio já a público explicar que Isabel II não estava ciente deste investimento, acrescentando ainda que a “rainha paga voluntariamente impostos sobre os rendimentos obtidos do ducado e dos seus investimentos“, como se isso fosse algo que os britânicos tivessem que agradecer e não uma obrigação ética e moral da senhora.  Se assim fosse, se fosse verdadeiramente voluntário, que não é, o dinheiro não teria que viajar até às Caraíbas para ser investido onde os impostos a pagar são mais baixos.

Já eu, plebeu esquerdalho avesso a estes esquemas trapaceiros, acho que Sua Majestade devia ir pentear macacos e pagar os seus impostos sem esquemas ou subterfúgios, como faz a esmagadora maioria dos seus súbditos, em vez de o fazer em colónias manhosas, com sistemas financeiros desenhados para que o 1%, do qual faz parte, possa fugir aos impostos, sentada no balcão ao lado do traficante que lava dinheiro e do ditador que armazena o fruto da extorsão imposta ao seu povo. Na impossibilidade de se demitir e afastar da vida política, um pedido de desculpas ficava-lhe bem.

E portugueses no meio deste esquema, há algum? Claro que sim. Até ao momento, estão identificados 70 habilidosos, dos quais 17 são antigos administradores e accionistas do Grupo Espírito Santo, e cinco do saudoso BPN. Gente recomendável, como podem imaginar. Não há é registo de qualquer jornalista avençado, pelo menos até ao momento. Haverá por lá algum saco azul do GES?

Comments

  1. Jose Oliveira says:

    Pois, a gente já sabe como funcionam estes esquemas de fugas mais ou menos (i)legais aos impostos. Mas para vermos um pouco melhor, segue um resumo de uma recente cimeira europeia sobre paraísos fiscais (PF):
    . Sim, vamos elaborar uma lista negra dos PF.
    . Boa, vamos lá. Mas calma. É chato incluir os PF da Europa. Temos de deixá-los de fora.
    – OK, Mas temos de pensar no caso da Suíça. Eles até têm colaborado connosco. Portanto não os vamos incluir, tá?
    – Tudo bem, mas a verdade é que as Ilhas Virgens tb têm prestado alguma informação. É assim chato metê-las na lista negra.
    – Pronto, tb ficam de fora, mas as Ilhas Cayman igualmente costumam dar-nos informações…

    Mais palavras para quê?
    São artistas internacionais acima de qualquer suspeita…
    Não esbanjámos…. Não pagamos!!!!

  2. joão lopes says:

    a mulher não sabia(bem The queen is dead,como diziam os outros),o bono não sabia,o russo não sabia,tambem o da arabia do petroleo não sabia,o ronaldo não sabia,ate o mourinho não sabia…e quem é que sabia(segundo o glorioso CM) e é o unico culpado de tudo(dps da sardinha):o golfinho pois claro(na verdade foram avistados milhares com sacas de sarapilheira ,com muito guito às costas…a caminho do panamá).

  3. Isto são TROCOS!

  4. Victor Nogueira says:

    Leio: ““rainha paga voluntariamente impostos sobre os rendimentos obtidos do ducado e dos seus investimentos“, “. Voluntariamente? Se a memória me não falha a Casa Real Britânica foi forçada a pagar impostos há uns largos anos, 1993, creio que por decisão do Parlamento. A fortuna de Isabel II há 3 anos era avaliada em cerca de 534 milhões de US$, o que não incluirá o espalhado em off-shores.

    • Rui Naldinho says:

      É claro que ninguém de bom senso pode desculpar esta falha grave de Isabel II, apanhada a por a massa num off shore.
      Mas, apesar de tudo, para mim ela tem uma atenuante de peso, o que não a iliba da condenação pública, mas diminui-lhe o números de anos de reprovação social. O facto de ser monarca há mais de sessenta e cinco anos. Isso em Presidentes da República, num país como o nosso, a dois mandatos, daria no mínimo 7 titulares no cargo. Some as mordomias deles todos e verá que a Senhora nem fica demasiado cara, ao erário público britânico.
      Bem pior seria os britânicos terem de alimentar o “panhonha” do filho Carlos, o príncipe de Gales, um verdadeiro Rei das Berlengas.

  5. Mas é proibido pôr dinheiro em off shores? O governo vai fechar o da Madeira? O governo inglês vai fechar o de Jersey? O de Gibraltar? Estamos a falar de fuga aos impostos ou estamos a falar de rendimentos colocados nos bancos offshore? Se é ilegal, feche-se. (que é imoral já eu sei.)

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