Postcards from Greece #40 (Néoi Epivátes)

‘It’s a different kind of happy…’

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Estive muito tempo sem escrever postais, o Natal e isso e o facto de não ter sempre histórias para contar e, por incrível que pareça a quem me conhece, não ter sempre alguma coisa a dizer. De qualquer maneira o postal número 39 foi há imensos dias e hoje é um dia tão bom para escrever o postal 40 (que, na verdade deveria ser o 59) como qualquer outro. Foi bom reencontrar Salónica onde a deixei, seja como for, ontem, após uma viagem cansativa, como quase todas. A única coisa de que não gosto muito quando viajo é da deslocação de um lugar para o outro. Já o disse de outras vezes, noutros postais de outras viagens, que deveríamos ter acesso ao tele-transporte, a uma lâmpada de Aladino, a um anel especial ou um botão em que carregaríamos quando nos apetecesse mudar de ares ou quando tivéssemos de visitar outras paragens. Perde-se muito tempo entre aviões, comboios, táxis autocarros. E, na maior parte dos casos, é isso mesmo que sentimos: que perdemos tempo.

Seja como for Salónica estava à minha espera. O pequeno apartamento na Agios Nikolaos estava limpo, perfumado e aconchegante e as minhas coisas estavam na mesma no armário. À minha espera. A sensação foi a mesma de quando regresso à minha própria casa. Tranquilidade, silêncio e aconchego. Pode parecer estranho, dado que esta não é a minha casa senão muito temporariamente, mas a sensação foi tal e qual esta. E felicidade. Um tipo diferente de felicidade.
A mesma coisa me disse hoje em Néoi Epivátes, não muito longe de Salónica, a mulher que entrevistei. Mal cheguei tinha a entrevista marcada pela minha colega para o dia seguinte, ou seja, hoje. E lá fomos nós esta tarde, rumo a Néoi Epivátes ao encontro de um casal que se mudou da cidade para o campo há poucos anos e que hoje vive da agricultura (ou melhor da micro-agricultura). Têm praticamente a minha idade e tinham praticamente a minha vida, antes de se mudarem. Eram felizes com essa vida. Hoje também são, responde-me a mulher quando lhe pergunto isso mesmo, se está contente com a vida que vive hoje, no campo. ‘It’s a different kind of happy’, é o que ela diz com um grande sorriso. Um sorriso de quem é feliz, ainda que de forma diferente do que era há uns anos. Um sorriso de quem trocou as ruas da cidade e a azáfama dos dias citadinos e da atividade citadina, por uma casa de madeira numa pequena colina, rodeada de gatos (sete pelo menos) e cães, e crianças, já agora. E verde a perder de vista e ao longe o golfo de Salónica, muito azul. À frente da casa, o terreno cultivado com micro-plantas (flores comestíveis, folhas de girassol bebé, rúcula bebé… enfim quase todos os vegetais que se lembrarem, mas muito jovens e tenros) preenche-lhe de cor os dias. O marido acrescenta que vê o nascer e o por do sol todos os dias como nunca os havia visto na cidade. ‘A different kind of happy’, portanto.
Está um dia glorioso, cheio de sol e com um céu absolutamente azul. As micro-plantas explodem em diferentes tonalidades de verde e em diferentes cores, principalmente, neste último caso, as flores. Parece primavera nos campos deles e nos sorrisos deles. A vida agora é mais dura, porque o trabalho é mais físico. Cansam-se agora de um cansaço diferente mas não se arrependeram nunca, desde que aqui chegaram, desse cansaço e desta vida onde a felicidade, diversa, também mora. Gostei muito de os entrevistar e saí de lá com a primavera dentro, a lembrar-me que há muitas maneiras de ser feliz. E muitas felicidades diferentes. O ano começou agora mesmo, vou ver se não me esqueço de me lembrar disto mais vezes.